segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Crédito Acessibilidade

Em novembro de 2011, a Presidente Dilma Roussef lançou o Viver sem Limite - Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Esse é um programa de créditos para os deficientes, possibilitando a compra de equipamentos de assistência. Uma enorme variedade de produtos de acessibilidade podem ser financiados. Para os surdos, além dos aparelhos de surdez (AASI), relógio despertador vibratório, telefones com teclado-teletipo (TTY, TDD ou TS), textos e dicionários digitais em Língua de Sinais, entre outros. Para os cadeirantes, além da cadeira de rodas, talheres, suportes, alterações nos automóveis, entre outros. Para os cegos, máquina de escrever e impressora Braille, softwares de voz, etc, etc. O financiamento é de R$ 70,00 a R$ 30.000,00 com taxa de juros bem abaixo do mercado e prazo de até 5 anos para pagar.

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Quando eu era mais novo a tecnologia para os surdos ainda engatinhava e uma das coisas que me incomodava bastante era a dificuldade de acordar cedo. Ainda que meu relógio biológico se acostumasse, ocorriam os imprevistos, como ir dormir fora do horário normal. Na época em que eu estudava no Instituto Santa Inês, minhas irmãs me acordavam e quando comecei a trabalhar na gráfica, o horário era ainda mais ingrato; tinha que despertar às 5 horas da manhã; minha mãe que servia de despertador. Ela acordava também, fazia o café, arrumava minha marmita.
Penei muito quando era proprietário de uma banca de revistas e tinha que acordar cedo. Já era casado, mas minha esposa viajava nas férias com meus filhos para Formiga. Sozinho, tinha que me virar, com os antigos despertadores. Colocava do lado do travesseiro (impossível colocar aqueles trambolhos debaixo do travesseiro), mas além da dificuldade de sentir a vibração, era fácil travar o despertador com algum movimento mais brusco. O que faz o barulho é o martelinho entre as duas peças de metal, portanto, se algo se interpor aí (fronha, coberta, lençol), o despertador não fará barulho.
Quando surgiram os celulares (os tijolões) com o vibracal, fortíssimo, descortinou-se uma maravilha do mundo moderno para os surdos. Além das mensagens de texto, o celular servia como despertador. E era possível colocá-los sob o travesseiro sem risco de desligar. Até hoje utilizo o celular como despertador.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Bichos

Vi uma mensagem comparando a visão que algumas pessoas têm da lagartixa, que se “transforma” em um verdadeiro jacaré. Para mim ela não causa nenhum incômodo, é predadora dos mosquitos e de outros insetos. Não tenho problemas com estes bichos caseiros, que alguns têm verdadeiro horror. Na minha infância, eu e minha irmã menor, acompanhávamos lesmas no quintal, agachados, comentando sobre a lentidão da mesma e a gosma que ela deixava ao deslizar. Dentro de casa, observando a lagartixa ir vagarosamente em direção ao mosquito, até dar um verdadeiro bote para pegá-lo. Pegava joaninhas, borboletas e “bruxas” (mariposas). Minha esposa, no entanto, detesta lagartixas. E quando encontra alguma, pequena ou grande, lá vou eu matar a coitadinha. Certa vez, encontrou uma próxima a máquina de lavar, que ficava no quintal da casa.
- Vai lá e mata a lagartixa perto da máquina de lavar.
E lá fui eu, matar mais uma lagartixinha. Essa era tamanho médio, ao invés de mata-la, expulsei-a de perto da máquina de lavar, ela subiu pelo muro e desapareceu do outro lado.
- Pronto! – disse à minha esposa e ela voltou a lavar as roupas.
Na semana seguinte minha esposa esbraveja:
- Você não matou a lagartixa coisa nenhuma. Ela está lá na máquina de lavar de novo.
- Deve ser outra. 
- Não, é a mesma. Tem uma mancha preta nas costas. Aposto que você ficou com dó e não matou coisa nenhuma.
Ri. Minha esposa sabia que eu não gostava de matar lagartixas.
Da mesma forma, não mato estes gafanhotos verdes que sempre aparecem quando menos esperamos. Na maioria das vezes eu os pego pelas patas traseiras e jogo pela janela. Um dia que joguei um gafanhoto pela janela, ele alçou vôo e no mesmo instante um pombo surgiu e o devorou. Fiquei olhando o pombo se afastar. Pensei como é estranha esta natureza, em que a alimentação de um é a vida do outro.

Essa minha boa ação com bichos já me deixaram mal também. Meu tio, que morava junto com minha família em um barracão nos fundos, tinha um canarinho. Uma noite resolvi que ia libertar o passarinho e, quando todos já estavam dormindo, abri a gaiola, peguei o canário e o joguei para o alto. Qual não foi meu espanto ao ver o canário voar e trombar fortemente contra a parede da casa vizinha. Só anos depois vim a descobrir que a maioria das aves não tem visão noturna. O canarinho caiu no quintal vizinho. Não tinha como saber se estava ferido ou morto. Mas, fui dormir com a crença de que ao amanhecer ele voou para a liberdade. Meu tio não entendeu como o canarinho fugiu:
- Você deve ter deixado a portinhola aberta. – disse minha mãe.
- Mesmo assim, a gaiola estava no banheiro. 
Meu tio guardava a gaiola no banheiro, à noite, para evitar que os gatos tentassem comer o canarinho. Eu participei da conversa porque meu tio perguntou se eu tinha visto o canarinho e eu respondi simplesmente “não”.

Alguns bichos são realmente nocivos e não há como deixar de mata-los. Na minha infância brinquei muito na casa do meu primo e vez ou outra cobras surgiam no quintal. Devido aos lotes vagos que havia nos fundos e no lado direito da casa com mato que, às vezes, quase encobria eu ou meu primo, fato comprovado quando pulávamos o muro para buscar bola. Certa vez uma cobra se escondeu nas telhas amontoadas no quintal e meu tio pegou uma barra de ferro para matar a cobra. Eu e meu primo pegamos outras barras e fomos ajudar. Desentocada, a cobra procurou sair e eu e meu tio a acertamos várias vezes. No fim da tarde, sentados no passeio em frente à casa e conversando com amigos e vizinhos, meu primo conta:
- EU e o meu primo matamos uma cobra hoje. Ela estava escondida no quintal.
Mas, o meu tio estava próximo e começou a rir:
- Você? Quem matou foi eu e o Jairinho, porque você ficou de longe pulando e gritando “mata, mata”.

Essa história me lembrou do meu cunhado quando, morando no barracão nos fundos da casa do meu sogro, surgiu uma ratazana no quintal. A ratazana se escondeu em meio a tranqueira debaixo do tanque. Minha esposa já tinha gritado, trancado a porta da casa do meu sogro e do barracão. Da janela, ela e meu filho menor ficaram observando eu, com uma vassoura, ir à caça da ratazana. Meu cunhado vinha chegando do trabalho e eu falei:
- Me ajude a matar a ratazana.
- Grande? – perguntou meu cunhado, meio que assustado. Eu não percebi de imediato e só respondi:
- Mais ou menos. Está debaixo do tanque.
Meu cunhado se empoleira numa mesa que havia próxima ao tanque, uma perna na mesa, outra na cadeira. Eu o encaro, espantado:
- Que isso?
- Se ela passar por aqui eu acerto ela...
Fiquei com vontade de rir. Desentoquei a ratazana, sai acertando vassouradas, chutes e a prendi com o pé na canaleta de água, mas ela se virou arreganhando os dentes e como eu estava de chinelos, tive que soltar antes que ela me mordesse. Mais vassouradas, correria e meu cunhado lá, empoleirado na mesa. A ratazana entrou num cano de escoamento de água e desapareceu. Minha esposa e meu filho estavam rindo, tanto de mim quebrando a vassoura de minha sogra e não acertando a ratazana, quanto do meu cunhado, que só faltava subir de vez na mesa.
- Mas que droga de ajuda você me deu, heim, I.? – reclamo.
- Era uma ratazana muito grande. Perigosa.
- Qual é? Você está de tênis, e eu de chinelos. Se você estivesse perto de mim na hora que eu prendi ela ali na canaleta você podia dar um chutão nela.
- Depois que o pai chegar ele põe veneno.
Mas, sempre que alguns familiares ou amigos estavam ali no quintal, e o meu cunhado I. estivesse perto, eu não perdia a oportunidade de contar o caso,:
- Vocês precisavam ver como o I. resolveu me ajudar a matar o rato. Ele falou que ia cercar daí, sabe como? – claro, eu empoleirava na mesa e cadeira como ele tinha feito. – Desse jeito!!