sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal!

O texto é muito legal e eu reproduzo aqui.
O orginal está em Paróquia de Santo Afonso, o autor é Frei Betto.

A VOLTA DE JESUS

Sem chamar a atenção, Jesus voltou à Terra em dezembro de 2010. Veio na pessoa de um catador de material reciclável, morador de rua. Comia prato feito preparado por vendedores ambulantes ou sobras que, pelas portas do fundo, os restaurantes lhe ofereciam.
Andava sempre com uma pomba pousada no ombro direito. Na porta de um teatro, estranhou o modo como as pessoas bem vestidas o encaravam. Lembrou que, na Palestina do século 1, sua presença suscitava curiosidade em alguns e aversão em outros, como fariseus e saduceus.
Agora predominava a indiferença. Sentia-se, na cidade grande, um Ninguém. Um ser invisível.
Ao revirar latas de lixo à porta de uma faculdade, nenhum estudante ou professor o fitou. "Fosse eu um rato a remexer no lixo, as pessoas demonstrariam asco,” pensou. Agora, nada. Nem o percebiam. Ou consideravam absolutamente normal um homem andrajoso remexer o lixo.
Graças a seu olhar sobrenatural, capaz de apreender alma e mente das pessoas, Jesus sabia que eram, quase todas, cristãs...
Roubaram um carro defronte da faculdade. A vítima, uma estudante cirurgicamente embelezada, apontou-o como suspeito de cúmplice dos ladrões. A polícia, sem pistas dos criminosos, decidiu prendê-lo para aplacar a ira da moça, filha de um empresário.
O delegado inquiriu-o:
- Nome?
- Jesus.
- Jesus de quê?
- Do Pai e do Espírito Santo.
O delegado ditou ao escrivão:
- Jesus da Paz, natural do Espírito Santo.
A polícia conhece a diferença entre bandidos e moradores de rua. Tão logo a moça e seus pais deixaram a delegacia, Jesus foi liberado.
Saiu pela avenida, de olho nas vitrines das lojas. Todas repletas de enfeites de Natal. Tentou avistar um presépio, os reis magos, uma imagem do Menino Jesus... Viu apenas um velho de barba branca, gordo, com a cabeça coberta por um gorro tão vermelho quanto a roupa que vestia. O menino nascido em Belém havia sido substituído por Papai Noel. A festa religiosa cedera lugar ao consumismo compulsivo e à entrega compulsória de presentes.
Impressionou-se com os rápidos flashes coloridos dos televisores expostos nas lojas. A profusão de anúncios. Comentou com o Espírito Santo:
- Houvesse TV naquela época, teriam transmitido o Sermão da Montanha como um discurso subversivo e exibido no Fantástico a multiplicação dos pães. Se eu facilitasse, uma marca qualquer de cerveja iria querer me patrocinar...
Em busca de material reciclável, Jesus se surpreendeu com a quantidade e a variedade de lixo. Quanta coisa ele não conhecia! Como as pessoas consomem supérfluos! Quanta devastação da natureza!
Dormiu num banco de praça. Ao acordar, deu-se conta de que desaparecera seu saco repleto de latinhas e papéis. Possivelmente outro catador o levara. Pobre roubando pobre. Resignado, passou o dia revirando lixo para ganhar uns trocados e poder garantir a janta.
Tarde da noite, viu defronte de uma igreja. Decidiu entrar. Os fiéis, ao vê-lo tão maltrapilho, torceram o nariz. Jesus preferiu ficar de pé no fundo do templo. A Missa do Galo se iniciava. Achou o padre com cara triste, como se celebrasse um ritual mecânico. O sermão soou-lhe moralista. Não sentiu que houvesse, ali, a alegria da comemoração do nascimento de Deus feito homem. Os fiéis se mostravam apressados, ansiosos por retornarem às suas casas e se fartarem com a ceia natalina.
Terminada a missa, Jesus perambulou pela cidade. Pelas calçadas, sacos de lixo estufados de embalagens para presentes, caixas de papelão, ossos de frango e peru, cascas de ovos... Observou os moradores de um prédio reunidos no salão do andar térreo. Comiam vorazmente, estouravam garrafas de espumantes, trocavam presentes, abraços e beijos. Nada ali, nenhum símbolo, que lembrasse o significado originário daquela festa.
Passou diante de uma padaria que fechava as portas. O padeiro, ao ver o catador, pediu que esperasse. Retornou lá de dentro com uma sacola de pães, fatias de salame e um refrigerante.
- É pra você comemorar o Natal – disse o homem.
Jesus chegou a uma praça semiescura. Havia ali uma mulher excessivamente maquiada. Buscou um banco e ali se instalou para poder comer. A mulher se aproximou:
- Ei, cara, tem o que aí?
- Pão, salame e refrigerante.
- Não comi nada hoje. E a noite tá fraca. Faz duas horas que estou aqui e nada de freguês. Acho que em noite de Natal os caras ficam com culpa de pegar mulher na rua.
Jesus preparou o sanduíche e estendeu-o à mulher.
- Se não importa de beber no mesmo gargalo...
- Tenho lá nojo de alguma coisa? – murmurou a mulher.
- Se tivesse, não estaria rodando a bolsinha na rua.- Você não tem família?
- Tenho, lá na roça. Larguei aquela miséria pra tentar uma vida melhor aqui na cidade. Como não fui pra escola, o jeito é alugar meu corpo.
- Esta noite de Natal não significa nada pra você?
- Cara, você não imagina o que já chorei hoje lá na pensão. A gente era pobre, mas toda noite de Natal minha mãe matava um frango e, antes de comer, a família rezava um terço e cantava Noite feliz. Aquilo me deixava muito feliz. Não posso relembrar que as lágrimas logo inundam os olhos – disse ela, puxando o lenço de dentro da bolsa.
A mulher fez uma pausa para enxugar as lágrimas e indagou:
- Acha que, se Jesus voltasse hoje, esse mundo iria melhorar?
- Não sei... O que você acha?
- Acho que ninguém ia dar importância a ele. Essa gente só quer saber de festa, e não de fé. Mas bem que ele podia voltar. Quem sabe esse mundo arrevesado tomava jeito.
- Eu não gostaria que ele voltasse. Não adiantaria nada. Há dois mil anos ele veio e deixou seus ensinamentos. Uns seguem, outros não. Se o mundo está desse jeito, a ponto de eu ter que catar lixo e você alugar o corpo, a culpa é nossa, que não damos importância ao que ele ensinou. Veja, hoje é noite de Natal. Jesus renasce para quem?
- No meu coração, ele renasce todos os dias. Gosto muito de orar, não faço mal a ninguém, ajudo a quem posso. Mas, sabe de uma coisa? Eu gostaria de poder falar com Jesus, assim como nós dois estamos conversando aqui.
- E o que diria a ele?
- Bem, eu perguntaria se ser prostituta é pecado. Já vi um padre dizer que sim, e ouvi outro falar que não. O que você acha?
- Acho que Deus é mais mãe do que pai. E lembro que Jesus disse um dia aos fariseus que as prostitutas iriam entrar no céu primeiro que eles.


Frei BettoEstudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Frade dominicano e escritor, ganhou em 1982 o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Soletrando do Huck de novo...

Na verdade, soletrar as palavras em português não é muito difícil, porque praticamente escrevemos como falamos. Difícil de soletrar é o inglês (a pronúncia das palavras é muito diferente da escrita). A palavra que Luciano Huck erra nem é tão difícil assim de pronunciar.



Não considero que o quadro seja uma farsa. Quem montou o vídeo é que colocou o título.

domingo, 4 de dezembro de 2011

E meu time, o Cruzeiro, se manteve na 1ª Divisão

O Cruzeiro se livrou da 2ª Divisão, mas o campeão brasileiro é o Corínthians. Não tenho nada para comemorar O Corínthians foi campeão em 1998 em cima do meu Cruzeiro. Os atleticanos fizeram a maior festa. Nunca se vendeu tanta camisa do Corínthians aqui em BH como naquele ano. Em 1999, adivinha quem estava na final, contra o mesmo Corínthians? O Atlético. Perdeu também. Os cruzeirenses comemoraram, mas a venda de camisas corinthianas se manteve na faixa de sempre (os cruzeirenses não compram camisas de times que ganham campeonatos em cima do rival). Uma pena que estes dois títulos não vieram parar em Minas. Agora o Corínthians acumula cinco conquistas. Isto, só o Corínthians, heim? Mais que o dobro de títulos dos rivais mineiros juntos. A briga nas minasgerais torna o futebol mineiro ridículo em comparação com os outros estados. Hoje, MG tem 3 títulos porque a Taça Brasil de 1966 foi considerada o Campeonato Brasileiro da época e dá 2 títulos para o Cruzeiro e 1 para o Atlético. MG está em quarto lugar, atrás de RS, que tem 5 títulos. SP tem 28 títulos, RJ, 14, RS, 5, MG, 3, BA, PR, 2 e PE, 1. Levaremos no mínimo 2 anos para nos igualar ao RS, desde que eles não ganhem e claro, desde que um dos mineiros seja campeão em 2012 e 2013. Torci muito para o América se manter na 1ª Divisão, mas não foi possível. Torci muito para o BOA na Série B. E para o Tupi, de Juiz de Fora, que foi campeão da Série D e está na Série C do ano que vem.
Torço para que os times mineiros cresçam e conquistem o máximo possível de títulos. Claro que não torço para o Atlético ganhar títulos, mas ficar em evidência nos campeonatos, sim, pois valoriza as conquistas cruzeirenses  Mas, não torço de véspera. Sempre, desde que acompanho futebol, aprendi que torcer e comemorar é durante e depois do jogo. Também aprendi que gozações aos adversários devem ser depois dos jogos. Me perguntavam qual seria o resultado do jogo hoje, eu respondia, clássico é clássico, qualquer resultado será possível. Mas, uma goleada de 6x1 nem o mais otimista dos cruzeirenses acreditava. E analiso as coisas com prudência, sem fanatismo. Eu disse ao meu colega Geraldo, atleticano, semanas atrás, quando os dois times ainda corriam o risco de cair:
- Geraldo, muitos cruzeirenses estão comemorando a derrota do Atlético, que precisa só de um ponto para escapar. Pois eu acho que, se os dois chegarem no último jogo precisando se salvar, vai ser pior ainda para o meu Cruzeiro. Se o Atlético se  livrar antes do rebaixamento e o Cruzeiro depender de vitória no último jogo, melhor para nós. O Cruzeiro entra no último jogo dando o sangue pela vitória e o Atlético, livre do rebaixamento, joga tranquilo, tentando derrubar o Cruzeiro, mas, tranquilão, porque já escapou da Série B.

Pois é, o Mãe Dinah aqui acertou. O Atlético se livrou do rebaixamento domingo passado e o Cruzeiro não. Hoje, era um jogo de vida e morte para o Cruzeiro, mas para o Atlético não! Poucos se dão conta deste fato. Os atleticanos, então, preferem dizer que o jogo foi vendido. Essa é a desculpa mais utilizada pelos atleticanos quando perdem jogos ou campeonatos. Em 1977 (eu era um rapazinho ainda), após a conquista do Campeonato Mineiro, os atleticanos disseram que o goleiro uruguaio Ortiz tinha se vendido e levado os 3 gols na final. Agora dizem a mesma coisa. O Atlético se vendeu de novo? Puxa vida, que time sem vergonha, heim? Deve ser o mais vendido da história!

Em 2012 vamos ver como se sairão os mineiros. Que os dois times tomem vergonha e façam mais, muito mais, do que lutar contra rebaixamento.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vá entender as mulheres...

Meu amigo me conta que a esposa dele viu a amiga recebendo flores e comentou:
- Que lindo! E você nunca me deu flores...
Meu amigo fica envergonhado. Espera passar umas duas semanas e chega em casa com um buquê de flores. E a esposa:
- Você, me trazendo flores!?!! Ah, espertinho, fala logo o que você andou aprontando...

Meu outro amigo chega nos locais e vai cumprimentando todos, com a devida atenção, até chegar à esposa. Ela reclama:
- Porque você me deixa por último?
- Por que as pessoas que eu cumprimento primeiro receberão atenção mínima de minha parte, uma vez que tenho que cumprimentar outras pessoas. Mas, a última, não havendo mais necessidade de rapidez, receberá toda minha atenção e desprendimento.
Ela não se convence. O cunhado do meu amigo chega, a primeira pessoa que ele cumprimenta é a esposa. Mas, ele não lhe dá a devida atenção, pois tem que cumprimentar as demais pessoas.
- Tá vendo? Ele cumprimentou a esposa primeiro...
Numa festa tempos depois, meu amigo foi direto à esposa, deu o tradicional beijinho e continuou a cumprimentar os demais conhecidos, inclusive parando para tomar uns copos de cerveja com um e outro. Ocorre que justamente nesta festa a última pessoa que cumprimentou foi uma moça que sabia Libras. Justamente porque ela sabia Libras ficaram conversando durante muito tempo, até o momento que ele voltou para conversar novamente com a esposa. E ela:
- Você tinha que ficar nesta conversação animada com a moça só porque ela sabe Libras, né?

- Onde você vai?
- Ali no bar tomar umas cervejas.
- Quem vai com você?
- A vizinha.
- O que???
- Nossa!! Fica fria, calma!! Já esqueceu que ela é a dona do boteco?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A porta do fim da vida

Quando nada mais existir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
nem o torpor do sono que se espalha
quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório...”

Eu estava barbudo e um tanto triste. Dias antes, conversei com meu amigo Antônio (conversamos até altas horas da madrugada) e falei sobre solidão e como a vida era complicada. Naquela tarde, saí sem dizer aonde ia, cansado de relembrar poesias. Deixei a poesia acima incompleta. Meu amigo Antônio então chegou e perguntou a minha mãe onde eu estava. Ela não sabia, eu não disse aonde iria. Antônio foi até o quarto e se deparou com a poesia. Ele lembrou da conversa de dias anteriores e associou minha tristeza à poesia. E pensou que eu estava escrevendo um bilhete de despedida usando uma das minhas poesias sombrias favoritas. Meu amigo ficou deveras preocupado e resolveu me procurar. Estava temeroso do que eu poderia fazer. O Antônio foi o primeiro amigo que aprendeu o alfabeto dos surdos e que me animou a enfrentar a surdez. A gente conversava muito e eu disse a ele que, como muitas pessoas que sofrem um grande revés na vida, já tinha pensado em suicídio. Meu amigo foi até a casa do Irineu, que morava na mesma rua, levando a poesia inacabada e disse:
- Temo que ele vá fazer alguma maluquice!
- Por causa dessa poesia aí?
- Você não está vendo? Está escrito “a arquitetar na sombra a despedida”... para bom entendedor, meia palavra basta.
- E aonde ele iria se suicidar?
- Sei lá! Acho que antes ele conversaria com algum amigo. Por isso que vim te procurar.
- Não vi ele hoje, não. Vamos procurar o Amaral então.
Os dois saíram e foram até a casa do Amaral. Formiga é uma cidade pequena, a casa do Amaral era um pouco mais longe, no bairro Engenho de Serra, mas em vinte minutos estavam lá. Ainda mais que meu amigo Antônio, preocupado, acabava gerando uma tensão maior. Os dois caminharam rápido e chegaram perguntando:
- O Jairo teve com você hoje, Amaral?
- Não. O que aconteceu?
Antônio repete toda a história, mostra a poesia inacabada e apoiado pelo Irineu, diz suspeitar que eu poderia fazer alguma loucura. Confabulam, perguntam-se onde eu poderia ter ido, com quem eu falaria antes de tomar uma decisão tão drástica. O Amaral lembrou do Evandro e os três saíram apressados. O Evandro morava no Bairro do Rosário, pouco depois do cemitério. Subiam a Rua do Rosário quando perceberam que o Evandro vinha descendo. Ele se espantou:
- Uai, que isso, todo mundo junto hoje? Só falta o Jairo.
- Não esteve com você? – perguntou o Antônio.
- Hoje não, por quê?
Mais uma vez o Antônio explicou o que temia. Mostrou a poesia inacabada, que o Evandro também levou a crer fosse uma forma dissimulada de despedir-se da vida. Ele perguntou
- Se vocês acham que ele vai cometer suicídio, porque vocês me procuraram?
- Achamos que antes de tentar qualquer coisa, ele vai conversar com alguém. No caso, um de nós, os amigos mais chegados.
- Essa teoria está meia furada... pois ele não esteve com nenhum de nós hoje. E se ele procurasse um familiar? – perguntou o Evandro.
Lembraram do meu primo e desceram a Rua do Rosário quase correndo. Antônio, Irineu, Amaral e Evandro especulavam também sobre algum outro amigo.
- Tem o Chiquinho, que apesar de ser um amigo mais recente, também é de boa conversa com ele.
- Vamos nos separar, então. – disse o Evandro, o mais prático da turma. – Amaral e Irineu passem na casa do Chiquinho e eu e o Antônio vamos até o primo do Jairo.
Dois foram para a casa do Chiquinho, no Engenho de Serra e dois para a casa do meu primo, no bairro Quinzinho. Praticamente já tinham circulado por quase toda a cidade de Formiga, preocupados comigo.
Meu primo nunca teve conversas sobre solidão, tristeza e amargura comigo. Por isso, caiu na gargalhada quando o Antônio explicou a razão de estarem me procurando.
- Deixa disso, gente! Meu primo não vai tentar suicídio coisa nenhuma!
- Ele esteve com você hoje? – perguntou o Antônio.
- Não, mas isso não tem nada a ver. Não acredito muito nesta sua tese, não.
- O problema é que ele sumiu, não encontramos ele na casa de ninguém. – repetiu a história das conversas amarguradas e mostrou a poesia.
Meu primo continuou achando graça de tudo aquilo. Mas, quando os dois estavam saindo, disse:
- Qualquer coisa, vocês me telefonam. – naqueles tempos, só existiam os telefones fixos.
Os dois saíram e logo encontraram o Amaral, Irineu e o Chiquinho, vindo em direção a eles.
- Nem precisa falar que não encontraram. E agora, gente? – o tom de voz do Antônio já era de desespero.
- Se ele vai tentar alguma coisa, o que ele vai usar? Arma ele não tem. – disse o Evandro.
- Cortar os pulsos? – perguntou o Irineu.
- Não creio! – respondeu o Evandro – Por conversas que tivemos, sei que ele não causaria ferimentos em si mesmo.
- Beber veneno? – sugeriu o Amaral.
- Teria que gastar dinheiro... – e riram todos.
- Saltar na frente de um carro, então! – sugeriu novamente, o Amaral.
- Conseguiria no máximo, ficar todo ralado. – respondeu o Evandro, atento – Os carros aqui em Formiga não transitam a mais de 60 km por hora.
- Pombas, então só se ele se jogar na frente do trem! – reclamou o Irineu.
O Antônio então deu um pulo:
- É isso! Lembro agora que ele sempre me fala que quando está em lugares altos pensa como seria cair dali.
- O que isso tem a ver com o trem? – perguntou o Chiquinho.
- Ele vai se jogar da ponte de ferro!

Ponte de Ferro - Formiga - MG

Os cinco saíram em desabalada carreira em direção à ponte de ferro, que fica próxima à Exposição Agropecuária de Formiga. Pareciam cinco maratonistas formiguenses. Começava a anoitecer quando chegaram à ponte. Perceberam que não havia nada, olharam as pedras lá embaixo, onde o rio serpenteava. Era uma ponte antiga, só permitia a passagem do trem. Uma pessoa podia passar caminhando pelo meio dos trilhos, mas era muito perigoso, não havia espaços laterais.
Irineu se arriscou a avançar um pouco pela ponte, tentando avistar melhor, mas estava anoitecendo e ele retrocedeu.
Preocupados, os cinco retornaram, quase que correndo, para o nosso bairro. Cada um falava uma coisa, tentando lembrar de lugares altos. Resolveram passar no bar perto da ponte do bairro Quinzinho, para tomar refrigerante. Todos com sede, cansados. Haviam feito uma verdadeira maratona pelas ruas de Formiga. Quando chegavam ao bar o Chiquinho berra:
- Olha o Jairo lá!!
Eu estava sentado numa mesa do bar, tomando uma cerveja tranquilamente, junto com o Rato. Vi, espantado, meus cinco amigos chegando juntos, todos me fitando.
- Tem alguma festa hoje que eu não tô sabendo? – perguntei, rindo.
- Você não ia se suicidar? – perguntou o Chiquinho, arrancando gargalhadas de todos, eu inclusive.
- Tô sabendo disso não, meu amigo! Que negócio é esse, Antônio? – perguntei, fitando meu amigo, que estava sério, o único que não riu da pergunta do Chiquinho.
- Você deixou uma poesia meio macabra lá no seu quarto... – respondeu ele, coçando a cabeça – Outro dia conversamos sobre a tristeza da vida, solidão... Você está com a barba por fazer... Estava meio triste... Não sei o que deu, pensei que a poesia era um bilhete de despedida.
Levantei-me e abracei meu amigo:
- Caramba, Antônio! Que imaginação! Fico emocionado com sua preocupação, mas essas idéias de suicídio foram há anos! Não passa pela minha cabeça morrer antes da hora não... Tava aqui tomando umas cervejas com o Rato, ele tá pensando em casamento. Deve ser o primeiro da turma a se enforcar.
Rimos todos, puxaram cadeiras, pediram cerveja e em volta da mesa fiquei sabendo de toda a história. Da correria deles por toda a cidade, procurando na casa de um e outro amigo, tentando adivinhar como eu me suicidaria. Eles explicaram que estavam preocupados sim. Se agora estavam todos rindo, a poucos minutos estavam tentando avistar meu corpo nas pedras do rio, abaixo da ponte de ferro.
- Vocês são incríveis! – eu disse, rindo – Aprontam cada uma!
- Você não pensou mesmo em suicídio, não? – perguntou o Evandro, sério, ainda meio preocupado.
- Não, colega! O Rato é testemunha que em nenhum momento a conversa foi sobre coisa tão triste. Falamos de casamento, mulher, a dificuldade que é entender as mulheres... e ainda assim querermos estar casados com elas.
E completei:
- Não tenho motivos para pensar em suicídio, amigos. Vocês são a melhor prova de que a vida tem muita coisa boa. Tendo amigos como vocês, vale a pena viver, surdo ou não.

lembra que afinal te resta a vida
com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
entrar no acaso e amar o transitório”

A Solidão e Sua Porta


Quando nada mais existir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
nem o torpor do sono que se espalha
quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório...
lembra que afinal te resta a vida
com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
entrar no acaso e amar o transitório
Carlos Pena Filho

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Piloto bêbado

Vejam o vídeo abaixo. O bêbado e o avião equilibrista.


Na verdade é um piloto profissional da Delta Airlines. Seu ato em shows aéreos é fingir que é um espectador bêbado, que surge das arquibancadas e pega um Piper Cub e sai voando sem conhecer nada de pilotagem.
O avião é construído de forma a suportar o arraste das asas, tem um motor superpotente e o piloto, claro, é extremamente habilidoso.
No final ele deixa o avião de forma espetacular.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ah, esse nosso português!

A garota mineira perdeu a disputa regional do quadro Soletrando, devido a uma particularidade do nosso português. Quando mandaram que soletrasse "esfoliação", ela soletrou desta forma, com "s" antes do "f". No entanto, a banca organizadora considerou que ela errou, afirmando que ela deveria ter soletrado com "x" e não "s". Lendo a notícia por alto, eu estava me perguntando onde foi que a menina errou, já que conheço a palavra esfoliação somente com "s", pois é desta forma que ela vem escrita nos cosméticos. Nunca tinha visto/lido esfoliação com "x". A reportagem confirma que as duas formas estão corretas e significam a mesma coisa.

Obs.: Justiça seja feita; os organizadores do Soletrando/Globo reconheceram que erraram e marcaram uma nova final.

Leia a reportagem clicando AQUI

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Decepção amorosa

- William, porque você terminou com a Patrícia?
- Não dava mesmo para continuar...
- Mas, ela foi a única menina que eu percebi que você realmente amou. Não foi um daqueles seus casos interesseiros, de paquerar, ganhar a menina e depois largar.
- Porque você diz isso?
- Somos amigos há anos, William. Sei muito bem quando você trata uma menina de forma diferente. Ainda mais a Patrícia, que era presbiteriana, séria prá caramba.
- Confesso que realmente, dela, eu gostei muito e esperava muito mais...
- Eu sei e até achava engraçado, você indo namorar todo arrumadinho, com roupa social.
- E você nem imagina, Jairo, que ela queria porque queria, me ensinar a comer com estilo.
- Estilo?
- Ela queria que eu usasse garfo e faca, colher, guardanapo. Uma vez eu até procurei aprender, mas você sabe, eu detesto este negócio de comer com estilo.
- Que estilo, meu amigo? Etiqueta.
- Que seja. Já bastava eu ter que ir namorar de roupa social. E nem pensar em tomar uma cervejinha. A única coisa boa é que de vez em quando ela servia um vinho dos bons.
- Essa é boa. E o que aconteceu para você se decepcionar com ela?
- Vou te contar... foi uma coisa muito estranha, porque foi na Igreja dela.
- O que a igreja tem a ver com isso, William.
- Ela conhecia o pastor da Igreja do bairro e sempre passava lá à tarde, para trocar umas idéias com o pastor. Ela ajudava ele nos cultos. Para você entender melhor, lembra que eu já te falei de um tal de Olavo?
- Sim, o ex-dela. Ex-noivo, se não me engano. Você me contou que um dia, quando foi buscá-la na faculdade, ela estava te esperando no carro dele. Dentro do carro dele. Você ficou uma fera, reclamou muito, mas ela disse que eram só amigos e que ele a ajudava com trabalhos da faculdade.
- Isso mesmo. Então, você vai entender... Quando chegamos na igreja, à tardinha, ela me mostrou as coisas da igreja e também uma urna. Eu perguntei para ela se a urna era para dar esmola. Ela reclamou, dizendo que não era esmola que falava e sim dízimo. E que aquela urna não era para isso, era para os pedidos de oração. Pegou um envelope, me mostrou e disse. Escreva o seu pedido de oração e coloque na urna. Eu disse que não tinha nada para pedir. Falei para ela escrever sem problemas, eu não tinha nada para pedir mesmo e nem sabia como escrever pedido de oração. Ela me explicou como era, pedia oração sem colocar o nome de ninguém, o que valia era o pedido. Ela insistiu para eu escrever. Ela escreveu alguma coisa rapidamente, colocou no envelope, depois na urna e ficou esperando que eu escrevesse algo. Enquanto eu estava pensando no que escrever, o pastor chamou a Patrícia. Eles sumiram lá para o interior da igreja e eu fiquei olhando o envelope dela na urna. Era uma urna transparente e eu percebi que a tampa era só de pressão.
- Meu amigo!!! Não me diga que você...
- Ah, Jairo, eu fiquei curioso de saber o que ela escreveu e a tampa da urna era fácil de levantar... abri a urna, peguei o envelope dela, joguei o meu lá dentro e tampei a urna de novo. Se a Patrícia voltasse era só jogar o envelope dela na urna, como se fosse o meu.
- Bom, o mal já estava feito... o que ela escreveu?
- Você não vai acreditar... ela pedia orações para os pais. E pedia que o ex-noivo voltasse, que eles reatassem o noivado, casassem e fossem felizes.
- PQP! Você tá de brincadeira!
- Eu não podia ficar com o papel, porque ela estava voltando junto com o pastor e eu coloquei o envelope de volta na urna. Mas, a decepção que eu senti ao ler aquilo, Jairo! Fiquei com vontade de xingar a Patrícia, mandar ela para... mas o pastor veio junto, me cumprimentou educadamente, desejou que eu comparecesse no culto daquela noite.
- Você tá falando sério, William? Ela escreveu isso mesmo? Não era o envelope de outra pessoa?
- Jairo, não tem como eu esquecer o que eu li. E não tem como ser de outra pessoa... eu te disse que a urna era transparente... peguei o envelope DELA, com a letra DELA.
- Por essa eu não esperava... não mesmo!
- Daí em diante, quando ela me ligava eu dizia que estava ocupado. E uma semana depois, após eu recusar encontrá-la mais de cinco vezes, terminamos tudo por telefone mesmo.
- Tenho que concordar com você... foi a melhor coisa a fazer mesmo. Mas, eu não esperava isso da Patrícia.! Parecia ser uma garota cem por cento! E eu sei o quanto você foi apaixonado por ela.
- E o quanto me magoei com isso. Tanto que não quis saber de namorar sério mais. Ela estava me usando para fazer ciúmes no ex-noivo. O tempo todo.
- Você já se encontrou com ela depois disso?
- Não. Se encontrar, vou perguntar: Deus já te ajudou a casar com o seu ex?
Nós dois rimos e fomos tomar uma cerveja.

"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já..." Pablo Neruda

Os nomes foram alterados por motivos óbvios.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

E o Brasil fica em 3° no Pan

Sempre foi muito difícil para o Brasil a conquista de medalhas. Quando um atleta ganhava alguma medalha, era uma choradeira só. Hoje, muitos apenas se emocionam, estão confiantes, não passam tanto sufoco para ganhar uma medalha como antes. Com o incentivo ao esporte, passamos a conquistar medalhas em muitas modalidades. O Brasil ficava para trás, não superava nem a Argentina, nem o Canadá, ao contrário de hoje, que ficamos atrás de Cuba, principalmente por causa do atletismo. Os EUA sempre dominaram as olimpíadas, só perderam duas, a primeira, que foi na Argentina e deu Argentina e a décima primeira, que foi em Cuba e deu Cuba (Cuba ficou à frente por causa de mais medalhas de ouro. No geral, os EUA ficaram em primeiro).
Neste Pan perdemos umas medlhas de forma dramática. O futebol feminino estava com o ouro até os 30 minutos do segundo tempo e depois de perder alguns gols, leva um gol bobo. Não consegue marcar na prorrogação e nos penaltis, lá se foi a medlhinha de ouro. O futebol feminino é um sofrimento sem fim. Não ganhou um mundial até hoje, perdendo umas partidas (e finais) para os EUA de forma incrível. Os rapazes do remo perderam a medalha por segundos... após liderarem toda a prova. A distância para o segundo colocado, Cuba, era enorme e mesmo assim, no finalzinho, os cubanos levam ouro por segundos... por um bico de canoa. Inacreditável.
Mas é muito bom saber que cada vez mais estamos avançando em diversas modalidades esportivas.
Engraçado a birra da globo com o Pan, devido a exclusividade da Record. Não deu destaque a nenhum medalhista, não quis mostrar nenhuma imagem (a Record distribuía 3 minutos de resumo do dia, para todas as emissoras, mas a globo recusou utilizar estas imagens, pois seria obrigada a inserir um "imagens cedidas pela TV Record").
Encerrando com chave de ouro, o maratonista Solonei da Silva, ex-lixeiro, ganhou a medalha de ouro na maratona. Deve estar matando o Boris Casoy de raiva pois, "do alto de sua vassoura", mostrou que o fato de ser lixeiro o auxiliou no esporte (ele se profissionalizou apenas há dois anos). E dedicou a medalha a todos os coletores de lixo do Brasil.
O Brasil fica em terceiro por causa do critério de classificação, que valoriza as medalhas de ouro. No total geral, o Brasil ficou em segundo. Parabéns a todos os atletas brasileiros, que honraram nosso país.

Clique AQUI para ver o quadro de medalhas completo.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tenho orgulho de ser brasileiro

Os brasileiros acham que o mundo todo presta, menos o Brasil, realmente parece que é um vício falar mal do Brasil. Todo lugar tem seus pontos positivos e negativos, mas no exterior eles maximizam os positivos, enquanto no Brasil se maximizam os negativos. Aqui na Holanda, os resultados das eleições demoram horrores porque não há nada automatizado.
Só existe uma companhia telefônica e pasmem!: Se você ligar reclamando do serviço, corre o risco de ter seu telefone temporariamente desconectado.
Nos Estados Unidos e na Europa, ninguém tem o hábito de enrolar o sanduíche em um guardanapo - ou de lavar as mãos antes de comer. Nas padarias, feiras e açougues europeus, os atendentes recebem o dinheiro e com mesma mão suja entregam o pão ou a carne.
-Em Londres, existe um lugar famosíssimo que vende batatas fritas enroladas em folhas de jornal - e tem fila na porta.
-Na Europa, não-fumante é minoria. Se pedir mesa de não-fumante, o garçom ri na sua cara, porque não existe. Fumam até em elevador.
-Em Paris, os garçons são conhecidos por seu mau humor e grosseria e qualquer garçom de botequim no Brasil podia ir pra lá dar aulas de ‘Como conquistar o Cliente’.
-Você sabe como as grandes potências fazem para destruir um povo? Impõem suas crenças e cultura. Se você parar para observar, em todo filme dos EUA a bandeira nacional aparece, e geralmente na hora em que estamos emotivos..
-Vocês têm uma língua que, apesar de não se parecer quase nada com a língua portuguesa, é chamada de língua portuguesa, enquanto que as empresas de software a chamam de português brasileiro, porque não conseguem se comunicar com os seus usuários brasileiros através da língua Portuguesa. Os brasileiros são vitimas de vários crimes contra a pátria, crenças, cultura, língua, etc… Os brasileiros mais esclarecidos sabem que temos muitas razões para resgatar suas raízes culturais.

Os dados são da Antropos Consulting:
1. O Brasil é o país que tem tido maior sucesso no combate à AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem sendo exemplo mundial.
2. O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma.
3. Numa pesquisa envolvendo 50 cidades de diversos países, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais solidária.
4. Nas eleições de 2000, o sistema do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) estava informatizado em todas as regiões do Brasil, com resultados em menos de 24 horas depois do início das apurações. O modelo chamou a atenção de uma das maiores potências mundiais: os Estados Unidos, onde a apuração dos votos teve que ser refeita várias vezes, atrasando o resultado e colocando em xeque a credibilidade do processo.
5.. Mesmo sendo um país em desenvolvimento, os internautas brasileiros representam uma fatia de 40% do mercado na América Latina.
6. No Brasil, há 14 fábricas de veículos instaladas e outras 4 se instalando, enquanto alguns países vizinhos não possuem nenhuma.
7. Das crianças e adolescentes entre 7 a 14 anos, 97,3% estão estudando.
8. O mercado de telefones celulares do Brasil é o segundo do mundo, com 650 mil novas habilitações a cada mês.
9.Telefonia fixa, o país ocupa a quinta posição em número de linhas instaladas..
10. Das empresas brasileiras, 6.890 possuem certificado de qualidade ISO-9000, maior número entre os países em desenvolvimento. No México, são apenas 300 empresas e 265 na Argentina.
11. O Brasil é o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos.

Por que vocês têm esse vício de só falar mal do Brasil?

1. Por que não se orgulham em dizer que o mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50 mil títulos novos a cada ano?
2. Que têm o mais moderno sistema bancário do planeta?
3. Que suas agências de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios mundiais?
4. Por que não falam que são o país mais empreendedor do mundo e que mais de 70% dos brasileiros, pobres e ricos, dedicam considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários?
5. Por que não dizem que são hoje a terceira maior democracia do mundo?
6. Que apesar de todas as mazelas, o Congresso está punindo seus próprios membros, o que raramente ocorre em outros países ditos civilizados?
7. Por que não se lembram que o povo brasileiro é um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula e não mede esforços para atendê-los bem?

Por que não se orgulham de ser um povo que faz piada da própria desgraça e que enfrenta os desgostos sambando.

É! O Brasil é um país abençoado de fato.

Bendito este povo, que possui a magia de unir todas as raças, de todos os credos.

Bendito este povo, que sabe entender todos os sotaques.

Bendito este povo, que oferece todos os tipos de climas para contentar toda gente.

Bendita seja, querida pátria chamada

Brasil

A autoria do texto é creditada a uma holandesa ou a uma brasileira residente na Holanda. O texto é um spam positivo, perdeu sua autoria nos tantos repasses da internet. Mas, holandesa ou brasileira, quem escreveu o texto acertou no alvo: o brasileiro adora falar mal do seu próprio país. É um bom texto para resgatar a autoestima do brasileiro. Sempre gostei do meu país. Sempre tive orgulho de ser brasileiro. Hoje em dia estou mais orgulhoso ainda, porque o Brasil conquistou muitos avanços, políticos, esportivos e financeiros.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Vôlei feminino conquista medalha de ouro

O vôlei feminino sempre foi mais complicado. Enquanto os homens ou se consagravam facilmente ou perdiam numa boa, com as mulheres a história é diferente. Sem contar que nosso vôlei demorou a despontar no cenário mundial. Era quinto ou sexto, não conseguia nada melhor. Eu assisti a conquista da primeira medalha olímpica do vôlei feminino em 1996, bronze, porque o Brasil não conseguiu ir à final. Enfrentou Cuba na semifinal e perdeu no tie-break. (curiosamente nesta madrugada o Brasil ganhou a medalha de ouro no tie-break, contra Cuba). Naqueles anos, Ana Moser, Ana Paula, Fernanda Venturini, Márcia Fu, Vilma, Hilma e Leila eram as protagonistas. Eu conheci a jogadora Hilma, mineira, que era atleta do Minas Tênis Clube. Na época em que eu tinha a banca de revistas, as jogadoras do Minas Tênis Clube vieram disputar um jogo no clube perto da minha banca. E pararam para comentar a capa de alguma revista feminina. Das atletas, só reconheci a Hilma, a mais famosa, devido à seleção. Fiquei espantado com a altura de todas elas. Elas comentaram comigo alguma coisa da revista, eu disse que era surdo e foi justamente a Hilma que falou, mais devagar, com alguns sinais “deixa a gente ver uma reportagem da revista”. Bem que hoje eu teria coragem de perguntar como é a sensação de enfrentar as cubanas, que foram as maiores rivais do Brasil durante anos! As cubanas eram mestres em provocar as brasileiras, conseguindo desconcentrar as jogadoras mais “esquentadas”. Após um ponto, o normal é o jogador se voltar para sua equipe e comemorar. As cubanas, antes de se virarem, apontavam, faziam caretas ou encaravam e as brasileiras e riam. Atualmente, a rivalidade é só na quadra mesmo, não há mais aquele clima de guerra. As meninas do vôlei já me deram muitas alegrias e também uma tristeza enorme quando perderam a semifinal para a Rússia em Athenas, 2004. Eu e meu colega Elcio estávamos assistindo o jogo no trabalho e ficamos tão tristes que mal conseguimos voltar a trabalhar. O Brasil ganhava de 2x1 e no quarto set vencia por 24x19. Inacreditável, mas não conseguiu derrubar mais uma bola. A jogadora Mari foi considerada grande culpada da derrota, ela teve quatro chances de derrubar a bola e errou. Lembro do meu colega reclamando na hora:
- Mas, ela é ruim demais.
- Colega, ela não é ruim. O problema é que o time brasileiro não muda a jogada. Já são quatro bolas lançadas para ela ao invés de tentarem pelo meio.
Ele concordou comigo ao ver que o bloqueio russo ia direto para a ponteira.
Nessa madrugada o Brasil começou bem, ganhou fácil o primeiro set. Mas, o segundo foi das cubanas. O Brasil fez 1x0, Cuba empatou, o Brasil fez 2x1, Cuba empatou novamente. Tie-break de novo. Comecei a ficar apreensivo. As brasileiras costumam se descontrolar quando o jogo fica difícil. Foi assim no Grand Prix deste ano, perderam a final para os EUA, após terem vencido as norteamericanas com facilidade no decorrer da competição. O Brasil já tinha vencido Cuba durante este Pan por 3x1. Mas, o Brasil conseguiu alguns pontos de vantagem e fechou os 15 pontos após grande superação (finalzinho do vídeo). Foi nesse momento que eu me levantei, xingando, reclamando, quase pulando “dentro” da televisão. Já eram 02h40min da madrugada e não deu para gritar. O jeito foi pular e vibrar sem som. Aguardo a cerimônia de premiação, vejo a alegria das jogadoras, a emoção e o choro. Me emociono também. Fico muito feliz de ver a bandeira brasileira no lugar mais alto do pódio. Aliviado, vou dormir, que logo mais teria que acordar para trabalhar. Minha esposa acorda e reclama:
- Você estava pulando uma hora dessas?
- As meninas do Brasil ganharam a medalha de ouro!!
- Ah, não! Já são 3 h da madrugada!
- Foi difícil, mas ganhamos!
- Só você mesmo!!

Mundo acaba hoje, 21 de outubro

Grupo Cristão (evangélicos dos EUA) diz que o mundo acaba hoje.
Desculpem avisar encima da hora, mas vou correndo tomar a última Skol.

Você lê a reportagem clicando AQUI

Talvez ainda dê tempo de postar mais algumas coisas.
Gostei e vibrei muito com a vitória das meninas do vôlei nesta madrugada.
Li um texto exaltando o Brasil (ah, sim, não é de brasileiro, claro!)
Eu vou escrever sobre isso, mas...

Será que vai dar tempo?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Cuidando do marido morto...


Leio no SuperNotícia de hoje reportagem que me comoveu profundamente. É sobre uma mulher que ficou ao lado do marido morto por três dias. Ela dizia que o marido estava dormindo. A mulher é esquizofrênica e, como relata o sobrinho, o marido é quem cuidava dela e controlava a medicação. Como o marido morreu, ele supõe que a tia ficou sem tomar a medicação, piorando ainda mais sua esquizofrenia. Ela passou a cuidar do cadáver do marido, acreditando que ele estava apenas dormindo. Tanto que a polícia informa que encontrou o cadáver com roupas limpas, apesar de já estar em decomposição. É uma triste história, de como são as relações humanas, como os sentimentos se sobressaem sobre tanta coisa. Porque ela, apesar da doença, sabia que o marido cuidava dela. E quando ele morreu, o que ela fez? Ela passou a cuidar do cadáver acreditando que o marido estava apenas doente, que tinha desmaiado. Acompanhou a polícia e disse que o marido estava quase bom e que logo voltaria a viver normalmente.

Leia a reportagem clicando aqui.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Enquanto isso, na Coréia do Norte...

Não há muito trânsito e não tem semáforo. As guardas de trânsito nortecoreanas dão conta do recado.
Putz, mas deve ser cansativo prá caramba!!

sábado, 15 de outubro de 2011

Responsabilidade de quem mesmo? (2)

Continuando...
Ocorreu uma explosão num restaurante no Rio de Janeiro. Foi algo triste, pessoas morreram e outras estão internadas em estado grave. Mas, lá vamos nós novamente... Leio hoje, reportagem sobre o ocorrido e os familiares de uma das vítimas reclamando... adivinha de que? do descaso das autoridades, responsáveis pela fiscalização. Que absurdo! De acordo com a lei o local não poderia ter cilindros de gás e o restaurante tinha pelo menos oito. E pessoas reclamando contra a fiscalização municipal. Dizendo que o Rio estava voltado para Copa do Mundo, deixando seus cidadãos sem a fiscalização necessária. Quer dizer que no restaurante os funcionários não sabiam dos cilindros de gás? Ora, o dono de uma banca de jornal declarou que os próprios funcionários estavam preocupados com o cheiro de gás e que o cozinheiro tinha conhecimento do vazamento de gás. Ou seja, o pessoal do restaurante sabia que apesar da proibição eles utilizavam cilindros de gás. E o maior responsável pela tragédia é a prefeitura que não fiscalizava? O dono da banca de jornal, as lojas ao lado do restaurante, os funcionários do restaurante, os clientes que lá almoçavam, nenhum deles nunca pegou um telefone e fez uma denúncia anônima para a fiscalização, informando que o local comportava cilindros de gás. O dono do restaurante entrava com os cilindros de gás no local, mas a maioria considera isso apenas o “jeitinho brasileiro” e a responsabilidade pela descoberta desta infração cabia à fiscalização. Enquanto não acontecia nada, tudo bem, deixa pra lá. No momento que ocorre mortes, a grita geral é contra a fiscalização municipal e não contra o ato irregular do dono do restaurante. A manchete do jornal deveria ser: Por desrespeito à lei, explosão em restaurante deixa mortos e feridos.

Só mais um caso... um motoqueiro morreu após passar sobre um cabo de alta tensão da Cemig, que se rompeu devido à tempestade da última terça-feira. Não há uma explicação detalhada sobre o acidente com o motoqueiro. As informações são de que ele passou sobre o cabo, mas eu fiquei confuso, pois ele estava na moto e os pneus servem como isolantes. Acredito que ele passou ao lado e não sobre o cabo, ocorrendo então o contato do cabo com as partes metálicas da moto. Uma morte muito triste, horrível mesmo. Mas a manchete de um dos jornais diz sobre... a DEMORA da Cemig em atender aos chamados de emergência e associa a isto a causa do acidente. Ouve as pessoas indignadas que dizem que... a Cemig demorou mais de 2 horas para atender ao chamado. Uma senhora diz que tão logo viu o cabo rompido, passou a alertar as pessoas que por ali transitavam aos gritos e que ligou para a Cemig imediatamente. Mas que eles só apareceram mais de 2 horas depois. Longe de mim querer defender a Cemig, eles não precisam, têm os melhores advogados à disposição. Mas, convenhamos, a tempestade que caiu na tarde de terça-feira causou transtornos por toda região metropolitana com quedas de árvores, de fiação, de estouro de caixas transformadoras, etc, etc. A esposa do motoqueiro ainda pediu que ele não saísse, devido à tempestade. Mas, ele saiu assim mesmo. Não viu, ignorou, e infelizmente passou pelo cabo de alta tensão e morreu. E lá vamos nós com as responsabilidades divididas... foi culpa da Cemig. Deviam culpar também São Pedro, que mandou a forte tempestade que rompeu o cabo.

Respeite as leis e evite acidentes.
Respeite as placas de trânsito (pedestres e motoristas).
Não beba se for dirigir e não dirija se bebeu.
Economize água, energia, papel, etc. O planeta agradece.
Reclame menos e respeite mais as leis.
Não dê um “jeitinho” nas coisas. Siga as determinações específicas.


Responsabilidade de quem mesmo? (1)

Uma das coisas mais irritantes é a acusação de responsabilidade política em relação a acidentes causados pelos cidadãos.

Acho um absurdo as manchetes de jornais após algum acidente automobilístico: “Governo gasta milhões, mas rodovia continua matando”, “Mortes no Anel Rodoviário: infraestrutura da pista é problema do estado há mais de 30 anos”, “Caminhão colide na BR-381, mais duas mortes devido ao descaso das autoridades”. E nenhuma, nenhuma mesmo indignada com o desrespeito à velocidade máxima da pista. Motoristas que não dão a mínima para as placas, principalmente a que está lá: “Velocidade Máxima, 80 km”.
Ou ainda, o caminhão que vem trafegando na pista da esquerda e causa acidentes; está lá a placa: “Caminhões e ônibus: mantenham-se à direita”. E você lê as entrevistas dos familiares, reclamando que a pista não foi melhorada, que o acidente não teria acontecido se o estado trabalhasse para o alargamento da pista. A imprensa incutiu na população que o governo municipal, estadual ou federal é o maior responsável e quando ocorre alguma tragédia de trânsito as manchetes não incitam a população a respeitar as leis de trânsito e sim a fazer melhorias na pista. O motorista que vinha a 180 km por hora, o caminhão que estava em alta velocidade na pista da esquerda, o carro que mudou de pista sem dar seta, bom, eles estão mortos mesmo, então, acusa-se os governos. Você não lê cobranças sobre a pessoa atrás do volante, a maior responsável por causar acidentes.

O horário de verão atrapalha o nosso relógio biológico por algumas semanas. Depois a gente acostuma. Mas, sempre, todo ano, quando se aproxima o momento de adiantar o relógio em uma hora, começam a pipocar as reclamações. As pessoas não entendem que a natureza agradece, o horário de verão economiza e muito, energia elétrica. No entanto, outro dia li um cidadão reclamando contra o horário de verão e adivinhem quem ele responsabilizou por esta medida? Claro, o governo federal, que não investe na ampliação da oferta de energia elétrica. Fico indignado com uma coisa destas. O cidadão quer gastar energia à vontade e se o governo entra com uma medida para economizar, ele fica contra (ainda mais sendo um governo do PT). Vocifera contra o governo e contra a necessidade de economia. Não sabe que esta medida foi implantada há mais de 20 anos! Ainda diz que o governo do PSDB trabalhou melhor em relação à energia. Deve ser um garoto, novo demais, porque foi com o PSDB que tivemos o famoso apagão de energia. Sofremos racionamento de energia, tivemos limites de consumo, entre outros dissabores. Hoje, quando pedem para economizar, ninguém lembra disso. A primeira coisa que fazem é dizer “de novo a imposição do famigerado horário de verão, por incompetência deste governo”. Ah, sim, a mídia também aproveita para fazer reportagens, na maioria das vezes, contra.
São poucos os que mostram os benefícios deste horário, uma coisa simples, que é aproveitar a luz diurna para economizar. É a velha história do egoísmo: os outros que se danem, se querem economizar, que economizem, mas eu vou continuar reclamando. Lembro que ano passado resolvi levar um copo de vidro para meu trabalho. Minha esposa, curiosa, perguntou por que eu estava levando copo para o trabalho. Respondi que eu consumia, em média, 10 copos descartáveis por dia. Ela ironizou: não acredito, você está levando copo de vidro para ajudar seu empregador a economizar? Não, respondi, estou ajudando a natureza evitando o consumo sem necessidade de material descartável. Quando a gente pede outros colegas para levarem copo de vidro... ah, não, dizem, tem que ficar lavando o copo toda hora. O descartável é mais prático, a gente suja e joga fora. Ou seja, os outros que economizem... aí quando o governo baixa uma lei impondo economia de alguma coisa.. o cidadão descompromissado só reclama.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Dia das crianças atrasado...

Quando pequenos, meus filhos vez ou outra ficavam sozinhos comigo. Até os 2 anos era fácil entendê-los, devido ao vocabulário limitado. Praticamente eu sabia todas as palavras que eles poderiam dizer. Depois, com mais idade, amigos, primos, desenhos animados, tv, etc, etc, muitas vezes eu não entendia o que diziam. Uma característica comum aos dois, que têm quase quatro anos de diferença, é que aos 2/3 anos de idade, quando eu não entendia o que eles falavam, eles choravam.
- Eh, pai, você não está entendendo o que eu tô falando! - e começavam a chorar.
Ninja Jiraya

Mas, sempre lidei bem com eles, sabendo que nestas situações, o melhor é entretê-los com outra coisa. Claro que eu tentava os recursos mais lógicos, que era pedir para eles mostrarem o que queriam, dizer que podiam pegar o que queriam, por exemplo. Mas, às vezes isso não funcionava e eu procurava distraí-los, fazendo outra coisa, falando "vamos brincar disso ou daquilo".
E isso era fácil porque eu sempre brinquei com eles, com os carrinhos, com os bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco, do ninja Jiraya ou os jogos de videogame. Eu sabia que eles não tinham uma noção clara da minha surdez. Isto só ocorreu depois dos 4 anos e na idade escolar eles aprenderam o alfabeto dos surdos.
Costumava gravar os desenhos animados para eles, os seriados dos heróis que eles gostavam. Era bom quando chegava a hora de dormir. Punha um desenho para assistir e eles dormiam logo.

Uma vez, o menor pede:
- Pai, quero ver o bonequinho.
- Que bonequinho?
Falou um tanto de coisa, tudo enrolado, não entendi nada. Pensei que era brinquedo e falei:
- Pode pegar o bonequinho na sua caixa de brinquedos.
- Não, pai. É o bonequinho da tv.
Não tinha a mínima idéia de que bonequinho era esse. Entendi que era da tv e perguntei que horas ele assistiu isso, se de manhã, na hora do almoço, ou à tarde. Ele respondeu:
- Na hora que você colocou a fita para assistir.
Saquei que era gravação. Mas, não lembrava de ter gravado bonequinho nenhum. Fui chutando:
- Pica-pau, Michey, Pateta, Macaulay Culkin, Chaves...
- Não, pai, o bonequinho.
Não sabendo qual bonequinho era esse, resolvi mudar de tática:
- Vamos assistir esse do Pica-pau, vai aparecer o Pica-pau dirigindo um caminhão. Eu quero ver o caminhão de novo...
Ele sossega, sentamos e assistimos. Acaba o desenho do Pica-pau e começa outro. Meu filho aponta para o desenho:
- Alá, pai, o bonequinho!!
Nunca que eu iria adivinhar o que ele queria.
- Que bonequinho, menino! Esse aí é o GASPARZINHO!!

O mais velho gostava do Chaves. Quando morávamos no Bairro Água Branca, pegávamos muito o metrô. Ele gostava mais do metrô que dos ônibus. Já tinha 4 anos e estava na idade de assimilar o que via na tv e repetir. Entramos os três (eu, ele e minha esposa) no metrô, sentamos e ele começou a cantarolar alguma coisa. Ele olhou para trás e ao perceber que as pessoas o encaravam, soltou:
- Gentalha!!
Minha esposa segurou o riso e me explicou. O amigo do Chaves, Kiko, falava isso com aquele ar de superioridade.

No meu tempo os pais tinham muito mais autoridade com os filhos. Aprendiam por bem, ou por mal mesmo. Uma vez, ingenuamente, soltei um palavrão perto de minha mãe. Levei um tapa na boca:
- Se você repetir isso de novo você vai ver o que é bom para tosse.
Eu que não era bobo de querer saber que xarope era esse, nunca mais xinguei qualquer palavrão perto de minha mãe.
Minha mãe, ameaças de surras à parte, nunca espancou nenhum dos filhos. Deu palmadas, chineladas e na maioria das vezes, o tom de voz bravo era suficiente para a gente obedecer. Era algo simples, por exemplo, eu, com 8 anos, saindo às 21 horas, minha mãe brada:
- Onde você pensa que vai uma hora dessas?
Eu retornava caladinho... o tom de voz era suficiente para obedecê-la sem reclamar.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Desculpe, eu não escuto...

Na maioria das vezes, quando uma pessoa me pede uma informação, eu respondo de imediato:
- Desculpe, eu não escuto.
As reações são variadas, com a maioria preferindo deixar pra lá.
Eu almoço próximo a Praça da Estação e depois compro o jornal, sento num dos bancos da praça e leio até o término do horário de almoço. Alguns dos sem-teto que ficam pela praça vez ou outra me pedem dinheiro. Não dou, porque a maioria deles compra bebida com estes trocados. Muitas pessoas pedem informações e eu digo que não escuto.
Uma vez uma garota, 15/17 anos mais ou menos, perguntou:
- Onde tem uma agência de correio aqui perto?
- Desculpe, eu não escuto.
Ela me fitou e repetiu a pergunta, falando mais devagar. Eu peguei a palavra "correio" e automaticamente meu cérebro associou todas as palavras que ela disse e eu entendi a pergunta. Normalmente, confirmo:
- Correio?
- É.
- Na avenida Santos Dumont... não, não, esta é longe. Ali do outro lado da avenida, naquele prédio amarelo.
Ela agradeceu e eu sorri. Legal, ela não se intimidou e foi ao encontro da colega ou namorado. Eu até li nos lábios dela, ela falando ao telefone celular "já estou indo". Namorado marcar encontro em agência de correio é meio estranho, mas eu sou otimista em relação ao amor.
Há os que perguntam onde é rua tal, e pior é quando estou próximo de casa. Pensam que como estou caminhando no bairro, conheço as ruas. Muitos fazem uma expressão de desconfiança quando respondo o "desculpe, eu não escuto", porque para muitas pessoas continua a associação errônea de surdez com mudez. Há os que não se incomodam com minha resposta e mostram o papel com o endereço que procuram.
Certa vez um jovem de uns 30 anos perguntou alguma coisa que eu não entendi nada, porque ele já estava terminando de falar enquanto eu começava a fitá-lo.
- Desculpe, eu não escuto - eu disse, baixando o jornal.
Ele era simples, com um bigodinho de galã de cinema, com a expressão que denota ingenuidade. Estranhamente ele não se afastou e repetiu novamente (quando a pessoa vai repetir o que falou antes, eu me esforço ainda mais para entender alguma coisa).
- Tem um banco Itaú aqui perto?
Eu entendi e respondi:
- Lá na avenida Santos Dumont.
- Essa não serve. Eu fui lá, mas o moço falou que não pode ser lá. Que eu tenho que ir em outra agência.
Peguei alguma coisa do que ele disse. Uma vez que começa um diálogo é mais fácil entender o que vem a seguir. Se ele estava falando de banco, claro que a sequência da conversação seria banco, agência, caixa, etc, todas as palavras relativas a banco meu cérebro disponibiliza para compreensão da conversa. Igual quando perguntam algo do metrô, eu já estou preparado para palavras tipo nome das estações do metrõ mais próximas, onde está a entrada da estação, onde o metrô vai, etc, etc.
Achei estranho que o caixa do banco simplesmente o mandasse procurar outra agência:
- Se não te atendeu lá, em outra agência também não vai te atender.
- O moço do banco falou prá procurar esta agência aqui do papel - e me mostrou um papel com timbre do TRT, com o endereço da agência.
Dei uma rápida olhada no papel (eu leio rápido) e disse:
- Você tem que ir na agência da avenida João Pinheiro.
- Está longe?
- É uma boa caminhada, mas pegar ônibus não vai adiantar nada. Ônibus daqui para lá é mais complicado ainda. Suba a avenida Amazonas, peque a Afonso Pena e quando você estiver em frente ao Parque Municipal pergunte onde é a avenida João Pinheiro.
Ele me agradeceu, sorrindo e já estava indo quando eu resolvi chamá-lo.
- Rapaz! - ele se voltou e eu disse - Não mostre este papel para ninguém. Se você for pedir mais informações peça a um guarda municipal ou policial militar.
- Porque?
- Este seu papel aí está falando que você tem direito a uma indenização de mais de R$2.000,00. Portanto, só pergunte onde é a avenida João Pinheiro. Pessoas mal intencionadas podem te seguir e tentar te roubar.
Ele fez uma cara de espanto. Acho que nem sabia muito bem o que era indenização. Pelo pouco que li do papel, era uma indenização trabalhista.
- Muito obrigado, seu moço!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Das confusões por ser surdo

Onde trabalho atualmente quase todo mês estão mudando as faxineiras. Quando comecei a trabalhar não havia esse rodízio excessivo. Lembro que a faxineira do andar ficou mais de um ano trabalhando lá. Com o excesso de troca eis o que ocorreu recentemente. A faxineira sempre bate levemente na porta de entrada do banheiro, que tem um cubículo para o lavatório e dois banheiros, um à esquerda e outro à direita deste cubículo.
A porta para o cubículo central não tem trinco, pois é entrada para o lavatório. Somente os banheiros têm trincos. Claro que quando ela bate na porta os homens fecham a porta do banheiro em que estão ou simplesmente respondem que "tem gente". A última faxineira adentrou o banheiro umas quatro vezes e eu estava com a porta aberta e só fui fechar quando ela já estava no interior do cubículo central. Na quinta vez ela se sentiu incomodada e foi tirar satisfações com o responsável pelo setor de serviços gerais.
- Eu bato na porta e o rapaz não responde nada. E quando eu entro ele está lá fazendo xixi com a porta do banheiro aberta.
- Às vezes acontece, - responde o chefe, pacientemente, sem saber de quem ela estava falando - as pessoas não entendem que você está pedindo para que elas respondam à sua batida na porta.
A faxineira se irrita:
- Não, senhor! Este rapaz faz de propósito mesmo. Uma vez eu perguntei se tinha gente no banheiro e ele não respondeu nada. Quando eu entrei ele estava lá.
O chefe acabou curioso e perguntou:
- E quando você entra o que o rapaz faz?
- Ele empurra a porta do banheiro, assim quase fechando.
- Não falta o respeito com você?
- Não. Ele sempre quase fecha a porta. Uma vez ele estava saindo do banheiro e riu. Nunca falou nada comigo. Mas, eu acho uma falta de respeito não responder quando eu bato na porta ou quando eu pergunto se tem gente. Porque todo mundo responde, só ele não!
O chefe pensou que realmente era um caso para advertência, afinal a faxineira só pedia que o rapaz fosse educado e respondesse aos seus sinais.
- Quem é esse rapaz?
- Eu não sei o nome dele, não. Um rapaz de óculos, sério, que trabalha junto o A.
- Vamos lá falar com ele.
- Eu não quero falar nada com ele, não. O senhor só tem que chamar a atenção dele.
- Mas, você tem que me mostrar quem é ele. É uma coisa simples, não se preocupe. Você me mostra o rapaz e eu explico para ele o que está acontecendo. Você está certa, portanto ele tem que entender.
Quando chega no meu setor, a faxineira me aponta. O chefe me conhece, sabe que sou 100% surdo. Aponta para mim, solicitando confirmação, já com um riso largo no rosto:
- É ele?
- É ele sim, senhor. - responde a faxineira, meio temerosa.
Não tem jeito. O chefe de serviços gerais começa a rir alto. O pessoal do setor olha para o chefe e eu, é claro, olho para onde todo mundo está olhando, para saber o que está acontecendo. Ao ver o chefe de serviços gerais e a faxineira, praticamente já sei o que está acontecendo. Ao perceber todos olhando e o chefe rindo, a faxineira fica ainda mais tímida diante da situação. Ele explica a situação para o pessoal do meu setor; todos acabam rindo também. O chefe de serviços gerais praticamente a arrasta até onde estou e diz:
- Jairo, você conhece a M.?
- Sim, a faxineira aqui do nosso andar.
- Ela não te conhece. M, esse é o Jairo. Ele é surdo, entendeu?
E o chefe desata a rir novamente. A faxineira me fita completamente desconfiada, pensando que estavam brincando com ela. O A. se aproxima e explica para ela que eu não escuto, mas falo normalmente. Ela acaba concordando, mas provavelmente vai confirmar com outras pessoas ("aquele rapaz é surdo mesmo?"). Colegas já me disseram que uma ou outra pessoa pergunta isso, desconfiados, com cara de espanto.
:D

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Confiança na imprensa cai

Muitas vezes escrevo reclamando do que é publicado nos jornais impressos e da tv. Não é para menos. O que a rede globo manipula de notícias dá um livro! Os jornais e revistas também manipulam ao bel prazer as notícias. Se você pegar as manchetes de um mês dos jornais verá que uns 90% das manchetes são de notícias negativas. Os 10% se dividem em manchetes neutras e positivas. Os 5% de manchetes positivas são acrescidas de um "mas". Quem acompanha as notícias através da internet fica menos vulnerável às manipulações. O que eles publicam de manhã, se estiver manipulado, à tarde blogueiros independentes já esclareceram. Uma pena que a maioria leva gato por lebre. O que a imprensa publica é o que a maioria entende ser a notícia. Um exemplo recente: a polêmica sobre a CNJ e a investigação de juízes suspeitos. O jornal nacional fez uma reportagem razoável... razoável porque mostrou somente o lado do presidente do CNJ (que não quer aprofundar as investigações, infelizmente). Você pode assistir a reportagem clicando AQUI e verá que o jornal nacional não entrevistou o outro lado desta polêmica. A Juíza Eliana Calmon aparece em foto estática e nada mais. Porque não a entrevistaram? Porque ela é a Juíza que disse que há "gravíssimos problemas de infiltração de bandidos que estão escondidos atrás da toga". Infelizmente ao invés de apoiá-la, o ministro Cezar Peluso (presidente do CNJ e do STF) emitiu nota de repúdio. Quando esperava uma reportagem condenando a reação do ministro... a globo resolve dar a palavra a ele. Fátima Bernardes não faz nenhum comentário incisivo sobre a situação. Por essa e por outras é que o jornal é desacreditado constantemente. 
A pesquisa do Ibope Inteligência confirma: cada vez mais os brasileiros estão descrentes dos meios de comunicação.
Não é para menos. Apesar de muitas pessoas ainda acreditarem que a mídia é isenta, mais e mais esclarecimentos são divulgados, através de blogs, de notas governamentais (os mais atingidos pelas manipulações) e no boca-a-boca. Você deve ter visto no mês passado o maior alarde da imprensa sobre a volta da inflação devido à crise externa. Certo? Pois é... a mídia todo dia de setembro dizia que a inflação estava subindo. Pois hoje o globo online publica queda da inflação medida pelo IPC-Índice de Preços ao Consumidor. Clique AQUI para ler. Na notícia, infelizmente, você não lê algo do tipo: "houve um engano dos economistas (míriam leitão, p.e.) em relação à alta da inflação".
Por isso repito sempre: NÃO acredite em tudo que você lê ou vê nos meios de comunicação. Verifique mais de uma fonte, para ter certeza que a notícia não foi manipulada.
A pesquisa do Ibope Inteligência você lê clicando AQUI.
O gráfico que realmente interessa é o que eu reproduzo abaixo:
A confiança dos brasileiros nas instituições avaliadas;
PS: Eu escrevo globo e jornal nacional em minúsculas devido ao descrédito dos mesmos. Nada tenho contra a emissora, que exibe alguns bons programas (A Grande Família, filmes com cc) e foi a pioneira na inserção do closed caption. Minha revolta é contra a área jornalística da emissora, que não merece confiança.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ilusões de ótica

Há tempos estas imagens circulam na internet. Se procurar, encontramos muitas outras interessantes. Algumas que causam espanto:
1 - Os pontos pretos. Quantos pontos pretos é possível contar na figura abaixo?
Nenhum. Não há pontos pretos, por mais que seus olhos digam que sim.

2 - A bandeira do Brasil. Olhe o pontinho preto por 30 segundos e em seguida olhe para o quadro em branco.

3 - Os círculos que se movem em direções opostas. Focalize seu olhar no pontinho preto no centro do círculo... Agora movimente-se para frente e para trás... (ainda olhando para o pontinho).
4 - O que você está vendo? (Esta é muito legal mesmo!!) - 
Olhe fixamente nos 4 pontos pretos centrais.
Conte até 10.
Olha para a parede do seu ambiente e pisque os olhos várias vezes.
Quanto mais piscar, mais verá a face de Jesus.
5 - O que você vê no pote?
Bom, a maioria vê um casal. Mas, dentro do pote estão golfinhos!!
Dizem que as crianças respondem corretamente e afirmam ver golfinhos/peixinhos. Como elas ainda não têm imagens sexuais na memória, não conseguem visualizar o casal. Alguém aí se dispõe a testar isto com alguma criança?

Muito legal estas ilusões de ótica.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pena de morte

Não adiantaram os protestos pelo mundo, o pedido do Papa, o engajamento do ex-presidente Jimmy Carter contra e diversos protestos no próprio país. A Justiça da Geórgia e o Supremo Tribunal americano mantiveram a condenação de Troy Davis, que estava preso há 20 anos. O que mais me entristeceu em toda esta história foi que 7 das 9 testemunhas se retrataram e mudaram suas declarações. Alegaram ainda coerção policial. A acusação era de que Troy, negro, matou um policial, branco. Mesmo sem arma do crime, mesmo sem vestígios de pólvora na mão do acusado, mesmo com as testemunhas se retratando, a justiça não voltou atrás.
Leia a reportagem completa no Terra.
E ainda querem implantar pena de morte no Brasil? Os que não têm recursos financeiros e têm a pele um pouquinho mais escura, serão os candidatos à pena de morte e nunca os verdadeiros culpados. Aliás, o Brasil aplicava a pena de morte, extinta em 1876. Os condenados eram, em sua maioria, índios, piratas, traficantes, hereges e invasores franceses e anos depois, com o crescimento da escravidão, os negros. Escravos que reagissem a espancamentos não escapavam da morte, pois legítima defesa não valia para os escravos. Ainda que alguns europeus fossem condenados, isso era muito raro. Nos EUA, com o advento das novas tecnologias e exames, já comprovaram que mais de uma centena de inocentes foram condenados à pena de morte.
Sabe o que é mais incrível? Se você fizer uma pesquisa no Google sobre pessoas inocentes condenadas à morte nos EUA, como por exemplo, Cameron Todd Willingham, só vai encontrar referências em sites e blogs. Não há reportagens sobre este caso nos grandes jornais brasileiros. Ele foi acusado de ter provocado um incêndio que matou suas três filhas. Até o fim declarou-se inocente (os apenados têm direito a uma última declaração): "A única declaração que eu quero fazer é que eu sou um homem inocente que foi condenado por um crime que eu não cometi. Eu fui perseguido durante 12 anos por algo que eu não fiz." Cinco anos depois de sua execução, investigações mais austeras comprovoram que ele realmente era inocente.
Você não vê estes casos nos jornais e revistas brasileiros. Quando ocorreu a morte do garoto João Hélio, a mídia brasileira tentou de todas as formas discutir a necessidade da pena de morte no Brasil e acabar com o Estatuto da Criança e do Adolescente (o culpado da morte de João Hélio era menor de idade à época), Diversas vozes se levantaram a favor da pena de morte. A maioria levada pela comoção geral causada pela mídia. Mas, sobre os inocentes executados nos EUA, nenhuma palavra!
A pena de morte não é a solução. Já está mais do que comprovado que pessoas que entram para o crime, entram conscientes de que não têm nada a perder. Como exemplo, o próprio EUA, onde mesmo com a pena de morte os crimes continuam ocorrendo. O que se vê, muitas vezes é que, diante da morte horrível de alguém querido, as pessoas estão dispostas a matar também, através da pena de morte, justificando que houve um julgamento justo e o executor é o estado. Na verdade, o executor somos todos nós, pois o estado apenas representa a sociedade.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Naqueles tempos...

- Aí eu peguei o telefone e disquei o número do meu amigo Alberto.
- "Discou o número"? Como é que pode?
- Naqueles tempos os telefones tinham um círculo com os buracos para cada número e a gente discava os  números...
- Ah, bom, vô, entendi.
- Então, o Alberto chegou todo contente, pois ele sabia que era uma raridade conseguir um disco dos Beatles.
- Você quer dizer um CD, né, vô?
- Não, disco mesmo. Naqueles tempos não existia CD. As músicas eram gravadas em um disco, normalmente preto, de vinil. A gente escutava o disco na radiola.
- Hahahahahahahaha!! Que isso??
- Naqueles tempos não existia CD Play e sim radiola. Tinha um prato que girava, um braço com agulha.
- Vocês ouviram o CD dos Beatles.
- O disco. Depois acompanhamos um programa dos Beatles na tv, que era em preto-e-branco.
- A tv lá em casa, de 42 polegadas, também é preta, vô.
- Não é a cor da tv. Naqueles tempos as imagens não eram coloridas. Era tudo preto-e-branco.
- Nussa, vô! E como você sabia que a capa do Super-homem era vermelha?
- As revistas em quadrinhos, algumas pelo menos, eram coloridas.
- E no cinema?
- Alguns filmes ainda eram em preto-e-branco, mas a maioria já era colorido.
- E o programa dos Beatles na tv, então, era sem cor.
- Certo. Eu pus no canal correto rodando o seletor de canais...
- Que que é seletor de canais, heim, vô?
- Naqueles tempos, para mudar de canal, a gente tinha que levantar e girar o seletor até o canal desejado.
- Porque não usou o controle remoto?
- Naqueles tempos não tinha controle remoto.
- E para aumentar o volume, como você fazia, vô?
- Tinha que levantar e mexer no botão de volume do televisor.
- E para desligar a tv?
- Tinha que levantar e apertar o botão de desliga.
- Puxa, vô, por isso que o senhor é magro e o papai é gordo, né?
- Aff, pelo menos você agora sabe que eu e o meu amigo Alberto éramos fãs dos Beatles. Os Beatles você conhece, certo?
- Conheço, vô, porque outro dia passou um especial no canal de tv a cabo. Você tinha tv a cabo, vô?
- Naqueles tempos... ai, Jesus! Vamos jogar videogame, que é mais fácil eu conviver com as modernidades que ficar te contando histórias do passado.
- Você é bom de videogame, vô. Você jogava videogame quando era criança?
- Naqueles tempos não existia videogame... vamos, vamos, senão você vai acabar com meu estoque de "naqueles tempos"!!