quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Surdos e os esportes olímpicos

O Parapan-americano foi um sucesso para os atletas deficientes do Brasil. Conquistamos mais que o dobro de Medalhas de Ouro do segundo colocado, o Canadá. Os atletas deficientes do Brasil estão de parabéns. Mostraram que é possível superar as barreiras das deficiências e participar ativamente de diversas modalidades esportivas. O futebol de 5 (cegos) ganhou a final contra a Argentina (2x1). O futebol dos cegos utiliza uma bola com guizo. Os goleiros não são cegos.

O Brasil conquistou medalhas em praticamente todas as modalidades. Mostrou um grande desempenho e bateu diversos recordes.
Mas, e os surdos? Porque eles não participam do Parapan ou das Paralimpíadas? Porque desde 1924 os surdos têm o seu próprio evento, as Surdolimpíadas. Mas, ter nosso próprio evento sem a carona das Olimpíadas não permite que as Surdolimpíadas tenham a projeção que as Paralimpíadas têm. As mídias quase nada divulgam das Surdolimpíadas. Não ter espaço midiático para o evento torna as Surdolimpíadas praticamente desconhecida. Atletas famosos nas piscinas, como Clodoaldo Silva e Daniel Dias, deficientes físicos, têm grande espaço midiático. Surdos se sobressaem justamente quando estão atuando junto com os ouvintes, caso da jogadora de vôlei Natália Martins, que atua profissionalmente no Brasília Vôlei. É a primeira atleta surda contratada profissionalmente no vôlei, que atua na Superliga Feminina e também na Seleção Brasileira. Ou seja, os surdos se destacam justamente por ser um diferencial no meio dos ouvintes e não por participarem de sua própria competição. Aqui a reportagem de 2014, com Natália Martins, quando ainda jogava pelo Praia Clube e foi convocada para a seleção.

O espaço midiático para as Surdolimpíadas existe, mas é pouco. A última Surdolimpíadas foi realizada em 2013, em Sófia, na Bulgária. O Brasil levou 19 atletas. Conquistou 1 medalha de prata e 3 de bronze, ficando em 37º lugar. Progrediu bastante em relação aos anos anteriores. Mas ainda estamos longe dos primeiros colocados. A Rússia conquistou 177 medalhas. Das medalhas que o Brasil trouxe, três medalhas (1 prata e 2 de bronze) foram conquistadas na natação e mais 1 de bronze no karatê. 

Em 2007 estive em diversos eventos desportivos dos surdos, junto com o presidente da CBDS (Confederação Brasileira Desportiva dos Surdos) à época. Foi quando ele me esclareceu os motivos de os surdos terem suas próprias competições. Tivemos bons debates relacionados ao tema. Eu era a favor de que os surdos participassem das Paralimpíadas ou tivessem o seu evento na mesma data e local. O Presidente da CBDS esclareceu que seguia a recomendação da Organização Mundial dos Surdos, mantendo a filiação das entidades de surdos descoladas dos Comitês Olímpicos. Assim, sem a filiação ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e nem ao CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro), os surdos não podem participar dos jogos paraolímpicos. A CBDS também não recebe verbas governamentais. 

Para ver mais imagens das Surdolimpíadas de 2013, na Bulgária, clique AQUI (portal UOL).
Mais informações sobre as Surdolimpíadas, na Wikipédia (clique AQUI).


A próxima Surdolimpíadas será realizada em 2017, em Ankara, Turquia.

Continuo com a opinião de que os surdos deveriam sim, se filiar aos Comitês Olímpicos e participar das Paralimpíadas. Além da grande visibilidade que as Paralimpíadas têm, as verbas e patrocínios seriam fonte importantíssima para que muitos atletas surdos se profissionalizassem. Também seria motivacional para a prática esportiva. 



Atualizando: o termo Paralimpíadas passou a ser utilizado a pedido do Comitê Paralímpico Internacional. Dos países de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), somente o Brasil utilizava o termo Paraolímpiadas. A mudança foi anunciada no ano passado. Leia mais AQUI.