quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fritando ovo de madrugada

Chegamos em casa de madrugada, após uma romaria pelos bares de BH, eu e meu amigo Luizinho, resolvemos jantar. Já passava de 2 h da madrugada, mas estávamos com fome. Na cozinha, percebo que só tem arroz e feijão. Resolvo:
- Vamos esquentar o arroz e feijão e eu vou fritar um ovo.
Frito o meu ovo, coloco no meu prato e percebo o Luizinho parado:
- Frita um ovo para você também, Luizinho.
Minha mãe sempre me ensinava alguns macetes da cozinha. Ainda que eu não seja um expert, coisas básicas, como fazer café, fritar ovo, eu sei muito bem. Meu amigo Luizinho, pega o ovo e percebo que ele não sabe como quebrar o ovo.
- Bate aí na quina do fogão, meio devagar.
Ele bate duas, três vezes, o ovo sequer trinca. Na quarta vez, espatifa o ovo. Começamos a rir.
- Psiu! Minha mãe está dormindo... Pega outro ovo!
Ele pega outro ovo, a mesma dificuldade de trincar o ovo. Quando consegue e vai abrir o ovo, esmaga toda a casca entre os dedos, metade cai na frigideira e metade no fogão. Percebi que ele nunca havia fritado um ovo na vida. E justo após algumas cervejas, quando estávamos mais pra lá do que pra cá, ele tenta aprender. Eu estava rindo, peguei outro ovo na geladeira e joguei para ele:
- Segura aí, ó!
Ele não consegue segurar e o ovo espatifa no chão. Já eram três ovos perdidos. Eu estava tentando segurar o riso para não acordar minha mãe ou minhas irmãs.
- Jairo, frita esta porcaria de ovo para mim, senão nós não jantamos hoje!

No outro dia, após os serviço, à noite, eu e o Luizinho íamos saindo e minha mãe pergunta:
- Aonde vocês vão?
- Ali, jogar sinuca, mãe. A gente não demora.
- Tudo bem! Mas, pelo amor de Deus, se vocês voltarem muito tarde façam o favor de não inventar de fritar ovo, que vocês sujaram minha cozinha tudo ontem. Tinha ovo pra todo lado, no fogão, no chão, na pia.
Eu e o Luizinho desatamos a rir.
- O Luizinho que não sabe fritar ovo, mãe!
- Vocês chegam de madrugada, de fogo e ainda inventam de fritar ovo??

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Minha primeira professora, orelhas e coleguinhas

Minha primeira professora era brava de verdade. Era muito bonita, foi Miss Formiga, alta e loira. Jovem, conhecia os alunos, um por um, dando a todos a devida atenção. Ou os devidos puxões de orelha. Naqueles anos (1968), os professores puxavam as orelhas dos alunos. Davam nota zero. Escreviam bilhetes nos próprios cadernos dos alunos. E ninguém ficava traumatizado com isso. Hoje em dia se a professora esbarrar no aluno ou elevar a voz, estará sujeita a responder processo. Atualmente o ensino caiu muito, os professores não conseguem disciplinar seus alunos e temos até mesmo as desagradáveis notícias de alunos agredindo professores. Ídolos na minha infância, são hoje alvos de alunos (e até mesmo pais) que acreditam que os professores não podem nada, nem dar nota baixa, nem chamar a atenção, nem reclamar do mau comportamento do aluno.
Dona Wanda Rodrigues levou um mês para conhecer seus alunos e descobrir os que tinham um bom aprendizado, eram alunos exemplares e os que não conseguiam acompanhar os demais. E muitos levavam puxões de orelha. Eu lembro do Remaclo, irmão do João Nabão e do Roseléu, que sofriam muito com a professora. Mas, justiça seja feita, sofriam não devido às dificuldades na aula e sim por causa dos deveres de casa. O Remaclo vez ou outra não fazia os deveres e o Roseléu apresentava o caderno todo sujo, inclusive um dia a professora mostrou uma enorme mancha de gordura. O próprio Roseléu disse que estava comendo pão com manteiga quando fez o dever de casa. Se a gente não percebia se o puxão de orelha foi forte ou fraco porque o Remaclo era negro, com o Roseléu não tinha jeito. Branquinho como ele só, a orelha ficava vermelhinha. Antes que comecem a dizer "que absurdo!", "que horror!", "mete um processo nesta fera!", vamos em diante...
 A professora reservou uma mesa para os quatro alunos mais "adiantados". Nesta mesa, uma mesinha retangular, com quatro cadeirinhas, duas lado a lado e duas nas cabeceiras, sentavam o Alberto Jorge, a Fátima, eu e um outro que não lembro corretamente se o José Vicente ou José César. Eram os quatro que viviam a tirar nota 10 nas provas. A partir do segundo semestre, o Alberto Jorge (o Beto) ganhou a fama de craque em matemática e ficando quase sempre em primeiro lugar. Eu era melhor em português, mas como não era tão fera em matemática, ficava em segundo ou terceiro. A Fátima também era muito forte em matemática, mas não superava o Beto. Ali naquela mesinha, estas quatro crianças faziam todos os deveres com capricho, atenção e excelente comportamento. Quem me via no recreio não acreditava que aquele garotinho tão agitado, que vivia correndo por todo o pátio da escola, conversando com todo mundo era o mesmo que ficava caladinho na sala de aula.
No fim de um mês, a prova de português veio mais difícil do que esperávamos. Aprendíamos as palavras novas de acordo com os cartazes que contavam a história d'Os Três Porquinhos. Poucos dias antes da prova a professora havia "revelado" mais um cartaz com palavras difíceis, como "caldeirão", "acenderam", "lareira" e "chaminé". Aquela parte da história em que os porquinhos acedem o caldeirão da lareira porque ouviram o lobo mau no telhado, tentando entrar pela chaminé. O tempo foi curto para que aprendêssemos as palavras com mais facilidade e percebi que meus colegas de mesa estavam com mais dificuldade que eu com estas palavrinhas. Só que tocou o sinal, avisando que era hora do recreio. A D. Wanda avisou:
- Virem a prova e tirem a merenda. Aguardem um pouco que vou autorizar a saída para o recreio.
Então, ouvi (eu só fiquei surdo seis anos depois) a voz desesperada da Fátima:
- Jairo, deixa eu copiar sua prova! Não estou conseguindo fazer; meu pai é muito bravo...
Fiquei olhando o Beto tirar o lanche dele (eu não levava lanche) e fiz que não era comigo (mas não virei a prova).
Mas não se passaram nem dois minutos e ouvimos a voz estrondosa e brava da D. Wanda:
- Fáááátiiimaaaa! O que você está fazendo, menina! Você está copiando a prova do Jairo Fernando!
E antes de terminar a frase e sem sabermos como, ela já estava ali do nosso lado, puxando as orelhas da Fátima. A menina deu um berro, começou a chorar, não sabia onde enfiar a cara. Nós outros três da mesa, imóveis como estátuas, olhos arregalados, vimos a professora pegar a prova da Fátima e colocar um zero enorme no alto da folha. Foi nesse momento que eu pensei que estava frito, que minha prova também ia ganhar um zero (algo que nunca ocorreu na minha vida de estudante) e que minhas orelhas iam conhecer a força da mão da D. Wanda. Ela me fitou, a mão tremulando. Ela tinha um carinho especial por mim e devia ser um dilema fortíssimo.
- Mas, Jairo Fernando, eu falei para virar a prova! Ah, não, Jairo Fernando!!
 Ela fitou meus olhos, triste e enraivecida ao mesmo tempo. Mas, eu não desviei os olhos. Acredito que meus olhos estavam tristes. Não considerei errado o que eu fiz. E a mão que vinha para minhas orelhas não veio. A D. Wanda provavelmente compreendeu que eu não fiz por mal. Que eu estava só ajudando a coleguinha em dificuldade.
Foi a única professora que me tratou por Jairo Fernando.
A Fátima levou um zero, ficou sem recreio no dia, levou advertência no caderno. Mas, ela nunca deixou de me cumprimentar. Aos domingos eu ia à missa e ela estava lá, com o pai e me cumprimentava numa boa. O pai dela participava da missa, fazendo o recolhimento das contribuições, levando os itens da eucaristia e cantando no coral. Ele era sério, tinha uma cara de bravo mesmo. Tinha um aerowillys azul claro. Enquanto cantavam "a missa terminou, já nos vamos retirar, voltamos para casa com Deus no coração...", eu passava próximo a eles e a Fátima me cumprimentava:
- Oi, Jairo.
- Oi, Fátima.
O pai dela me encarava, nada dizia, mas me cumprimentava com aceno de cabeça. Mais velho, eu ficava matutando comigo mesmo: será que ele sabe que eu era em parte responsável pela filha ter tirado um zero na prova?

domingo, 12 de junho de 2011

Globo e você, tudo a ver, a rede tem o poder!

Quando eu era mais novo e escrevia umas historinhas (são os diminutivos que ganharam vida própria, como por exemplo: radinho, ao invés de radiozinho), achava chique a ABL - Academia Brasileira de Letras, que reunia os grandes escritores do país. Pensava que se escritor fosse, meu nome um dia faria parte da ABL também. Hoje, escrevendo neste blog, contando "causos" e comentando fatos da vida e do país, acho que também vou pedir uma vaguinha lá na ABL. Porque Merval Pereira conseguiu seu assento na ABL, não devido às suas obras ou à sua importância para a literatura brasileira e sim por ser colunista do jornal o globo (é minúsculo mesmo). Sabe o que ele já fez de tão importante para a literatura brasileira? Escreveu dois (isto mesmo, você não leu errado, DOIS) livros. Na verdade, escreveu mesmo um só, porque o outro é uma coletânea de suas colunas do jornal (estou pesquisando no google os livros do global, mas mesmo com toda fama, está difícil encontrar). Escreveu "A Segunda Guerra, a Sucessão de Geisel" e "O Lulismo no Poder". Em 1979 recebeu o Prêmio Esso pela série de reportagens "A Segunda Guerra, a Sucessão de Geisel", publicada no Jornal de Brasília e escrita em parceria com o então editor do jornal André Gustavo Stumpf. A série virou livro com o mesmo nome. A cadeira dele na ABL deveria ser dividida com o editor do jornal que colaborou com a reportagem. E o perdedor? Antônio Torres é um escritor baiano e, é claro, não tem importância nenhuma para nossa literatura, pois não escreveu nada contra o Lula, não publicou nenhuma coluna no globo e não vai trazer para a ABL as câmeras de tv, a exposição dos imortais no Fantástico, as reportagens sobre os fardões e as entrevistas com os imortais. Ele só tem estas insignificâncias abaixo:
 Prêmios:
Romance do Ano - 1996 - Concedido pelo Pen Clube do Brasil.
•Prêmio Hors Concours - 1998 - União Brasileira dos Escritores
•Chevalier des Arts et des Lettres - 1998 - Condecorado pelo governo francês.
•Prêmio Machado de Assis - 2000 - concedido pela Academia Brasileira de Letras.
•Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura - 2001 - na 9ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo - RS.
Bibliografia:
Um cão uivando para a lua - 1972  Os homens dos pés redondos - 1973 Essa terra - 1976 Carta ao bispo - 1979 Adeus, velho - 1981 Balada da infância perdida - 1986  Um táxi para Viena d’Áustria - 1991 O centro das nossas desatenções - 1996 O cachorro e o lobo - 1997 O circo no Brasil - 1998 Meninos, eu conto - 1999 Meu querido canibal ¾ 2000 Essa Terra (edição comemorativa de 25 anos) - 2001 O Nobre Sequestrador -  2003 Pelo Fundo da Agulha - 2006 Minu, o gato azul - 2007 (história para crianças) Sobre pessoas - 2007 (crônicas, perfis e memórias)
Então, quando morrer outro imortal (os imortais da ABL morrem, o que fica imortalizado é o nome), vou lançar meu nome para concorrer à vaga. Afinal, o que importa não é a bibliografia do escritor e sim seu patrocinador. Não vou conseguir nenhuma emissora de tv para patrocinar minha candidatura, mas prometo divulgar a lista de todos os 40 imortais neste meu blog, todos os dias. E vou divulgar a ABL em Libras, para a comunidade surda, algo inédito neste nosso Brasil.
Saiba mais sobre a ABL clicando aqui. (vixi, entre os 40 imortais temos Ivo Pitanguy (cirurgião), José Sarney e Marco Maciel (políticos).
O site do Antônio Torres você visita clicando aqui.
O poder da globo interfere em muita coisa no Brasil. Infelizmente!


terça-feira, 7 de junho de 2011

Complicadas denominações modernas...

Sou totalmente contra piadas politicamente incorretas, tipo a que os caras do CQC fizeram/fazem, como a de que mulher feia deve agradecer ao estrupador e judeus não querem trem em Higienópolis, SP, porque a última vez que pegaram trem foram parar nos fornos de Auschwitz. Estas piadinhas são desagradáveis, não me causam riso algum. Existe o humor negro, sombrio e triste, que a gente vê/lê e ri. Porém, estão extrapolando de um lado e outro. O apresentador da Record, Marcos Mion foi processado por entidades ligadas aos grupos gay, acusado de homofobia. Após ler o que ocasionou o processo... o jeito foi rir. Em nenhum momento o apresentador faz qualquer afirmação homofóbica contra a entrevistada Nany People. A própria entrevistada disse não ter nada a ver com o processo e que não achou nada demais as perguntas do Mion.
Meu amigo sempre avacalhou com todos que fazem trejeitos sem querer. Ele tascava logo a frase do Severino, do Zorra Total:
- Tá parecendo uma bichona!
Vou recomendar a ele que pare com estas brincadeiras, pois corre o risco de ser preso por homofobia.
São tantos os colegas que brincam, nos cumprimentado com um "ô, viado", que também estão a correr o risco de serem acusados de homofóbicos.
O bullying é outro problema atual. Exceto pelos atos agressivos, os demais como apelidos, gozações e ironias sempre existiram, são comuns e ocorreram com a grande maioria dos estudantes de antes e de hoje. Todos superaram estes fatos numa boa. Só é inaceitável mesmo é o bullying agressivo, que não é somente a intimidação. Por que na escola sempre tem o valentão, que coloca medo em todos (no fundo é só a fama mesmo) e que na verdade não agride ninguém. Já relatei que nos meus anos escolares em Formiga, os filhos do delegado intimidavam todos os colegas, mas não agrediam ninguém. Aliás, eles mesmos tinham medo de um outro valentão, de série superior, que eu nunca vi brigar com quem quer que fosse, mas tinha uma fama de mau que aterrorizava todos. Clide era o nome do cara e o mais engraçado é que ele era baixinho, o primeiro da fila da sala dele (antigamente fazíamos fila e a ordem era crescente por tamanho). Ele tinha a fama de mau e alguns "guarda-costas" grandões e fortes.
Na questão de apelidos eu mesmo tinha o hábito de colocar apelido em quase todos os colegas. O Vinte-e-quatro, que sequer lembro o nome, era o apelido do colega que ficou com este número na chamada escolar (a professora de português fazia a chamada pelo número, não pelo nome).
- 23.
- Presente!
- 24.
- Presente!
E a sala toda desatava numa gargalhada só.
O Jáder eu apelidei de Janela; ele gostava mesmo de sentar próximo à janela. O Gaguinho era gago mesmo, mas dele eu lembro o nome, Roberto, que se tornou amigo, pois eu e ele éramos da Caixa Escolar (pobres ou financeiramente necessitados) e vez ou outra dividíamos a merenda, pois quando atrasávamos acontecia de a merenda acabar. O Baixinho era o primeiro da fila, baixinho mesmo. O Iguinácio era o Ignácio, "Inácio" até o dia que vi ele assinando o nome com o "g" e passei a chamá-lo de Iguinácio e todos acompanharam. Por estranho que pareça, não havia apelidos relacionados a cor, embora tivéssemos vários colegas negros. O Matusalém era negro, usava óculos de fundo de garrafa (eu só passei a usar óculos após ficar surdo) e embora alguns o chamassem de Quatro-olhos, eu o chamava de Matus (a redução de nomes a algumas sílabas não é uma coisa de hoje não, há séculos a criançada faz isso). Eu também sou Quatro-olhos. O meu primo chamava o nosso colega Kaminsky de Caminscola (não sei se era iugoslavo ou polonês). Estes, colegas do tempo em que estudei na Escola Normal de Formiga.
Alguns amigos meus, negros, são chamados de Negão, os "Josés" de Zé Preto, sem contar os inúmeros Pelés que povoaram minha infância. Apelidos relacionados à cor da pele. Nenhum deles jamais se sentiu ofendido por causa destes apelidos.
Porém, hoje em dia, parece que teremos que tomar cuidado ao tratar algumas pessoas, amigas ou não.
- Você conhece aquele rapaz?
- Qual?
- Aquele afrodescendente verticalmente prejudicado.
- Cumé???

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ele errou o gol! (Contando ninguém acredita)

Ele consegue uma jogada de mestre; um drible espetacular no goleiro e com o gol livre à frente, erra feio. Se tivesse feito o gol seria apenas mais um, mas errou e se tornou famoso. O vídeo está bombando no youtube.