terça-feira, 29 de julho de 2014

Acabou a Copa; vou lembrar das copas - I

Minha mãe só torcia mesmo para o time do Formiga e Seleção Brasileira. Era atleticana mas, devido à família dividida entre atleticanos e cruzeirenses, torcia ora para o Atlético, ora para o Cruzeiro, dependendo do jogo. Em clássicos, não torcia para nenhum mesmo. Mas, como gostava da seleção (sem contar o time do Formiga) eu a ouvia cantar "a taça do mundo é nossa, com brasileiro, não há quem possa..." Era ainda a época do rádio. Em 1970, eu ouvia constantemente (também no rádio) a música "70 milhões em ação, prá frente Brasil, do meu coração...", São as únicas músicas que eu ouvi e ainda canto, relacionadas à seleção brasileira e Copa do Mundo.
A primeira copa de que tive real conhecimento foi a de 1970. Devido à grande propaganda da ditadura militar, à época. Eu era criança ainda, 9 para 10 anos, e o interesse por futebol era jogar e brincar. Tanto que, no jogo da final, eu estava na casa do meu primo e meus tios estavam torcendo com os gols que o Brasil fazia contra a Itália. Minha tia chamou para que assistíssemos o jogo, mas éramos crianças demais para dar valor ao momento histórico. Eu e meu primo assistimos um pouquinho do jogo e no intervalo fomos fazer a nossa copa do mundo com futebol de botão. Bons tempos. Saudades dessa inocência, quando a copa que eu e meu primo jogávamos com futebol de botão, lentes de relógio, goleiros de caixa de fósforos e paletas, era muito mais importante que uma final de copa do mundo envolvendo o Brasil.
Alguns anos depois eu já estava surdo, devido à meningite e dei adeus às músicas envolvendo seleção brasileira e copa do mundo. Mas, o gosto por futebol aumentou. Tomei conhecimento do futebol da seleção de 70, dos craques, Pelé, Tostão, Gerson, Jairzinho, que veio jogar no Cruzeiro em 1975 e conquistou a Libertadores em 1976. Já como torcedor mesmo, de conhecer o time do goleiro ao camisa 11 (a numeração era metódica naqueles tempos). Eu e meu colega, Adão, fomos na Câmara Municipal pegar um poster da seleção brasileira, com o então vereador Wilson Piazza. Éramos garotos inocentes demais, torcedores do Cruzeiro, e sequer pensamos em pedir autógrafo do vereador/jogador no verso do poster. Lembro que guardei o poster por muitos e muitos anos. Lia tudo sobre aquela seleção, os jogadores, os jogos. Com a popularização da tv foi possível assistir os gols de Pelé & Cia. O poster sumiu entre as tantas mudanças que fiz, solteiro/casado, de Formiga para Belo Horizonte e aqui em BH, de bairro para bairro.
Em 1974 acompanhei diversos jogos da copa; tínhamos tv em casa, em Formiga. Lembro que minha mãe fazia pipoca e que meu amigo Tonho acompanhou alguns jogos comigo. A copa tinha um formato diferente, não era mata-mata. A primeira fase tinha quatro grupos de quatro. O primeiro e o segundo de cada grupo formavam dois grupos de quatro na segunda fase. Os primeiros dos grupos da segunda fase decidiam o título e os segundos, decidiam o terceiro lugar. O Brasil perdeu para a Holanda (2x0), ficando em segundo no grupo e decidiu o terceiro lugar com a Polônia. Perdeu este jogo também, ficando em quarto. Não tenho muitas lembranças dos jogos desta época. Lembro que torci muito em alguns jogos, mas não lembro da derrota para a Holanda e nem sei se assisti ao jogo que decidia o terceiro lugar. Lembro também que eu tinha álbum de figurinhas da copa, que o tempo se encarregou de sumir.
A copa de 1978 eu já acompanhei com mais critério e crítica. Também em Formiga, onde eu trabalhava em um escritório de contabilidade. Muitos debates com os colegas, longas horas discutindo um lance polêmico no primeiro jogo do Brasil, que terminou 1x1, contra a Suécia. No último minuto do jogo, escanteio para o Brasil e quando foi cobrado, Zico cabeceou para o gol. Comemoramos muito, mas o juiz anulou o gol. Alegação do juiz: encerrou o jogo com a bola no ar. Ocorreriam muitos outros fatos estranhos nesta copa. O Brasil empata com a Espanha e fica dependendo de vitória contra a Áustria. Ganhamos de 1x0 e classificamos em segundo. O sistema ainda é o mesmo da última copa, os oito classificados formam dois grupos de quatro. O grande azar do Brasil foi ficar no grupo da Argentina. Nos últimos jogos, com ambas seleções empatadas em pontos, o critério seria o saldo de gols. O Brasil ganha de 3x1 da Polônia e a Argentina precisa golear o Peru por pelo menos 4 gols de diferença. Ganha de 6x0 e fica com o primeiro lugar. Todos concordamos que o jogo foi comprado, mas só muitos anos depois vim a saber o que era a ditadura militar argentina e que o goleiro do Peru era argentino naturalizado peruano... O Brasil terminaria em terceiro após vitória sobre a Itália, 2x1, com gol de Nelinho, chutando de fora da área, com o efeito que ele conseguia dar à bola: ela fazia uma curva assim "(". Essa conversa de que não queremos saber de 3º Lugar, pelo menos para mim, é papo furado. Torci e vibrei muito quando ele fez o gol de empate e logo depois Dirceu fez 2x1.



1982 foi o ano que sofri pela primeira vez com a seleção. O time era muito bom. Eu já estava morando em BH, trabalhando na gráfica. Os colegas disputavam minha companhia a cada jogo. E assim eu assisti aos três primeiros jogos em três locais diferentes. Quando do jogo Brasil x Nova Zelândia, os colegas dos dois primeiros jogos reclamaram muito, pois o pagamento tinha saído e, portanto, dava para torcer e comprar cerveja também (risos). Lembrando que ainda era época de fases; e a segunda fase tinha três times: Brasil, Argentina e Itália. Para avançar às semifinais o Brasil tinha que terminar em primeiro. Começamos bem, grande jogo contra a Argentina, o Brasil ganhou de 3x1. Vibrei como nunca. A Argentina era uma grande rival. Com o resultado favorável, o Brasil só precisava de um empate contra a Itália. Explicação necessária de que o empate classificava o Brasil para a semifinal, pois muitos não entendem até hoje porque a vibração louca de Falcão ao marcar o 2x2 contra a Itália. Este jogo eu assisti com meus familiares. Também vibrei com o golaço de Falcão e quando Paolo Rossi fez 3x2 para a Itália, ficamos todos muito tristes. O time era bom, muito bom. Apresentou um futebol de campeão, mas levou dois gols em falhas bisonhas da defesa e deu adeus à Copa. Fiquei muito triste com esta derrota, saí e andei a esmo no centro de Belo Horizonte. Parei num bar, bebi uns chopes, fitando a tv desligada. Para onde olhasse só via faces tristes e inconsoláveis. Era o tempo em que, uma derrota da seleção brasileira calava todo o país. 
(continua)