sexta-feira, 28 de maio de 2010

Novos lugares para idosos...

De vez em quando não tem jeito: começo a rir ao ler o Jornal do Ônibus, publicado pela BHTrans. Uma vez eu li a mensagem (tem tempo), mais ou menos nesse contexto: "Não entrar dentro do ônibus soltando fumaça de cigarro". Porque alguns fumantes dão o último trago diante da porta dianteira e entram no ônibus soltando a fumaça. A crítica está correta, mas o português!!! Entrar dentro? O famoso pleonasmo!
Tem muito tempo que vi isso e não é fácil encontrar a edição correta. Apesar destes deslizes, o jornal tem informações úteis, como nesta última edição (miniatura ao lado). Vá ao museu sem sair de casa, acessando Museus Virtuais. Legal, eu visitei o Museu de Artes e Ofícios. Praticamente passo aí em frente todo dia. Devo deixar a preguiça de lado e visitar "in loco".
Ontem percebi outra. Foi criado o Cartão Master, que permite aos idosos transpor a roleta. Até a pouco tempo atrás idosos, gestantes, deficientes e obesos ficavam espremidos na parte da frente. Depois, modificaram o passe livre do deficiente, possibilitando ao mesmo transpor a roleta. Muito bom, pois deficiente namorado/casado com pessoa "normal" tinha que viajar separado. Quando eu tinha passe livre tinha que ficar pagando passagem para não viajar separado de minha esposa. Ou mesmo quando estava junto com minhas irmãs, era preferível pagar e sentar com elas na parte de trás.

Na seção Gentileza Urbana, no canto direito inferior do jornal, está escrito o seguinte:

A manchete principal, que fala sobre o lançamento do Cartão BHBus Master, em seu corpo está correta. Explica que os "idosos podem passar para a parte de trás dos ônibus"  Na mensagem acima está faltando a palavra PARTE. "Assentos preferenciais na parte da frente e na parte de trás do ônibus".
Mas, depois eu descobri que a frase não está errada não. Esquadrinhando o site da Bhtrans, encontrei o modelo dos novos ônibus que passarão a circular após a Copa do Mundo, já com os assentos preferenciais na frente e atrás do ônibus.
Brincadeirinha, pessoal...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Comemorar derrota de rival?

Quem levantou a bola foi o Domingos Sávio Baião, que escreve para o jornal O Tempo. Aqui em Minas os rivais, Cruzeiro e Atlético vivem muito mais da rivalidade do que das conquistas. No mais recente "confronto" houve foguetório quando o Atlético perdeu para o Santos e o Cruzeiro para o São Paulo, respectivamente pela Copa do Brasil e Libertadores. O que eu acho mais engraçado ainda é que, no dia seguinte às derrotas, torcedores vestem a camisa do time. O Santos ganha, o cruzeirense sai com a camisa do Cruzeiro. O São Paulo vence, o atleticano sai com a camisa do Atlético. Dá vontade de chegar para estes torcedores e perguntar:
- Mas, não foi o Santos/São Paulo que ganhou?
De uns tempos para cá, comemora-se muito mais as derrotas dos rivais do que as próprias conquistas. O Cruzeiro ganhou o Campeonato Mineiro ano passado, o Atlético ganhou esse ano. Ah, não, tenha a santa paciência, o Campeonato Mineiro não causa nenhum entusiasmo, afinal, todo ano tem, todo ano Cruzeiro e Atlético participam e todo ano são favoritos. Se não ganhou este ano, ganha ano que vem ou daqui a dois anos, mas ganha, porque é favorito, com time bom ou ruim.
Antigamente, quando os adversários perdiam, um silêncio sepulcral imperava por toda a cidade. Não havia foguetório, nem carreata.
Eu já disse que sou cruzeirense. Sempre torci contra o Atlético. É normal em todo torcedor, se o rival está jogando, claro que vamos torcer contra. Mas nunca, jamais, comprei camisa de time que venceu o Atlético ou saí comemorando a derrota atleticana. No máximo tirava/tiro, um sarro dos amigos atleticanos no outro dia.
Estão desvirtuando a noção do torcedor, que é torcer para o SEU time, comemorar as conquistas/vitórias do SEU time. Porque não existe maior absurdo que torcedor comprar foguete para comemorar derrota de rival.

sábado, 22 de maio de 2010

Ah, o amor...

- Mamãe, o papai não te ama?
- Porque está perguntando isso, filha?
- Porque ele foi embora? Ele só vem me buscar ou me ver, mas não quer ver você.
- Às vezes acontece de o amor além de unir, separar.
- E ele te amava muito?
- Alguns dizem que o ciúme é uma prova de amor e seu papai era muito ciumento comigo. Para evitar o pior, decidimos que era melhor nos separarmos.
- Algum outro homem já te amou, mamãe?
- Sim.
- E porque você não ficou com ele, então?
- Porque eu já era casada com seu papai quando eu o conheci.
- E eu já tinha nascido?
- Não.
- Ele gostava de você mais do que meu papai?
- Sim.
- Porque?
- Não tem uma explicação lógica para isso, minha filha. Algumas vezes apenas sentimos que um amor é maior que outro. Às vezes, justamente um amor que nos causa muito sofrimento.
- Porque sofrimento?
- Pela impossibilidade de estarmos juntos. Por somente sentir, desejar e amar à distância. Quase que um amor platônico. Mas era real, presente, o afeto, o carinho e a empatia que tínhamos.
- Porque você não o procura? Eu vou entender mamãe!
- Porque agora ele é que está casado.
- Ele me conhece?
- Sim, ele te viu algumas vezes, quando você era pequena.
- Você tem uma foto dele?
- Não.
- Eu posso conhecê-lo?
- Não. Porque você iria querer conhecê-lo?
- Por que quando você fala dele, mamãe, seus olhos brilham, sua voz fica num tom tão meigo, no mesmo tom que você fala comigo quando estou doente. Seu semblante fica feliz, como quando mostro meu boletim escolar para você. Amo meu papai, mas também gosto deste estranho, porque você fica feliz só de falar dele.
- Não há coração igual o seu, minha filha! Mas, agora estamos em situações opostas. Ele está casado e tem filhos.
- E você ainda o ama, não é, mamãe?
- Você é muito esperta também, minha querida. Não vou negar.
- Se você pudesse voltar atrás você ficaria com ele?
- Não, minha filha. Porque o que vivenciamos hoje é fruto das decisões do passado. Você existe, está aqui comigo, devido ao meu passado. E você, minha querida, eu não troco por nada nesse mundo!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Contando ninguém acredita! (Outro gol incrível!)

Eu nem sabia que tinha brasileiro jogando na primeira divisão do Paraguai. Mas, o brasileiro Inca, do Sol de America, fez um golaço e estampou as manchetes dos jornais paraguaios. Como hoje a internet permite repercussão instantânea, o gol está no youtube.
Jogo entre o Olimpia, que os brasileiros conhecem por causa da Libertadores e o Sol de America. O Sol de America venceu por 2 x 1, com o gol de Inca, batendo fallta do meio de campo, aos 35 m do segundo tempo. E ainda foi o gol do desempate.
Incrível mesmo!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Lendas urbanas: notebook de graça.


Como continua circulando (eu recebi um e-mail ontem), vou relembrar algumas lendas urbanas. Essa é a lenda dos "laptops" (expressão utilizada antigamente) ou notebooks, que você pode ganhar de graça.
 O e-mail:
 "Prezados,
A empresa Ericsson está distribuindo gratuitamente ‘lap tops’ com o objetivo de se equilibrar com a Nokia, que está fazendo o mesmo. A Ericsson deseja assim aumentar sua popularidade. Por esse motivo, está distribuindo gratuitamente o novo Lap Top WAP. Tudo o que é preciso fazer é enviar uma cópia deste e-mail para 8 (oito) conhecidos. Dentro de 2 (duas) semanas você receberá um Ericsson T18. Se a mensagem for enviada para 20 (vinte) ou mais pessoas, você poderá receber um Ericsson R320.
Importante!
É preciso enviar uma cópia do e-mail para Anna.swelung@ericsson.com
Não é trote. Funciona.
Cordialmente,
Josiane Alano Rodrigues"

É um hoax.
HOAX - Dá-se o nome de hoax ("embuste" numa tradução literal) a histórias falsas recebidas por e-mail, sites de relacionamentos e na internet em geral, cujo conteúdo, além das conhecidas correntes, consiste em apelos dramáticos de cunho sentimental ou religioso, supostas campanhas filantrópicas, humanitárias ou de socorro pessoal ou, ainda, falsos virus que ameaçam destruir, contaminar ou formatar o disco rígido do computador. (Wikipédia)
Essa lenda surgiu no ano 2000, com a falsa mensagem assinada por Anna Swelund, Gerente Executiva de Promoções de Marketing da Ericsson. Esta primeira mensagem indentificava corretamente os aparelhos T18 e R320, que são na verdade, aparelhos celulares.
 
Qualquer empresa que fizer distribuição gratuita indiscriminada de aparelhos de sua fabricação estará falida em pouco tempo. Ainda mais distribuir para quem repassa e-mail. Imagine a alegria dos spammers e a quantidade de aparelhos que eles receberiam!
 Em 2006, a mensagem foi modificada, e os “laptops” tomaram o lugar dos celulares.  

A Ericsson, hoje Sony Ericsson, nunca produziu notebooks (laptops).
 Mas, como o e-mail continua circulando, parece que o pessoal acredita mesmo que vai ganhar um notebook da Ericsson. O aparelho T18 são estes das imagem ao lado. 

Não consegui encontrar uma imagem do R320, de tão antigo ele é.


domingo, 16 de maio de 2010

Os surdos com Síndrome de Usher.

Não são considerados como parte de uma Identidade Surda, mas são um grupo de surdos específicos. São os surdos que têm problemas graves de visão, os surdos-cegos e os acometidos da Síndrome de Usher. Esta síndrome é de origem genética, com graus variáveis e associada à surdez. Presente no nascimento, a perda gradual da visão se inicia na infância ou na adolescência. A cegueira, parcial ou total, é causada pela retinose pigmentar. Uma característica marcante desta síndrome é a perda da visão periférica, das laterais, com somente a visão central permanecendo por mais tempo. Porém, como a perda é gradual, muitas vezes o surdo acaba cego e totalmente dependente de terceiros.

Somos dependentes da audição ou da visão para nos comunicarmos. Com a perda de ambos os sentidos, torna-se extremamente difícil a comunicação. Surdos que perdem a visão após aprenderem a Libras têm condições de se comunicar através do tato. Mas, o aprendizado inicial de surdos-cegos de nascença é muito complicado e não é o que vou abordar aqui.

Conheci, no meu trabalho junto aos surdos, seis surdos que tinham a síndrome. Porém, não havia um entendimento geral sobre o problema que os afetava, porque existem quatro tipos de Síndrome de Usher. Como estes seis apresentavam características diferentes, não associávamos a todos o mesmo problema. Quando um dos nossos colegas passou a ter dificuldades para trabalhar, devido a perda total periférica, procurei me informar melhor sobre o que estava ocorrendo com ele. Foi nesse momento que eu pesquisei e tomei conhecimento desta síndrome. Com auxílio do intérprete que trabalhava conosco, encaminhamos o colega para especialistas. A doença foi confirmada. Nosso colega tinha muita dificuldade de trabalhar, com digitação de dados (já não enxergava muito bem os dados no papel e consequentemente errava muito). Insistimos e o mesmo se aposentou por invalidez.

Com os demais colegas, não havendo a perda da qualidade do trabalho, só informamos que eles tinham um problema sério e que deveriam cuidar o quanto antes. Infelizmente, alguns consideraram que o problema não era a síndrome e sim problema visual. Eu explicava que não era a mesma coisa que miopia ou hipermetropia, que possibilita a correção com lentes. Um dos colegas não aceitou que tivesse esta síndrome (que ele nunca tinha “visto” falar). Mas, uma vez que já estávamos entendendo a doença, bastava sair do campo de visão central dele e perceber que ele não “encontrava” a gente, pois a visão periférica já estava comprometida.

Com o encerramento do trabalho junto aos surdos, não foi mais possível acompanhar estes colegas e a progressão da doença.

Estes são os nossos amigos surdos que enfrentam uma dificuldade ainda maior do que a simples surdez. Alguns insistem em caminhar sozinhos pela cidade, pegar ônibus, ir em associações. Porém, recusam o uso da bengala, que poderia ajudá-los bastante. Entre todos os diferentes tipos de surdez, identidades surdas e graus de deficiência, os surdos com Síndrome de Usher, são os que mais dificuldades enfrentam para continuarem sua convivência social.

sábado, 8 de maio de 2010

Pé esquerdo e face direita

Acordo atrasado. Droga! Dormi demais! Troco de roupa apressado, vestindo a calça pulando numa perna só, igual um saci pererê. Nem tomo café. Acordei mesmo com o pé esquerdo. Vou quase correndo para o ponto do õnibus. Viro a esquina e vejo o ônibus já passando. Corro uns 20 metros atrás do ônibus, mas o motorista não para. Ah, eu adoro motoristas de ônibus. Pelo retrovisor vejo o largo sorriso do motorista. Vou chegar atrasado; eu que sou o primeiro a chegar todo dia! O próximo ônibus passa quase 15 minutos depois, ao invés dos costumeiros 5 minutos. Chego atrasado 23 minutos. E não dá  para acreditar, &#!*$@%, o meu chefe já está na mesa dele. E não disfarça a olhadinha no relógio quanto entro na sala. Inacreditável! O homem chega quase todo dia depois de 10 horas e hoje, logo hoje, resolve madrugar. Tropeço no cesto de lixo que a faxineira deixou no meio do caminho, &%$*@#. O jeito é trabalhar para desanuviar o ambiente, mas não tem jeito. O chefe chega, diz que tenho que refazer todo o serviço que fiz ontem, pois faltaram algumas informações. Ah, sim, as informações que faltaram foram as dele! Passo o resto do dia concentrado no serviço. Quando vou embora, aquela menina que eu adoro vem em minha direção com um sorriso lindo. Conversa comigo, ri comigo, cria uma descontração harmoniosa e permite que eu a acompanhe até seu ponto de ônibus. Beija minha face direita ao se despedir. Quando entro no meu ônibus e vou para casa, meu sorriso, meu semblante, meu olhar, é de paz. Minha mãe pergunta como foi o dia. Hoje foi o dia mais feliz do ano, mãe.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Surdos num show da dupla Zezé di Camargo e Luciano

Meu amigo Everaldo envia e-mail contando que participou da festa em homenagem ao dia dos trabalhadores, promovida pela atual empresa dele, a Fiat, em Betim. Show de Zezé di Camargo e Luciano. Ele ressalta: "Foi muito emocionante o interesse da dupla, em especial do Luciano, com os surdos presentes. O Luciano filmou e tirou fotos da gente cantando as musicas dele em LIBRAS com o celular e postou no twitter oficial da dupla. E ainda convidou os surdos para tirar fotos com eles após o show." ... "É muito bom ver uma pessoa famosa se interessar de verdade pela LIBRAS e pelos surdos, respeitando sua cultura."
Quando li o e-mail também considerei muito legal da parte dos cantores o apreço pelos deficientes. E fui até o twitter da dupla e tive dificuldade em encontrar as fotos e os vídeos. Em relação ao twitter ainda estou engatinhando. Mas, havia um link para o site deles e lá foi possível assistir um vídeo com o pessoal cantando em Libras (tem que rotacionar o vídeo para visualizá-lo corretamente). Só que não reconheci o meu amigo naquele bermudão, de óculos escuros, parecendo um boy. Solicitei que ele me enviasse os links das fotos, para eu comentar e postar aqui. Qual não foi minha surpresa quando ele mandou o mesmo vídeo que eu já tinha assistido. Prestei atenção, rotacionei o vídeo para ele ficar "em pé" e só então percebi que o cara de bermudão era meu colega, com a esposa e o filho.
A filmagem foi feita de cima para baixo (foi o Luciano que filmou, do palco). Acredito que ele realmente ficou emocionado em saber que parte do público não estava ouvindo a música, mas entendendo a letra e "imaginando" ritmos e sons.

Lembrando que tem que clicar em "rotate" (a seta em curva) para o vídeo ficar na posição correta. Você pode clicar no vídeo quando ele já estiver em exibição, para ir à página da dupla e ler os comentários postados.

terça-feira, 4 de maio de 2010

As diferentes identidades surdas - Parte III

O que torna as diferentes identidades surdas desunidas é tão somente a barreira da comunicação. A mesma que muitas vezes exclui os surdos (quase todos) da convivência harmoniosa com os ouvintes. Um surdo oralizado e um surdo que só entende Libras não conseguem vencer a barreira da comunicação. Normalmente, um se irrita com o outro. Este problema não se aplica às demais deficiências. Há diferenças entre os cegos, os cadeirantes, os deficientes físicos, deficientes mentais, etc. Cegos que utilizam braile e cegos que, sabem braile, mas preferem ouvir o texto. Todos os demais deficientes têm um grau de deficiência, da mesma forma que os surdos. Mas, a comunicação entre eles é facilitada, não há barreiras. A desunião dos surdos envolve muitas problemas e a impaciência é um dos maiores. Surdos oralizados que tentam conversar com surdos que só utilizam Libras se irritam, quando não entendem e não são entendidos. O oralizado ainda tenta escrever, mas o surdo que só usa Libras não entende o português formal. É muito complicado. Surdos oralizados lutam mais por melhorias em seu viver, solicitando legendas, textos, avisos visuais ou luminosos. Os surdos que não têm interesse nestes quesitos, lutam por escolas não inclusivas, por intérpretes de Libras em todos os ambientes, por benefícios governamentais mais abrangentes. Devido justamente às características e causas da surdez, um grupo de surdos luta pela inclusão da legenda em todos os programas televisivos e outro grupo luta pela exibição do intérprete de Libras. Eu concordo com ambas lutas. É, realmente, uma característica muito positiva da Identidade Surda Híbrida. A capacidade de conviver bem com todas as outras identidades. Minha convivência com todos os diferentes tipos de surdos proporcionou conhecimento suficiente para respeitar e colaborar com todos. Colaborar com a luta dos grupos de surdos, suas diferenças. Fico em desacordo com algumas idéias, principalmente as que procuram excluir os próprios surdos, só porque suas identidades (e costumes) são bastante diferentes, mas, na maior parte, incentivo todas lutas.
Como eu já disse, a maior luta é pela paz e união entre todas as diversas Identidades Surdas.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

As diferentes identidades surdas - Parte II

Eu já fiz palestras no Dia dos Surdos e utilizei a expressão deficiente auditivo. Apesar de que, em Libras eu utilizei o sinal de surdo. Eu falo e faço os sinais ao mesmo tempo. Qual não foi minha surpresa quando no outro dia um colega surdo (ele já é quase surdo-cego, instrutor de Libras e membro da banca de avaliação dos intérpretes de Libras) me cumprimentou rindo:
- "Você DA" - em Libras, o sinal de "você" e as letras DA, usando o alfabeto manual.
Não entendi de primeira, devido ao contexto da frase em português "Você da" e perguntei o que?? Ele repetiu, e percebendo que eu não estava entendendo escreveu o significado de DA, "Você Deficiente Auditivo". Me irritou o riso de deboche. Mas, é o que ocorre com a comunidade surda. Como eu sou surdo e falo normal, como eu falo português e Librras fluentemente, fui convidado para a palestra e ele não. O que ele faz? Procura desmerecer minha participação nas festividades do Dia do Surdo porque uso a expressão Deficiente Auditivo. Eu sou calmo, tranquilo, apesar de ficar muito chateado com a ironia, respondi rindo:
- Eu surdo profundo. Escuto nada, nada. Zero. Eu DA não. Você escuta pouquinho? Você DA. - em Libras e nem precisa da tradução em português porque dá para entender.
Apesar de estar rindo, meus olhar era de raiva e ele percebeu. É uma característica muito boa de nós surdos, a capacidade de interpretar as expressões faciais. Ele riu descontraidamente e fez o sinal de brincadeira.
Mas, são estes pequenos entreveros entre surdos que tornam a comunidade surda uma das mais desunidas.
Os surdos oralizados, infelizmente, em sua maioria não aceitam a Libras e não aceitam os surdos que se expressam mal em português. Consideram a Libras um retrocesso, um estereótipo do surdo ignorante. Têm um preconceito muito grande em relação aos surdos não oralizados. Esquecem que nem todos tiveram a oportunidade deles, a estrutura familiar e as condições para aprenderem o oralismo. Ora, um surdo pobre, com pais que mal sabem ler e escrever, dificilmente terá oportunidade de aprender português corretamente e de praticar oralismo. A influência familiar para o aprendizado do português e oralismo é muito importante. Porque é ali, desde a infância que o surdo oralizado vai aprender a escrever corretamente, principalmente com a mãe corrigindo todas as vezes que ele escrever ou pronunciar uma palavra errada.
Esta questão se reflete também nos textos. Um surdo oralizado, um surdo como eu (híbrido), têm preferência por traduções em texto e não Libras. Se é uma entrevista, um filme, novela ou jornal, o texto é muito mais prático que a Libras. Mas, diferentemente dos surdos oralizados, numa palestra em auditório eu solicito o serviço de um intérprete. O oralizado não; ele prefere ler diretamente nos lábios do palestrante. Há diferenças também em relação ao intérprete. Eu prefiro o intérprete que fala ao mesmo tempo que traduz em Libras. Porque eu vou complementando com uma e outra língua. O que não pego em Libras, leio nos lábios do intérprete e vice-versa.
Quando digo que a comunidade surda é a mais desunida, dou como exemplo eleições de deficientes. São eleitos, com votos maciços de sua própria comunidade, cegos e cadeirantes. Porém, não temos surdos eleitos (aqui em Belo Horizonte).
Muitas vezes, em discussões pela net, eu e alguns outros surdos tentamos apaziguar os ânimos exaltados dos que apóiam e dos que odeiam Libras. Sempre repetimos que "somos todos surdos, irmanados na mesma deficiência! Não tem porque ficarmos nos agredindo!".
Esta sim, deve ser a luta dos surdos, paz e união entre todas as diversas Identidades Surdas.
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

As diferentes identidades surdas - Parte I

O que une a maioria dos surdos não é a surdez e sim sua identidade surda. São diversas identidades diferentes, grupos de surdos diferentes. Os estudiosos da cultura surda citam diversas identidades de surdos, não somente as mais comuns, que são o surdo e o surdo oralizado. Quando se diz surdo oralizado não é o surdo como eu, que fala normal, mas é 100% surdo e sim o surdo que nasceu surdo e aprendeu a falar através do oralismo, sem ter contato com a língua gestual (Libras). São diversas identidades surdas, sendo a mais comum a Identidade Surda, a Identidade Surda Híbrida e a Identidade Surda de Transição
Para um melhor entendimento do que são as Identidades Surdas clique nos links para ler sobre As Identidades Surdas e um texto mais completo sobre a cultura surda do NAI, da PUC.
Identidades Surdas (Gladis Perlin)
NAI - PUC - Notícias (Érica Macedo)-(o texto sobre as Identidades Surdas está quase no final).
O que mais me entristece em todo este imbróglio é que alguns surdos não aceitam outros surdos. Alguns surdos oralizados não aceitam surdos que usam a Libras. E alguns surdos que usam Libras não aceitam alguns oralizados. Eu convivo bem com todas estas identidades surdas. Minha identidade surda é a Híbrida, surdos que nascem ouvintes e posteriormente, por motivo de doença ou acidente, se tornam surdos. Esta é a identidade que mais pacificamente convive com todas as outras. E que também são chamados de surdos oralizados. Os surdos oralizados, da Identidade Surda de Transição nem sempre passam do mundo auditivo para o visual. São surdos que se orgulham de seguir todos os princípios dos ouvintes e que utilizam o máximo de tecnologia que possam torná-los ouvintes (IC (implante coclear), AASI (aparelho auditivo)) e rejeitam a Libras.
É importante ressaltar que em todas as identidades há exceções. Conheço surdos oralizados que não utilizam Libras, mas que convivem em harmonia com surdos que utilizam. E conheço diversos surdos da Identidade Híbrida que detestam Libras e não aceitam este método de comunicação. Porém, os textos não vêm com um "a maioria" e eu não vou ficar retificando que nem todos os surdos de uma identidade são estritamente como espeficificados.
Eu tenho o hábito de falar e escrever deficiente auditivo. É um hábito enraizado, uso esta expressão há anos e nunca me incomodou. Porém, incomoda os surdos da Identidade Surda, pois eles preferem ser chamados de surdos. Eu sou indiferente a isto, para mim, tanto faz surdo como deficiente auditivo. Não considero deficiente auditivo um termo pejorativo. Cientificamente eu sou surdo e alguns colegas meus, surdos que usam Libras, são na verdade, deficientes auditivos, porque eles tem algum grau de audição e eu não. Eu acho que este tipo de discussão não acrescenta nada à cultura surda. A denominação não é o que interessa. Ser chamado de surdo ou deficiente auditivo não vai modificar nada no meu viver. Como eu disse, há exceções para todos os casos. Se há oralizados intransigentes com a Libras, também há surdos que ironizam os surdos que utilizam a expressão deficiente auditivo. Tanto que criaram as iniciais DA para identificar o surdo considerado deficiente auditivo.

sábado, 1 de maio de 2010

Te conheço?

O jovem veio em minha direção, sorridente e com a mão estendida:
- Como vai, Jairo? Tudo bem?
Eu fitei o jovem longamente, mas não consegui resgatar a imagem no mais profundo da minha memória. A memória só possibilitou uma leve lembrança da pessoa, mas eu não sabia de onde, quando e porque!
- Tudo bem, e você? - perguntei também, completamente sem graça. Este tipo de situação me deixa meio perdido; não sei se digo logo que não lembro de onde nos conhecemos ou se aguardo a memória trazer uma luz. Quando a conversa se prolonga eu acabo confessando não me lembrar da pessoa, desistindo de tentar lembrar de onde nos conhecemos.
- Trabalhando muito, como sempre. E voce ainda continua com o trabalho junto aos surdos?
Ah, ele me conhecia do meu antigo trabalho. E também sabia conversar comigo, falando pausadamente, sem exagerar.
- Não, o trabalho com os surdos encerrou-se definitivamente ano passado. Atualmente eu sou funcionário público.
- Que bom! Mas, olha, Jairo, estou com pressa danada. Vou indo. Uma outra vez a gente conversa direito, certo?
- Certo!
Apertamos-nos as mãos e ele se vai. E eu fico remoendo a memória tentando lembrar onde nos conhecemos. Mas, não consigo. É muito chato conversar com uma pessoa que sabe quem você é e você não tem idéia de quem é ela. Mas, colegas já me disseram que quando trabalhei com os surdos fiquei exposto e é claro que as pessoas me conheceram mais do que conheci as pessoas.
É igual quando uma pessoa passa de carro e grita seu nome. Você se volta, não reconhece o carro e não tem condições de visualizar a pessoa. E se esta pessoa não se encontrar com você recentemente e dizer que te viu naquele lugar, você nunca saberá quem foi que gritou seu nome.