terça-feira, 28 de setembro de 2010

Aposentadoria diferenciada para deficientes

Quando ainda trabalhava junto aos surdos participei ativamente da campanha do ex-Deputado Federal Leonardo Mattos, pois ele foi um dos que mais batalharam para a aprovação do Projeto de Lei que beneficia os deficientes com aposentadoria diferenciada. Leonardo é deficiente físico, cadeirante, e batalhou realmente para a aprovação deste projeto. É um dos poucos políticos deficientes que ampliou sua participação em benefício de todos e não somente dos deficientes que têm a mesma deficiência dele. Os deficientes físicos mais complexos, como os tetraplégicos, os deficientes mentais, os que têm deficiencias múltiplas, entre outros, têm uma expectativa de vida menor. Devido a este fato foi que o Projeto de Lei buscou reduzir os prazos para a aposentadoria dos deficientes. Também não ignorou os demais deficientes, que têm deficiências menos complexas. Assim, o Projeto de Lei procura beneficiar todos de acordo com o grau da deficiência. A redução no tempo de contribuição, de acordo com o grau da deficiência, seria; de 5 anos, para o grau leve, de 8 anos, para o grau moderado e de 10 anos, para o grau severo. Também na idade, redução de 5 anos. Os homens deficientes poderiam solicitar a aposentadoria com 60 anos e as mulheres deficientes com 55, desde que o deficiente tenha contribuido com o INSS por pelo menos 15 anos.
A aprovação do Projeto de Lei pela Câmara dos Deputados ocorreu em 14 de abril de 2010.
A matéria está repercutindo atualmente entre os surdos, talvez porque não foi dado o devido destaque quando da aprovação. Recebi diversos e-mails divulgando a aprovação, mas alertei a todos que a data era 14 de ABRIL e não setembro. O projeto seguiu para análise do Senado Federal. Somente políticos com trânsito nas duas casas poderia informar como está o andamento do processo.
Se aprovada, esta será uma Lei muito importante para os deficientes.
Leia a matéria no site G1: clique aqui.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Tropa de Elite e o Ibope

A Rede Globo, politicamente é um horror, pois para ela o Brasil está atrasado, quebrado, falta tudo e o governo não faz nada certo. Mas, afora a política, reconheço o esforço da emissora em colocar Closed Caption em seus programas, beneficiando os deficientes auditivos. Ontem, com espanto, percebi que o Esporte Espetacular estava com legendas! E logo depois, o Programa do Didi, também com legendas. Lembrei, com nostalgia, que assisti Os Trapalhões durante anos, quando ainda ouvia e mesmo depois que fiquei surdo continuei acompanhando o programa, independente da dificuldade de compreensão de muitas esquetes. Devido à política, e principalmente devido à proximidade das eleições, não assisto aos jornais da Globo. Assisto o Fantástico, em parte, pelos gols da rodada e também pelas matérias sobre a natureza (o lagarto caminhando sobre as águas é uma imagem marcante).
Estava aguardando os gols e surgiu a reportagem sobre o filme Tropa de Elite 2. Passam algumas cenas do filme, as gravações na favela, o Capitão Nascimento que agora é Coronel, o Bope e o Caveirão. Minha esposa adentra o quarto e eu estou rindo alto. Ela se espanta;
- O que que tem de engraçado neste filme cheio de violência, Jairo??
- É que apareceu as legendas Closed Caption do Capitão Nascimento falando ali para a tropa: "Vocês devem se conscientizar que o IBOPE é de extrema importância para a segurança pública"!!

Este é um dos problemas do Closed Caption. Palavras parecidas, mas totalmente fora do contexto. Os programas geradores de caption são de reconhecimento da voz ou de uma pessoa digitando os textos em tempo real.

Quando não estamos em época política eu assisto o Jornal da Globo, que começa meia-noite, às vezes, meia-noite e quarenta e cinco. Acontece muitas vezes, de repente, a legenda desaparece e eu perco a conclusão da reportagem, mas não perco o bom humor e digo para minha esposa:
- O digitador do texto da legenda dormiu...
Algumas vezes creio que dormiu mesmo, apoiando a mão no teclado, pois a legenda mostra AAAAAAAAAAAAAAAA...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Você sabia dos Gigantes do Norte?

Estava assistindo o Programa do Jô Soares, terça-feira, 14, e os entrevistados eram anões, que jogam no time Gigantes do Norte. Eles são 29 anões, embora alguns não apresentem a característica de nanismo genético, pois têm apenas baixa estatura (nanismo nutricional). Lá no nordeste são chamados de "gabirus". Interessante a união dos anões, criando um time de futebol, que é uma pequena empresa. Os lucros são divididos entre todos (os lucros dos jogos).
"Gigantes do Norte - Primeiro time de futebol de anões do mundo, que joga em Belém do Pará. A estrela do time é Vagner Love, ou melhor, Casemiro Leal, 1,20m de altura, óculos escuros, correntes no pescoço e discurso de craque. O time começou em 2007, com o anão Alberto, conhecido como "Capacidade", que era mascote do time paraense Tuna Luso."

Eu assisti o programa com as legendas Closed Caption. Infelizmente não tem como colocar as legendas no youtube (aliás, tem, mas somente quem gera o vídeo).



Fiquei satisfeito de ver a alegria de todos eles, humildes, simples, mas cheios de bom humor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Goleiro comemora antes da hora (Contando ninguém acredita!)

O goleiro defendeu o penalti, mas comemorou antes da hora, não olhou a bola em efeito... bom, contando ninguém acredita, por isso taí o vídeo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A legislação que não resolve

Leio reportagem informando que a Associação dos Surdos do Acre pede a inclusão da Libras na propaganda política. Clique aqui para ler.
Como sempre, é perceptível que a legislação (no caso a resolução nº 23.191, do TSE), não resolve o problema dos surdos. A resolução diz que, em relação à propaganda eleitoral na televisão, deverá utilizar a Libras ou a legenda (partindo do pressuposto que os surdos entendem ambas as linguagens). E a opção será feita pela coligação e partidos políticos. Ora, é claro que os partidos escolhem a legenda, pois basta uma edição do vídeo, ao contrário da Libras, que necessita de um profissional (no caso, o intérprete de Libras). Porque, em relação aos custos, o intérprete é bem mais caro que uma simples edição de vídeo.
O problema já foi discutido anteriormente com partidos políticos, que reclamaram, pois a pequena imagem com o intérprete atrapalha a propaganda que é dirigida também aos ouvintes. Os ouvintes passam a prestar atenção na imagem do intérprete e não captam a mensagem do candidato. Da mesma forma a imagem do intérprete não satisfaz os surdos que não sabem Libras. Os surdos oralizados, os surdos com perda leve, idosos com perda auditiva severa, não entendem Libras e, claro, ficam sem entender o que o candidato está falando.
O "ou" que consta da resolução acaba prejudicando parte da comunidade surda.
Para mim, que entendo Libras e português, a imagem do intérprete é péssima, pois é minúscula, não possibilitando a compreensão correta da mensagem. Mesmo sentando a um passo da tv, fica difícil entender a mensagem. Aqui em MG somente um político do PV tem o intérprete de Libras. Os demais utilizam a legenda. Mesmo a legenda pode se tornar um incômodo, pois alguns candidatos colocam uma legenda minúscula, que também obriga o surdo a sentar quase colado na tv.
A solução ainda está longe do ideal, claro. Deveriam utilizar ambas as linguagens, mesmo sabendo que os marqueteiros têm razão; o quadro com a imagem do intérprete realmente desvia a atenção do ouvinte.
Talvez no futuro criem uma tv que mostrará o intérprete de Libras opcionalmente. Hoje, as tv's saem de fábrica com a opção de "Closed Caption". Mas, ainda temos muitas tv's antigas, sem esta opção. Esta também poderia ser uma opção para a propaganda política na tv (o CC). Mas, ainda levará anos para que isto seja viável. É necessário que todas as tv's em residências do nosso país, tenham a opção de CC. Daqui uns 20, 30 anos, pode ser. Por enquanto, em relação à Libras e a propaganda política, em termos de custos, vigorará a opção pelas legendas.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Deficiências...

Amigos da minha esposa e de minha cunhada fizeram um churrasco no quintal, que era compartilhado por ambas famílias, em um dos tantos endereços que moramos. Todos ouvintes, mas a maioria aprendeu logo a conversar comigo e quando eu não entendia alguma coisa, pediam socorro à minha esposa. Tomando cerveja, saboreando carne assada e jogando conversa fora. De repente, minha sobrinha pede minha atenção:
- Tio Jairo, coloca um jogo no videogame para mim.
Ela teve que repetir, pois não entendi nada. Minha esposa deu as "instruções" de falar só uma palavra e depois completar com o que deseja em relação à esta palavra (minha esposa soprou que eu perguntaria).
- Videogame! - diz minha sobrinha.
- Que que tem o videogame? - hehehe, minha esposa é experiente.
- Colocar um jogo para mim.
Fui lá e coloquei um jogo. Ela começou a jogar com o filho de uma das amigas convidadas. Volto para minha cerveja, o pessoal comenta que tenho uma paciência com "estes meninos enjoados". Logo depois o amigo da minha sobrinha é quem pede minha atenção:
- Você tem jogo de corrida?
- Heim? - não tinha nem olhado para ele ainda e ele já tinha falado. Minha esposa explicou para o garotinho que ele tinha que esperar eu olhar para ele primeiro, para só então falar.
- Você tem jogo de corrida?
- Tenho, eu gosto de jogo de corrida. Você já jogou Gran Turismo?
- Já! Meu colega tem esse jogo.
Uma vez que a conversação girava em torno de games, eu entendia facilmente o que ele estava falando, pois meu cérebro, já sabendo o tema, facilitava a leitura labial.
- Eu gosto de jogo de corrida e de futebol. - eu disse.
- Você coloca o jogo de corrida para mim?
- Está bem, vamos lá.
Fui colocar o jogo de corrida para o garoto, joguei um pouco com ele, rindo porque ele era ruim. Minha sobrinha alugando o garotinho porque ele não conseguia me vencer.
Volto para a cerveja e desta vez é a mãe do rapazinho que conversa comigo:
- Você realmente tem paciência com as crianças, não é, Jairo?
- Normal, ainda mais por causa do videogame, que eu jogo muito.
- O Beto (o garotinho) também gosta, mas eu não permito que fique direto no videogame.
- Quantos anos ele tem?
- Sete. Sabe, ele tem um problema... mas me deixou espantada agora.
- Que problema?
- Ele gagueja. Mas, quando ele estava conversando com você ele não gaguejou.
- A conversa toda? - eu me espantei, afinal, como eu sou surdo, nem poderia imaginar que o garotinho gaguejava.
- Sim! Durante toda a conversa com você ele não gaguejou nenhuma vez.
Eu ri.
- Não tenho uma explicação lógica, mas talvez, justamente por me ver como deficiente, ele se sentiu seguro e não gaguejou. Instintivamente percebeu que há pessoas com problemas ainda mais sérios que o dele. Ao lidar comigo, deficiente, ele ganhou segurança.
- Talvez.. É muito raro ele não gaguejar.
Este fato ocorreu cinco anos atrás. Não sei mais do garotinho. Espero, sinceramente, que ele tenha superado a gagueira. Ficou o espanto da mãe dele - e meu, depois que fiquei sabendo que ele gaguejava - pelo simples fato de não gaguejar no momento que conversava com um surdo.

Pesquisando sobre gagueira, que é uma patologia da fala, li as sugestões para que a criança ganhe confiança e pare de gaguejar e me espantei com uma das sugestões que é "olhar nos olhos da criança quando ela estiver a falar". Eu ri, porque sendo surdo e durante uma conversação, obrigatoriamente eu tenho que manter o olhar fixo no rosto da pessoa. A gagueira não é bem uma deficiência, embora muitos a classifiquem como "deficiência da fala".