segunda-feira, 30 de maio de 2011

Manifestação dos surdos em Brasília.

Os surdos fizeram uma bela manifestação nos dias 19 e 20 de maio, em defesa da Educação e da Cultura Surda. A manifestação também foi em defesa do não fechamento do INES - Instituto Nacional de Educação de Surdos e do IBC - Instituto Benjamin Constant (para cegos). Os jornais e portais da internet publicaram algumas notas e fotos. O Correio do Brasil fez uma matéria mais completa, que pode ser lida clicando aqui.
É uma batalha de anos e anos, pedindo aos governos (municipal, estadual e federal) uma atenção especial às necessidades dos surdos. Participei de alguns destes momentos, auxiliando na elaboração dos documentos que entregamos aos governos, como em 2003 e em 2006 (manifestações aqui em BH mesmo). Esta manifestação em Brasília foi muito importante para mostrar que os surdos estão unidos na defesa dos seus direitos. Eu sei das enormes dificuldades que é a aceitação dos governos às reivindicações dos surdos, mas não podemos desistir. Também é necessário ampliar o debate entre todos os surdos (eu sempre lembro que a diversidade surda é um complicador, devido às divergências entre surdos oralizados e não oralizados). Eu acredito que todos devem ter seus direitos assegurados, independente da sua classificação de surdez.
Torço para que desta vez atendam ao menos em parte às reivindicações dos surdos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cantando no pátio

Como eu já disse em outros posts, estudei na Escola Estadual José Bonifácio, minha sala era mista, com alguns poucos ouvintes. A do 2º Ano era somente de surdos e algumas salas de 7ª e 8ª série também passaram a ter surdos e intérpretes. Era a inclusão praticada de forma bastante satisfatória, a maioria dos surdos daquela época sempre elogiam a ação da SEE. Realmente, foi uma atitude que favoreceu os surdos, pois proporcionou a possibilidade de concluirmos o Ensino Médio. Também proporcionou a interatividade entre nós, surdos e os colegas ouvintes.
Dia sim, dia não, todos os alunos enfileiravam-se no pátio para cantar o Hino Nacional. Os surdos também, porque a intérprete S., do 2º Ano, nos proporcionava a tradução simultânea na língua de sinais. Ela cantava também, permitindo a leitura labial. Eu e o José Daniel sabíamos cantar e aproveitando a facilidade de acompanhamento, soltávamos a voz. Percebíamos alguns dos alunos ouvintes, que não cantavam, nos observando abobalhados. Até mesmo uma colega ouvinte, da nossa sala, encucada perguntou:
- Vocês dois são surdos mesmo?
- Porque você está duvidando? – ao invés de responder, perguntei também.
- Por que vocês cantam o Hino Nacional direitinho.
O José Daniel respondeu:
- Antes de ficar surdo eu ouvi o Hino Nacional, portanto, não tem nada a ver.
- Praticamente quase tudo que ouvimos – eu disse, complementando – a memória auditiva manteve. Se você está espantada por que acompanhamos a música sem sair muito do ritmo, isto se deve à intérprete, que canta também. Aí acompanhamos o movimento labial, que ela, experiente como é, tem um movimento labial muito bom.
A nossa colega riu:
- Mas vocês não podem negar que é um bocado estranho dois surdos cantando o Hino Nacional melhor que alguns ouvintes.
O Elton entra na conversa:
- Eu também canto, mas os hinos da minha igreja.
O Elton também estudava para ser Pastor.
- Mas você usa aparelho auditivo – disse a colega – e aí eu sei que você recebe os sons. Já o Jairo e o José Daniel não, são 100% surdos. Eles já me mostraram a audiometria deles, um espanto, porque não há nenhum estímulo auditivo.
Também em jogos da seleção brasileira, lá estou eu diante da tv, cantando:
“Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante....”


A diversidade surda é mesmo um espanto!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nas mãos do médico

- Onde está o Dr. Macedo?
- Ele entrou em contato comigo e eu vou substituí-lo.
- Entrou em contato com o senhor por quê?
- Analisando sua ficha de atendimento, percebeu que todas as informações foram dadas por outra pessoa, pois você chegou desacordado.
- O Dr. Macedo disse que eu sofri um infarto... e que seria necessário uma operação de urgência.
- Correto. Mas, em sua ficha de internação, as informações foram prestadas por uma mulher.
- Sim, depois eu confirmei com o Dr. Macedo estas informações.
- Extraoficialmente, você confirmou que estava em um motel com a mulher, de nome Guiomar.
- Sim, ele ficou perguntando por que a Guiomar tinha sobrenome diferente do meu, se ela era parente, se em caso de urgência deveria contatá-la... então eu disse que não, eu estava com a Guiomar no motel, quando saímos tive um infarto e vim parar aqui.
- Devido a algumas particularidades do seu caso, o Dr. Macedo entrou em contato. Eu também sou cirurgião cardiologista.
- Como assim, particularidades? Meu caso é grave?
- Em parte, seu caso é bastante grave. As particularidades são referentes ao motel. Você utilizou algum medicamento no motel?
- Hahahaha... Viagra? Não, doutor, apesar da idade, ainda estou em forma. O que tá falhando é o coração.
- Há quanto tempo você se encontra com a Guiomar no motel?
- Há uns dois anos, mais ou menos.
- Você é casado?
- Sou.
- E a Guiomar?
- Também...
- A anestesia começará a fazer efeito em mais ou menos 10 minutos.
- Já tô meio sonolento...
- É uma operação de risco e suas chances de sobrevivência são de 5%.
- O QUÊÊÊ?? Aí, não, doutor. O Dr. Macedo disse que devido à rapidez que chegamos aqui no hospital, minhas chances de sobrevivência eram plenamente favoráveis, em torno de 90%. Como o senhor me reduz as chances a estes míseros 5%?
- Devido às particularidades do seu caso.
- Não, não, não! Chama o Dr. Macedo, por favor. Em nenhum momento ele disse que eu corria risco de morrer...
- O Dr. Macedo entrou em contato comigo assim que leu sua ficha de internação...
- E.. e.. e.. eu... droga, não estou conseguindo manter a consciência... Mas... me explique, por favor, doutor... porque... minhas chances são... somente 5%?
- Porque Guiomar é minha esposa.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Como é que você fala?

Eu apelidei o Jáder de Janela, porque ele gostava de sentar perto da janela. Isto, desde o 1º ano (que depois se tornou 1ª série) e ele foi meu colega até o início da 6ª série, quando fiquei surdo. O Jáder morava na cidade, mas foi criado na roça, um município de Formiga. Aliás, uma vez eu e o meu primo passamos um fim de semana lá na roça com ele, mas isto eu conto depois. Muitas vezes eu, o Jáder e meu primo brincávamos ali na Rua 13 de Maio, perto de onde ficavam os carroceiros. Contando casos do dia a dia, o Jáder soltava:
- Isturdia eu fui pra roça com meu pai num cavalo xucro.
- Isturdia não, Jáder! - apesar de eu tê-lo apelidado de Janela, dificilmente eu o chamava assim - Outro dia!
- Ah, já custumei falá assim... num tem jeito.
Eu e meu primo soltávamos uns "nois", "ocê", mas era bem menos. Minha tia era professora e minhas irmãs também. Então, elas nos corrigiam, numa boa, sem obsessão.
- Mas, pramode nóis voltá, viemos na jardineira.
Eu e meu primo desatamos a rir. Que jardineira? Era como ele chamava o ônibus. Ríamos justamente do certo, pois os ônibus antigos eram chamados de jardineira mesmo.
Que eu saiba, nas redações, o Jáder não escrevia da maneira que falava. Ele era inteligente, conhecia muita coisa dos animais, da roça, que eu e meu primo não tínhamos idéia. Lembro que, anos depois, já adultos, eu estava com uns vinte e tantos anos e conversávamos no bar da esquina. Ele me contando que foi para Brasília e tinha ingressado na Guarda do Presidente. Achei o maior barato, disse que gostaria muito de vê-lo fardado.
- Você usa aquele elmo com um penacho no alto?
- Sim! - respondeu o Jáder, rindo - E a cavalo!
Clique e leia o capítulo polêmico
.
Bom, nesta semana leio e vejo reportagens atacando um livro didático que fala justamente sobre isto. Que não é errado falar "nós pega o peixe", pois o que importa é a compreensão da mensagem. É um livro adotado pelo MEC, "Por uma vida melhor" e tem UMA página, entre mais de 400, sobre a fala inadequada, em contraponto com a norma culta. Em nenhum momento o livro diz que a frase está certa, que deve-se ensinar a escrever desta maneira. O livro resgata a língua considerada interiorana e ensina que os alunos não devem ter vergonha de seus pais ou avós que assim falam. Só isso. Mas, a mídia enfia a política no meio, faz o maior escarcéu, procura membros da ABL, escritores, comentaristas econômicos, jornalistas e por aí vai, que dizem ser um absurdo um livro do MEC ensinar a escrever errado. O problema é o de sempre, todos estes especialistas NÃO leram o livro. Opinam de acordo com o que a mídia sopra para eles. E se dizem estarrecidos, abismados! E colunistas e jornalistas dão opiniões e fazem suposições. A mais engraçada que li foi a de que o livro está ensinando a maneira errada de o Lula falar, que é uma intenção do PT louvar os erros gramaticais do Lula. Ah, Dios, não demoraram para enfiar o Lula no meio da história. Depois, descobre-se que desde 1997, com Fernando Henrique Cardoso, já havia livros discorrendo sobre esta mesmíssima polêmica: respeito à língua falada e norma culta para a escrita. Irritante perceber que uma discussão séria como esta desanda para politicagem, só porque tivemos um presidente que falava errado e ainda estamos sob o governo do PT. Haja paciência!

Após as aulas, eu, meu primo e o Jáder voltávamos juntos.
- Quase que o aerowillys me atropelou! - eu disse, após atravessarmos uma rua.
- Também, você olhou só para um lado. - disse meu primo.
E o Jáder:
- Pior foi comigo. Isturdia um carro veio de fasto e quase me pegou.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Manipulação do jornal o globo

Clique na imagem para ampliar
Só rindo mesmo! Eu publiquei um post solicitando que você, caro leitor, não se deixasse manipular pela mídia. E ainda dizem que a mídia não é assim tão manipuladora...
Pois veja essa...
Na ânsia de criticar o Governo Lula e creditar a ele o recorde de medidas provisórias, o jornal o globo (ah, sim, depois dessa é com minúsculas mesmo) fez um gráfico mostrando que Lula governou por DEZ ANOS! O leitor Mauro Sansão, do Viomundo, site do jornalista Luiz Carlos Azenha é quem percebeu a mancada... clique aqui para ir ao post original.
O mais engraçado é que a coluna mais alta do gráfico, que o jornal jogou para Lula é referente ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando eu disse que o jornal o globo, a Rede Globo e afins querem reescrever a história, ninguém acreditou... Pois está aí a prova...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cruzeiro, campeão mineiro 2011


- Passar a semana inteira aguentando as piadinhas dos atleticanos...
- Ver os atleticanos comemorando o título após vitória no PRIMEIRO jogo...
- Ganhar o SEGUNDO jogo e ser Campeão Mineiro 2011... NÃO TEM PREÇO!!

sábado, 14 de maio de 2011

Não se deixe manipular


Uma das coisas mais incríveis que ocorreram com o advento da internet foi a possibilidade de ter as informações de diversas fontes. Não era mais necessário ler o jornal ou assistir o noticiário da tv para ter informação fidedigna. E também foi possível um conhecimento ainda maior do que realmente ocorreu há tempos, principalmente por pessoas que estiveram presentes nos acontecimentos. Uma coisa que descobri foi que há manipulação midiática. Citando o fato mais recente, sobre o aumento do preço da gasolina, o que todos alardeavam, baseados nas reportagens de jornais e tv? Que o aumento da gasolina era culpa do governo! Como eu disse, a internet proporciona uma variada gama de informações e o que alguns poucos diziam era que o aumento da gasolina estava restrito aos postos e não às distribuidoras. O governo não tinha aumentado o preço da gasolina nas refinarias. É praticamente o mesmo valor desde 2006. Ocorre que, os donos dos postos, amparados pelos jornais e tvs que alardeavam tão somente a volta da inflação e o aumento abusivo dos preços, confiando plenamente que os jornais NÃO iriam informar à população que os preços nas refinarias eram os mesmos desde 2006. E os jornais, realmente, não tocaram neste ponto. Até que o governo resolve agir e obriga os postos da Petrobrás (os BR) a baixar o preço. Então, temos mais uma manipulação do jornal O Globo, que já tinha esta informação desde terça-feira, mas que só publicou esta notícia na quinta-feira. E por quê? Por que teria que dar a manchete informando que postos Petrobrás, ao cobrar mais barato, forçariam os demais postos a baixar os preços. Consequentemente teriam que dar uma manchete favorável ao governo! O jornal Estado de São Paulo informou corretamente, na terça-feira que os postos Petrobrás iriam baixar os preços e forçar a queda geral.
Outras grandes manipulações:
- Quando a Praça da Sé estava tomada pela população pedindo Diretas Já, a Globo noticiou que o evento era em comemoração aos 430 anos de São Paulo. Atualmente a Globo tenta reescrever a história. Como ela filmava os comícios, mas não noticiava, claro que ela tem o acervo da época. Assim, eles mostram estes comícios procurando dar a entender que a emissora apoiou as diretas.
- O documentário Muito Além do Cidadão Kane conta sobre a Globo, eleições (Collor), militares, mas foi proibido no país após a Rede Globo entrar na justiça contra o documentário. É possível assistir este documentário no youtube e em diversos sites que o disponibilizam. Pena que não tem legendas (aguardando uma boa alma que coloque as legendas no documentário).
-  O famoso debate entre Collor e Lula, manipulado de forma a mostrar os melhores momentos de Collor e os piores momentos de Lula.
- Em 2006 o acidente com o avião da Gol foi noticiado no Jornal da Band mas não no Jornal Nacional. Por quê? Porque a notícia que a emissora queria era a prisão dos petistas envolvidos em uma compra de dossiê contra José Serra. E a emissora mostrou o dinheiro apreendido empilhado direitinho, pronto para a foto, vazadas pelo delegado responsável, que entregou o cd com as fotos para os repórteres. O vazamento do áudio em que o delegado pergunta “tem alguém da Globo aí?” "Tem de sair hoje à noite na TV. Tem de sair no Jornal Nacional". Nenhum jornal, nenhuma emissora, jamais procurou se aprofundar neste lado obscuro das eleições. Só mostraram as fotos, o áudio sumiu. O único repórter que vazou partes do áudio foi o Luiz Carlos Azenha que, à época era funcionário da Globo. O que interessava era mostrar as fotos com o dinheiro (empilhadinho em pose fotogênica) e o acidente com o avião da Gol iria atrapalhar, então não foi mostrado. Ah, sim, conseguiram forçar o segundo turno.
Por isso, quando vejo uma reportagem em certos jornais ou na tv, antes de confiar na veracidade do que informam, procuro ler outras fontes, na internet. Principalmente reportagens contra o governo, que são as mais tendenciosas.
Ainda pior é assistir a babação de ovo dos repórteres globais aos EUA. Quando da morte de Bin Laden, o Jornal da Globo (que passa às 23 h) mostra seus repórteres eufóricos informando que a ação foi de uma precisão cirúrgica sem igual, perfeito, esplêndido, caramba, eu pensei que os repórteres iam aplaudir ali mesmo, ao vivo. Ah, sim, em nenhum momento os repórteres informaram que os EUA invadiram o espaço aéreo paquistanês, que o mandante da morte do terrorista era o ganhador de um Prêmio Nobel da PAZ!! E depois, até hoje aliás, não se perguntam o que foi feito com o corpo do filho do Bin Laden, que também foi levado e nem a razão de tantas mentiras que forçaram a mudança da história diversas vezes, tipo, a esposa que serviu de escudo (estava em outro andar, não no mesmo de Bin Laden), o terrorista reagiu (não havia armas no local) e porque ir para o Afeganistão se iam jogar o corpo no mar (o Afeganistão não tem mar). Especialistas informam que o outro helicóptero que caiu e por lá ficou seria utilizado para levar todas as pessoas da casa, pois eles não deixariam nenhuma testemunha da ação.
Por isso repito: lendo um jornal ou assistindo tv, cuidado!, não se deixe manipular.

domingo, 8 de maio de 2011

Hoje é domingo, dia das Mães

Minha mãe me acordava para eu ir trabalhar, 5:20 h da madrugada. Fazia um café, arrumava a marmita. De vez em quando cozinhava um ovo. Naqueles tempos em que eu trabalhava na gráfica, levar marmita era mais vantajoso que almoçar num restaurante. A gráfica não fornecia refeição nem ticket, pois a adesão ao PAT-Programa de Alimentação do Trabalhador não é obrigatória. No horário de almoço eu abria a marmita e "descobria" o que minha mãe tinha preparado. Normalmente, às segundas-feiras era frango, pois praticamente todo domingo minha mãe fazia frango assado, temperado com cerveja, uma delícia, denominado "frango bêbado". Nos demais dias da semana, bife, carne cozida ou linguiça. Houve um dia, porém, que abri a marmita e só havia arroz. Nem feijão, nem verdura, nem carne... Como o horário de almoço era somente 1 hora, e já haviam transcorridos uns 20 minutos, não havia tempo hábil para ir ao restaurante. Meu colega, o Wander (o Ceguinho) me deu um pedaço de carne e eu almocei assim mesmo, arroz e carne.
Chego em casa e começo a reclamar com minha mãe:
- A senhora encheu a minha marmita de arroz, mãe! Como é que pode?
- Eu coloquei o arroz ontem e guardei a marmita na geladeira. De manhã era para colocar o resto, mas eu esqueci.
Meu amigo Luizinho morava conosco nestes tempos. Ele tomou as dores da minha mãe e contemporizou:
- Jairo, sua mãe esqueceu... isto acontece, cara!
- Mas não gostei não! Minha marmita cheia de arroz puro! Eu não sou chinês!
O Luizinho e minha mãe desatam a rir. Rindo eles amenizam minha irritação e fica tudo numa boa.

Tempos depois, chego em casa e torno a reclamar:
- Mãe, a senhora inventou de colocar arroz, feijão, abóbora e carne...
- Já vai reclamar da marmita de novo, Jairo? - exaspera o Luizinho - Estou comendo num restaurante, uma comida razoável, porque não tem onde esquentar marmita lá onde eu trabalho.
- É porque segunda minha mãe colocou arroz, feijão, abóbora e frango. Terça, arroz, feijão, abóbora e carne. Quando chega quarta, eu abro a marmita e lá está: arroz, feijão, abóbora e linquiça. Quinta e sexta, a mesma coisa... arroz, feijão, abóbora e carne.
- E não está bom? - pergunta minha mãe.
- Está, mas parece que a senhora fez um estoque de abóbora aí. Todo santo dia eu tô comendo abóbora.
- Não precisa ficar nervoso, menino!
- Eu fico, né, mãe. Não aguento mais ver abóbora na minha frente!!
- Calma... você está nervoso demais. Vou fazer para você um chá de ABÓBORA!!
- Mããããeee!!!

Minha mãe me acorda e quando estou tomando o café, estica a mão e diz:
- Parabéns, meu filho!
- Ahá, parabéns o que, mãe?
- Ih, menino, é seu aniversário!
Eu não ligava para a data de meu aniversário. Era um dia como outro qualquer. E só lembrava que era meu aniversário quando olhava um calendário. Minha mãe sempre lembrava e minhas irmãs lembram até hoje. Eu que sou o mais esquecido com as datas de aniversário, das irmãs e dos sobrinhos. Tenho 5 afilhados e não sei a data de aniversário deles. Só quando já estava com mais idade foi que passei a lembrar das datas e hoje, com a agenda do celular, não tem como esquecer. 
Ri do meu esquecimento e falei com minha mãe:
- Nem lembrei que hoje é meu aniversário.

Só com mais idade valorizei bastante estes momentos de manhazinha com minha mãe. Às vezes, como filho, pensamos que as mães são obrigadas a fazer tudo isso, acordar cedo com a gente, arrumar marmita, lavar e passar roupa. Minha mãe se preocupava muito comigo, que eu me alimentasse direito, que tivesse boas refeições. Por isto ela fazia questão de sempre arrumar minha marmita. As conversas eram fáceis, pois a convivência diária facilitava muito a leitura labial do que minha mãe falava. Muitas vezes a conversação parecia entre pessoas normais, pois ela não precisava repetir o que estava dizendo. Jovem, a gente não dá muito valor a estas pequenas coisas, e só mais tarde rememoramos como era confortável ter uma pessoa a nos tratar com tanto carinho e amor. Minha mãe faleceu há seis anos.

Chego em casa um pouco mais tarde e vou jantar. Na mesa,minha irmã mais velha assiste novela. Olha para meu prato e diz:
- Olha só, você é o filho privilegiado.
- Porque?
- Você está jantando arroz, feijão, verduras e carne. Eu e suas outras irmãs já jantamos... - minha irmã fala devagar, dramatizando mais ainda - Só que para nós... óó, a janta foi macarrão. Só macarrão.
- E daí? Eu não gosto de macarrão mesmo.
- Certo, só que a mãe fez macarrão para a janta e foi o que nós jantamos. Mas para você, que não gosta de macarrão, minha mãe guardou arroz, feijão e carne.

Bom... feliz dia das Mães!