sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Dia das crianças atrasado...

Quando pequenos, meus filhos vez ou outra ficavam sozinhos comigo. Até os 2 anos era fácil entendê-los, devido ao vocabulário limitado. Praticamente eu sabia todas as palavras que eles poderiam dizer. Depois, com mais idade, amigos, primos, desenhos animados, tv, etc, etc, muitas vezes eu não entendia o que diziam. Uma característica comum aos dois, que têm quase quatro anos de diferença, é que aos 2/3 anos de idade, quando eu não entendia o que eles falavam, eles choravam.
- Eh, pai, você não está entendendo o que eu tô falando! - e começavam a chorar.
Ninja Jiraya

Mas, sempre lidei bem com eles, sabendo que nestas situações, o melhor é entretê-los com outra coisa. Claro que eu tentava os recursos mais lógicos, que era pedir para eles mostrarem o que queriam, dizer que podiam pegar o que queriam, por exemplo. Mas, às vezes isso não funcionava e eu procurava distraí-los, fazendo outra coisa, falando "vamos brincar disso ou daquilo".
E isso era fácil porque eu sempre brinquei com eles, com os carrinhos, com os bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco, do ninja Jiraya ou os jogos de videogame. Eu sabia que eles não tinham uma noção clara da minha surdez. Isto só ocorreu depois dos 4 anos e na idade escolar eles aprenderam o alfabeto dos surdos.
Costumava gravar os desenhos animados para eles, os seriados dos heróis que eles gostavam. Era bom quando chegava a hora de dormir. Punha um desenho para assistir e eles dormiam logo.

Uma vez, o menor pede:
- Pai, quero ver o bonequinho.
- Que bonequinho?
Falou um tanto de coisa, tudo enrolado, não entendi nada. Pensei que era brinquedo e falei:
- Pode pegar o bonequinho na sua caixa de brinquedos.
- Não, pai. É o bonequinho da tv.
Não tinha a mínima idéia de que bonequinho era esse. Entendi que era da tv e perguntei que horas ele assistiu isso, se de manhã, na hora do almoço, ou à tarde. Ele respondeu:
- Na hora que você colocou a fita para assistir.
Saquei que era gravação. Mas, não lembrava de ter gravado bonequinho nenhum. Fui chutando:
- Pica-pau, Michey, Pateta, Macaulay Culkin, Chaves...
- Não, pai, o bonequinho.
Não sabendo qual bonequinho era esse, resolvi mudar de tática:
- Vamos assistir esse do Pica-pau, vai aparecer o Pica-pau dirigindo um caminhão. Eu quero ver o caminhão de novo...
Ele sossega, sentamos e assistimos. Acaba o desenho do Pica-pau e começa outro. Meu filho aponta para o desenho:
- Alá, pai, o bonequinho!!
Nunca que eu iria adivinhar o que ele queria.
- Que bonequinho, menino! Esse aí é o GASPARZINHO!!

O mais velho gostava do Chaves. Quando morávamos no Bairro Água Branca, pegávamos muito o metrô. Ele gostava mais do metrô que dos ônibus. Já tinha 4 anos e estava na idade de assimilar o que via na tv e repetir. Entramos os três (eu, ele e minha esposa) no metrô, sentamos e ele começou a cantarolar alguma coisa. Ele olhou para trás e ao perceber que as pessoas o encaravam, soltou:
- Gentalha!!
Minha esposa segurou o riso e me explicou. O amigo do Chaves, Kiko, falava isso com aquele ar de superioridade.

No meu tempo os pais tinham muito mais autoridade com os filhos. Aprendiam por bem, ou por mal mesmo. Uma vez, ingenuamente, soltei um palavrão perto de minha mãe. Levei um tapa na boca:
- Se você repetir isso de novo você vai ver o que é bom para tosse.
Eu que não era bobo de querer saber que xarope era esse, nunca mais xinguei qualquer palavrão perto de minha mãe.
Minha mãe, ameaças de surras à parte, nunca espancou nenhum dos filhos. Deu palmadas, chineladas e na maioria das vezes, o tom de voz bravo era suficiente para a gente obedecer. Era algo simples, por exemplo, eu, com 8 anos, saindo às 21 horas, minha mãe brada:
- Onde você pensa que vai uma hora dessas?
Eu retornava caladinho... o tom de voz era suficiente para obedecê-la sem reclamar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários não passam por aprovação, mas serão apagados caso contenham termos ofensivos, palavrões, preconceitos, spam. Seja coerente ao comentar.