terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vá entender as mulheres...

Meu amigo me conta que a esposa dele viu a amiga recebendo flores e comentou:
- Que lindo! E você nunca me deu flores...
Meu amigo fica envergonhado. Espera passar umas duas semanas e chega em casa com um buquê de flores. E a esposa:
- Você, me trazendo flores!?!! Ah, espertinho, fala logo o que você andou aprontando...

Meu outro amigo chega nos locais e vai cumprimentando todos, com a devida atenção, até chegar à esposa. Ela reclama:
- Porque você me deixa por último?
- Por que as pessoas que eu cumprimento primeiro receberão atenção mínima de minha parte, uma vez que tenho que cumprimentar outras pessoas. Mas, a última, não havendo mais necessidade de rapidez, receberá toda minha atenção e desprendimento.
Ela não se convence. O cunhado do meu amigo chega, a primeira pessoa que ele cumprimenta é a esposa. Mas, ele não lhe dá a devida atenção, pois tem que cumprimentar as demais pessoas.
- Tá vendo? Ele cumprimentou a esposa primeiro...
Numa festa tempos depois, meu amigo foi direto à esposa, deu o tradicional beijinho e continuou a cumprimentar os demais conhecidos, inclusive parando para tomar uns copos de cerveja com um e outro. Ocorre que justamente nesta festa a última pessoa que cumprimentou foi uma moça que sabia Libras. Justamente porque ela sabia Libras ficaram conversando durante muito tempo, até o momento que ele voltou para conversar novamente com a esposa. E ela:
- Você tinha que ficar nesta conversação animada com a moça só porque ela sabe Libras, né?

- Onde você vai?
- Ali no bar tomar umas cervejas.
- Quem vai com você?
- A vizinha.
- O que???
- Nossa!! Fica fria, calma!! Já esqueceu que ela é a dona do boteco?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A porta do fim da vida

Quando nada mais existir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
nem o torpor do sono que se espalha
quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório...”

Eu estava barbudo e um tanto triste. Dias antes, conversei com meu amigo Antônio (conversamos até altas horas da madrugada) e falei sobre solidão e como a vida era complicada. Naquela tarde, saí sem dizer aonde ia, cansado de relembrar poesias. Deixei a poesia acima incompleta. Meu amigo Antônio então chegou e perguntou a minha mãe onde eu estava. Ela não sabia, eu não disse aonde iria. Antônio foi até o quarto e se deparou com a poesia. Ele lembrou da conversa de dias anteriores e associou minha tristeza à poesia. E pensou que eu estava escrevendo um bilhete de despedida usando uma das minhas poesias sombrias favoritas. Meu amigo ficou deveras preocupado e resolveu me procurar. Estava temeroso do que eu poderia fazer. O Antônio foi o primeiro amigo que aprendeu o alfabeto dos surdos e que me animou a enfrentar a surdez. A gente conversava muito e eu disse a ele que, como muitas pessoas que sofrem um grande revés na vida, já tinha pensado em suicídio. Meu amigo foi até a casa do Irineu, que morava na mesma rua, levando a poesia inacabada e disse:
- Temo que ele vá fazer alguma maluquice!
- Por causa dessa poesia aí?
- Você não está vendo? Está escrito “a arquitetar na sombra a despedida”... para bom entendedor, meia palavra basta.
- E aonde ele iria se suicidar?
- Sei lá! Acho que antes ele conversaria com algum amigo. Por isso que vim te procurar.
- Não vi ele hoje, não. Vamos procurar o Amaral então.
Os dois saíram e foram até a casa do Amaral. Formiga é uma cidade pequena, a casa do Amaral era um pouco mais longe, no bairro Engenho de Serra, mas em vinte minutos estavam lá. Ainda mais que meu amigo Antônio, preocupado, acabava gerando uma tensão maior. Os dois caminharam rápido e chegaram perguntando:
- O Jairo teve com você hoje, Amaral?
- Não. O que aconteceu?
Antônio repete toda a história, mostra a poesia inacabada e apoiado pelo Irineu, diz suspeitar que eu poderia fazer alguma loucura. Confabulam, perguntam-se onde eu poderia ter ido, com quem eu falaria antes de tomar uma decisão tão drástica. O Amaral lembrou do Evandro e os três saíram apressados. O Evandro morava no Bairro do Rosário, pouco depois do cemitério. Subiam a Rua do Rosário quando perceberam que o Evandro vinha descendo. Ele se espantou:
- Uai, que isso, todo mundo junto hoje? Só falta o Jairo.
- Não esteve com você? – perguntou o Antônio.
- Hoje não, por quê?
Mais uma vez o Antônio explicou o que temia. Mostrou a poesia inacabada, que o Evandro também levou a crer fosse uma forma dissimulada de despedir-se da vida. Ele perguntou
- Se vocês acham que ele vai cometer suicídio, porque vocês me procuraram?
- Achamos que antes de tentar qualquer coisa, ele vai conversar com alguém. No caso, um de nós, os amigos mais chegados.
- Essa teoria está meia furada... pois ele não esteve com nenhum de nós hoje. E se ele procurasse um familiar? – perguntou o Evandro.
Lembraram do meu primo e desceram a Rua do Rosário quase correndo. Antônio, Irineu, Amaral e Evandro especulavam também sobre algum outro amigo.
- Tem o Chiquinho, que apesar de ser um amigo mais recente, também é de boa conversa com ele.
- Vamos nos separar, então. – disse o Evandro, o mais prático da turma. – Amaral e Irineu passem na casa do Chiquinho e eu e o Antônio vamos até o primo do Jairo.
Dois foram para a casa do Chiquinho, no Engenho de Serra e dois para a casa do meu primo, no bairro Quinzinho. Praticamente já tinham circulado por quase toda a cidade de Formiga, preocupados comigo.
Meu primo nunca teve conversas sobre solidão, tristeza e amargura comigo. Por isso, caiu na gargalhada quando o Antônio explicou a razão de estarem me procurando.
- Deixa disso, gente! Meu primo não vai tentar suicídio coisa nenhuma!
- Ele esteve com você hoje? – perguntou o Antônio.
- Não, mas isso não tem nada a ver. Não acredito muito nesta sua tese, não.
- O problema é que ele sumiu, não encontramos ele na casa de ninguém. – repetiu a história das conversas amarguradas e mostrou a poesia.
Meu primo continuou achando graça de tudo aquilo. Mas, quando os dois estavam saindo, disse:
- Qualquer coisa, vocês me telefonam. – naqueles tempos, só existiam os telefones fixos.
Os dois saíram e logo encontraram o Amaral, Irineu e o Chiquinho, vindo em direção a eles.
- Nem precisa falar que não encontraram. E agora, gente? – o tom de voz do Antônio já era de desespero.
- Se ele vai tentar alguma coisa, o que ele vai usar? Arma ele não tem. – disse o Evandro.
- Cortar os pulsos? – perguntou o Irineu.
- Não creio! – respondeu o Evandro – Por conversas que tivemos, sei que ele não causaria ferimentos em si mesmo.
- Beber veneno? – sugeriu o Amaral.
- Teria que gastar dinheiro... – e riram todos.
- Saltar na frente de um carro, então! – sugeriu novamente, o Amaral.
- Conseguiria no máximo, ficar todo ralado. – respondeu o Evandro, atento – Os carros aqui em Formiga não transitam a mais de 60 km por hora.
- Pombas, então só se ele se jogar na frente do trem! – reclamou o Irineu.
O Antônio então deu um pulo:
- É isso! Lembro agora que ele sempre me fala que quando está em lugares altos pensa como seria cair dali.
- O que isso tem a ver com o trem? – perguntou o Chiquinho.
- Ele vai se jogar da ponte de ferro!

Ponte de Ferro - Formiga - MG

Os cinco saíram em desabalada carreira em direção à ponte de ferro, que fica próxima à Exposição Agropecuária de Formiga. Pareciam cinco maratonistas formiguenses. Começava a anoitecer quando chegaram à ponte. Perceberam que não havia nada, olharam as pedras lá embaixo, onde o rio serpenteava. Era uma ponte antiga, só permitia a passagem do trem. Uma pessoa podia passar caminhando pelo meio dos trilhos, mas era muito perigoso, não havia espaços laterais.
Irineu se arriscou a avançar um pouco pela ponte, tentando avistar melhor, mas estava anoitecendo e ele retrocedeu.
Preocupados, os cinco retornaram, quase que correndo, para o nosso bairro. Cada um falava uma coisa, tentando lembrar de lugares altos. Resolveram passar no bar perto da ponte do bairro Quinzinho, para tomar refrigerante. Todos com sede, cansados. Haviam feito uma verdadeira maratona pelas ruas de Formiga. Quando chegavam ao bar o Chiquinho berra:
- Olha o Jairo lá!!
Eu estava sentado numa mesa do bar, tomando uma cerveja tranquilamente, junto com o Rato. Vi, espantado, meus cinco amigos chegando juntos, todos me fitando.
- Tem alguma festa hoje que eu não tô sabendo? – perguntei, rindo.
- Você não ia se suicidar? – perguntou o Chiquinho, arrancando gargalhadas de todos, eu inclusive.
- Tô sabendo disso não, meu amigo! Que negócio é esse, Antônio? – perguntei, fitando meu amigo, que estava sério, o único que não riu da pergunta do Chiquinho.
- Você deixou uma poesia meio macabra lá no seu quarto... – respondeu ele, coçando a cabeça – Outro dia conversamos sobre a tristeza da vida, solidão... Você está com a barba por fazer... Estava meio triste... Não sei o que deu, pensei que a poesia era um bilhete de despedida.
Levantei-me e abracei meu amigo:
- Caramba, Antônio! Que imaginação! Fico emocionado com sua preocupação, mas essas idéias de suicídio foram há anos! Não passa pela minha cabeça morrer antes da hora não... Tava aqui tomando umas cervejas com o Rato, ele tá pensando em casamento. Deve ser o primeiro da turma a se enforcar.
Rimos todos, puxaram cadeiras, pediram cerveja e em volta da mesa fiquei sabendo de toda a história. Da correria deles por toda a cidade, procurando na casa de um e outro amigo, tentando adivinhar como eu me suicidaria. Eles explicaram que estavam preocupados sim. Se agora estavam todos rindo, a poucos minutos estavam tentando avistar meu corpo nas pedras do rio, abaixo da ponte de ferro.
- Vocês são incríveis! – eu disse, rindo – Aprontam cada uma!
- Você não pensou mesmo em suicídio, não? – perguntou o Evandro, sério, ainda meio preocupado.
- Não, colega! O Rato é testemunha que em nenhum momento a conversa foi sobre coisa tão triste. Falamos de casamento, mulher, a dificuldade que é entender as mulheres... e ainda assim querermos estar casados com elas.
E completei:
- Não tenho motivos para pensar em suicídio, amigos. Vocês são a melhor prova de que a vida tem muita coisa boa. Tendo amigos como vocês, vale a pena viver, surdo ou não.

lembra que afinal te resta a vida
com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
entrar no acaso e amar o transitório”

A Solidão e Sua Porta


Quando nada mais existir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
nem o torpor do sono que se espalha
quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório...
lembra que afinal te resta a vida
com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
entrar no acaso e amar o transitório
Carlos Pena Filho

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Piloto bêbado

Vejam o vídeo abaixo. O bêbado e o avião equilibrista.


Na verdade é um piloto profissional da Delta Airlines. Seu ato em shows aéreos é fingir que é um espectador bêbado, que surge das arquibancadas e pega um Piper Cub e sai voando sem conhecer nada de pilotagem.
O avião é construído de forma a suportar o arraste das asas, tem um motor superpotente e o piloto, claro, é extremamente habilidoso.
No final ele deixa o avião de forma espetacular.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ah, esse nosso português!

A garota mineira perdeu a disputa regional do quadro Soletrando, devido a uma particularidade do nosso português. Quando mandaram que soletrasse "esfoliação", ela soletrou desta forma, com "s" antes do "f". No entanto, a banca organizadora considerou que ela errou, afirmando que ela deveria ter soletrado com "x" e não "s". Lendo a notícia por alto, eu estava me perguntando onde foi que a menina errou, já que conheço a palavra esfoliação somente com "s", pois é desta forma que ela vem escrita nos cosméticos. Nunca tinha visto/lido esfoliação com "x". A reportagem confirma que as duas formas estão corretas e significam a mesma coisa.

Obs.: Justiça seja feita; os organizadores do Soletrando/Globo reconheceram que erraram e marcaram uma nova final.

Leia a reportagem clicando AQUI

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Decepção amorosa

- William, porque você terminou com a Patrícia?
- Não dava mesmo para continuar...
- Mas, ela foi a única menina que eu percebi que você realmente amou. Não foi um daqueles seus casos interesseiros, de paquerar, ganhar a menina e depois largar.
- Porque você diz isso?
- Somos amigos há anos, William. Sei muito bem quando você trata uma menina de forma diferente. Ainda mais a Patrícia, que era presbiteriana, séria prá caramba.
- Confesso que realmente, dela, eu gostei muito e esperava muito mais...
- Eu sei e até achava engraçado, você indo namorar todo arrumadinho, com roupa social.
- E você nem imagina, Jairo, que ela queria porque queria, me ensinar a comer com estilo.
- Estilo?
- Ela queria que eu usasse garfo e faca, colher, guardanapo. Uma vez eu até procurei aprender, mas você sabe, eu detesto este negócio de comer com estilo.
- Que estilo, meu amigo? Etiqueta.
- Que seja. Já bastava eu ter que ir namorar de roupa social. E nem pensar em tomar uma cervejinha. A única coisa boa é que de vez em quando ela servia um vinho dos bons.
- Essa é boa. E o que aconteceu para você se decepcionar com ela?
- Vou te contar... foi uma coisa muito estranha, porque foi na Igreja dela.
- O que a igreja tem a ver com isso, William.
- Ela conhecia o pastor da Igreja do bairro e sempre passava lá à tarde, para trocar umas idéias com o pastor. Ela ajudava ele nos cultos. Para você entender melhor, lembra que eu já te falei de um tal de Olavo?
- Sim, o ex-dela. Ex-noivo, se não me engano. Você me contou que um dia, quando foi buscá-la na faculdade, ela estava te esperando no carro dele. Dentro do carro dele. Você ficou uma fera, reclamou muito, mas ela disse que eram só amigos e que ele a ajudava com trabalhos da faculdade.
- Isso mesmo. Então, você vai entender... Quando chegamos na igreja, à tardinha, ela me mostrou as coisas da igreja e também uma urna. Eu perguntei para ela se a urna era para dar esmola. Ela reclamou, dizendo que não era esmola que falava e sim dízimo. E que aquela urna não era para isso, era para os pedidos de oração. Pegou um envelope, me mostrou e disse. Escreva o seu pedido de oração e coloque na urna. Eu disse que não tinha nada para pedir. Falei para ela escrever sem problemas, eu não tinha nada para pedir mesmo e nem sabia como escrever pedido de oração. Ela me explicou como era, pedia oração sem colocar o nome de ninguém, o que valia era o pedido. Ela insistiu para eu escrever. Ela escreveu alguma coisa rapidamente, colocou no envelope, depois na urna e ficou esperando que eu escrevesse algo. Enquanto eu estava pensando no que escrever, o pastor chamou a Patrícia. Eles sumiram lá para o interior da igreja e eu fiquei olhando o envelope dela na urna. Era uma urna transparente e eu percebi que a tampa era só de pressão.
- Meu amigo!!! Não me diga que você...
- Ah, Jairo, eu fiquei curioso de saber o que ela escreveu e a tampa da urna era fácil de levantar... abri a urna, peguei o envelope dela, joguei o meu lá dentro e tampei a urna de novo. Se a Patrícia voltasse era só jogar o envelope dela na urna, como se fosse o meu.
- Bom, o mal já estava feito... o que ela escreveu?
- Você não vai acreditar... ela pedia orações para os pais. E pedia que o ex-noivo voltasse, que eles reatassem o noivado, casassem e fossem felizes.
- PQP! Você tá de brincadeira!
- Eu não podia ficar com o papel, porque ela estava voltando junto com o pastor e eu coloquei o envelope de volta na urna. Mas, a decepção que eu senti ao ler aquilo, Jairo! Fiquei com vontade de xingar a Patrícia, mandar ela para... mas o pastor veio junto, me cumprimentou educadamente, desejou que eu comparecesse no culto daquela noite.
- Você tá falando sério, William? Ela escreveu isso mesmo? Não era o envelope de outra pessoa?
- Jairo, não tem como eu esquecer o que eu li. E não tem como ser de outra pessoa... eu te disse que a urna era transparente... peguei o envelope DELA, com a letra DELA.
- Por essa eu não esperava... não mesmo!
- Daí em diante, quando ela me ligava eu dizia que estava ocupado. E uma semana depois, após eu recusar encontrá-la mais de cinco vezes, terminamos tudo por telefone mesmo.
- Tenho que concordar com você... foi a melhor coisa a fazer mesmo. Mas, eu não esperava isso da Patrícia.! Parecia ser uma garota cem por cento! E eu sei o quanto você foi apaixonado por ela.
- E o quanto me magoei com isso. Tanto que não quis saber de namorar sério mais. Ela estava me usando para fazer ciúmes no ex-noivo. O tempo todo.
- Você já se encontrou com ela depois disso?
- Não. Se encontrar, vou perguntar: Deus já te ajudou a casar com o seu ex?
Nós dois rimos e fomos tomar uma cerveja.

"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já..." Pablo Neruda

Os nomes foram alterados por motivos óbvios.