terça-feira, 30 de março de 2010

Contradições com o passado...

Eu acompanhei (ainda ouvia), a novela Meu Pé de Laranja Lima, a primeira versão, da TV Tupi, nos anos 70. Também assisti o filme e li o livro. Mas, matutando comigo mesmo, percebi que nos dias de hoje, de acordo com o que lemos nos jornais, com o Estatuto da Criança e Adolescente e da paranóia sexual, a vida do personagem seria completamente diferente. A história retrata muitos momentos de ternura, mas também, muita tristeza, visto que o personagem principal, Zezé, sofre muito. Quem conhece a história sabe muito bem que há muitos e muitos momentos que não conseguimos conter as lágrimas. Zezé apanha muito, tenta conquistar o pai, cuida do irmão mais novo, tem amigos adultos, é muito traquinas, mas extremamente inteligente.
Eu estava rindo, porque, nos dias de hoje, jamais o moleque seria surrado (espancado) daquela forma. Hoje lemos nos jornais que pais são presos acusadas de maus tratos aos filhos. Teve uma imagem horrível, recentemente, da polícia arrancando a filha dos braços de uma cigana, que um anônimo acusou de estar pedindo esmolas, utilizando a filha. Mesmo uma mãe que acorrentou o filho para que o mesmo não saísse e usasse drogas, também foi presa. Dos casos de paranóia sexual, tem o italiano, casado com uma brasileira, que foi acusado de assédio sexual, porque beijou a filha na boca e ficou arrumando o biquini da mesma, "de forma muito suspeita" (como disse a acusação anônima). Descobriu-se depois que ele era um pai carinhoso e que não havia nada de errado com eles. Aliás, o tal assédio ocorreu num local público (pedófilos, normalmente não atacam em locais públicos).
Veja bem o que ia acontecer com a história do Zezé:
- Pai, irmão e irmã, presos, acusados de espancar o menino. (Pelo que me lembro, a mãe não o espancava e a única irmã ruça como ele, também não).
- Zezé seria considerado portador de TDAHI - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. (o menino era realmente um "capetinha".)
- Seu Ariosvaldo seria preso, acusado de explorar uma criança. (Seu Ariosvaldo era o vendedor de folhetos musicais, que cantava as músicas pelas ruas da cidade. Zezé o acompanhava, fazia duetos em algumas músicas. Ariosvaldo é um dos amigos adultos de Zezé. Seria acusado de exploração de trabalho infantil, lembrando, principalmente, que o menino faltava à escola para acompanhá-lo).
- O dono de uma loja ou depósito, seria capa de jornais, acusado de deixar crianças sem presentes. (Há uma parte do livro que Zezé leva o irmão menor até a Igreja, para que ganhassem brinquedos. Porém, o irmãozinho não consegue acompanhar o passo do mesmo e vão muito devagar. Chegam quando tudo já acabou e não restou mais nenhum brinquedo).
- O português Manoel Valadres, Portuga, seria acusado de pedofilia. (O português é o outro amigo adulto de Zezé; cuja amizade é recheada de momentos de muito carinho e amor. Porém, pobre português, quando descobrissem que o mesmo levava o menino para nadar. Neste mesmo local há um momento em que o português diz que Zezé deverá dormir abraçado a ele (a explicação lógica é que o menino é um traquinas e o português não o deixará solto por aí, mas quem vai acreditar nisso hoje?) O português levava Zezé para passear de carro pelos arredores da cidade. Também lhe comprava balas, doces, figurinhas (pronto, agora é que está perdido mesmo).

No mundo de hoje já não há mais possibilidade destas histórias acontecerem.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Politicamente correto.

Renato Aragão está comemorando 50 anos do personagem Didi Mocó. Ele falou sobre o personagem e também sobre os dias de hoje, como está difícil fazer piada. Achei legal o que ele disse, que antes, uma piada era só uma piada, não tinha ninguém para procurar entre as piadinhas alguma coisa considerada politicamente incorreta. Hoje ele não faz mais nenhuma piada com deficientes, por exemplo. Ficou realmente complicado satirizar os outros. Eu não ligo a mínima.
Eu gostava muito dos Trapalhões, com os quatro companheiros, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Muitos quadros do programa eu ria, mesmo sem ouvir, porque eles levavam muito para o lado pastelão. Assisti alguns filmes deles também, dublados, mas que dava para entender a história. Antigamente eu tinha uma grande paciência para poder entender a interpretação e associar as cenas às histórias. Tanto que assistia muitos filmes, mesmo que não tivessem legendas. Eu era jovem e tinha uma paciência enorme para assistir estes filmes sem legendas. Hoje, quando começa um filme, se não tiver legenda, eu desligo a tv. Ou, se o filme se mostrar interessante desde o princípio, eu procuro o título na locadora.
Entre meus amigos surdos, a gente faz muita piada conosco mesmo. Sabemos dos tratamentos não convencionais que os ouvintes nos dão, da idéia préfixada de que somos "burros" e a pior de todas: de que somos incapazes. Nós temos bons amigos ouvintes, intérpretes, que convivem conosco, nos ambientes ouvintes/surdos e nos contam todas estas coisas. Embora eu reclame quando necessário, nas maioria das vezes, rimos muito.
Meu amigo intérprete, no setor de trabalho que empregava muitos deficientes, cansava de ouvir os gerentes do setor dizerem:
- Os mudinhos não estão conseguindo fazer o trabalho direito.
Embora a maioria dos surdos fale, normal ou parcialmente, sempre tratam os surdos como mudinhos.
Uma vez eu estava participando de uma dinâmica e por acaso a psicóloga perguntou se eu sabia o nome do intérprete. Claro que eu sabia. Logo depois ela pediu que escrevessemos o nome num papel. Entendi que uma pergunta era consequência da outra e escrevi o nome do intérprete. Ela me olhou espantada e perguntou se esse era meu nome. Eu respondi, claro que não, é o nome do intérprete. Ao invés de ela tentar entender porque cargas d'água eu escrevi o nome do intérprete, ela me olhou em tom zombeteiro e disse que mandou eu escrever o meu nome. Não há nada pior que começar errando com uma psicóloga. Ela te considerará burro mesmo.
O mais estranho é quando estamos tentando alertar alguém de algum erro, principalmente de erro escrito.
Meu intérprete liga para o setor responsável pela contratação dos surdos:
- O Jairo está dizendo que há um erro no contrato, no item tal, parágrafo tal, que de acordo com a Lei tal não pode ser assim.
- O surdo?
- Ele mesmo.
O meu intérprete diz que a pessoa do outro lado da linha está rindo. A pessoa diz que o contrato está correto, foi redigido pelo advogado da empresa e tal. Mas, meu intérprete me conhece suficientemente para saber que eu não estaria contestando o item se não tivesse lido e relido a lei. Insiste para a pessoa confirmar com o  advogado e ela, de má vontade, faz o solicitado.
Mais tarde liga pedindo desculpas.
- O Jairo está certo, o advogado vai modificar o item.
Meu intérprete diz que deu vontade de falar na hora: pois é, o surdo, né?
Mas, neste caso, ele tem que ser politicamente correto com a pessoa e não pode destratá-la.

Surdo como uma pedra...

Eu estudava em Belo Horizonte, mas passava férias e todos os feriados em Formiga. Conheci o Lucas e tinha contato com ele somente em Formiga, embora ele residisse em Belo Horizonte. Era primo do meu amigo Tonho. Tinha uma boa afinidade comigo por um motivo simples: ele também era deficiente, tinha um problema na perna, uma maior que a outra. Assim como eu, a deficiência ocorreu na adolescência, quando ele caiu da sacada da casa dele em Belo Horizonte.
Um dia, eu estava dentro do ônibus indo para a escola (em Belo Horizonte) e vi o Lucas caminhando pela Avenida Antônio Carlos. Como quase todo mundo, quando vê um conhecido, enfiei a cabeça pela janela do ônibus e berrei:
- Lucas! Ô, Lucas!
Não sei se era tanto o barulho do tráfego, a distância ou se ele simplesmente ignorou o grito; o certo é que ele não se voltou e meu ônibus continuou seu caminho. Eu tive certeza absoluta que meu grito foi suficientemente alto, porque quando tornei a sentar, todos os passageiros do ônibus me encaravam. Acanhado, cocei a cabeça e disse, em voz alta mesmo:
- Coitado do Lucas! É surdo como uma pedra!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Poeminha...

Há um branco neste espaço
De seis?, sete?, oito?, anos
Ausência, saudade, distância
Lembranças
Sonhos
Movimento das peças
No tabuleiro do mundo
Você vem caminhando
Em minha direção
Seu sorriso, tão feliz
Ganhei o dia
E à noite uma nova estrela
Vai brilhar no céu.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Não adianta reclamar (camisa rosa dos atleticanos)

Sou cruzeirense, sem fanatismo. Capaz de debater numa boa com meus amigos atleticanos. Aliás, muitos deles preferem discutir futebol comigo justamente por isso. Sou realista, lembro que o Atlético já teve uns times bons mesmo, que me matavam de raiva.
Foi o Cruzeiro, através do goleiro Raul, que coloriu as camisas dos goleiros. O amarelo até se tornou uma terceira cor da torcida azul. Foi daí também por causa desta camisa amarela, quando os goleiros usavam cinza ou preto, que o Raul teve sua sexualidade colocada à prova.
Sempre vi o Atlético como o time preto e branco, as demais cores jamais combinaram com o clube. A camisa preto e branca é inconfundível. Pode até parecer com de outros times, como o Botafogo, por exemplo, mas se você vê uma pessoa com uma camisa preto e branca aqui em Minas, não tem erro, é camisa do Atlético. Hoje passam por mim muitos atleticanos com a camisa preto e dourado mas, sinceramente, o uniforme não me traz a lembrança do rival Atlético. Fica a impressão que é de outro clube.
E isso tudo que escrevi, para dizer o que? O Atlético lança uma camisa rosa, cria uma polêmica fenomenal. Consegue ser notícia no Brasil inteiro. Aqui em Minas ninguém lembrou mais que o Cruzeiro enfrentou a seleção da África do Sul e que o Atlético perdeu para a Chapecoense. Entro na comunidade do Cruzeiro, no Orkut, e só dá tópico de gozação sobre a camisa rosa. Cheio de links para a comunidade do Atlético, que está metade a favor e metade contra a camisa rosa (eles que dizem, mas parece que a maioria está contra). Não tem jeito, não tem perdão. A criatividade do pessoal é fogo.
- Azul é Raposa, verde é Coelho e rosa é Galôôôô...
- A lagoa da Pampulha tem dois lados: o AZUL e o  ROSA.
- Tem que ter muito orgulho para usar rosa: orgulho gay.
- Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal, é porque o atleticano está usando a rosinha.
Como disseram; em matéria de marketing, foi um tiro dentro. Em matéria de história clubística foi um tiro no pé. Torcedores mirins, que definem cores de acordo com o berrço, sabem muito bem que azul é a cor dos meninos e rosa é a cor das meninas.


Eu sei que os atleticanos mais antigos, mais conservadores vão ficar "roxos" de raiva com essa história. Não é para menos... mas...

Não adianta reclamar... porque isto é criação do próprio Atlético!
 Acrescentando...
Um dos argumentos mais utilizados pelos defensores da camisa rosa atleticana é que a maioria dos homens tem uma camisa rosa no "armário". Bom, no armário eu não tenho não, que eu não guardo roupa em armário e sim no guarda-roupa. Só que a camisa rosa que tenho é uma camisa SOCIAL, de mangas longas, botões, etc. NÃO tenho camisa rosa pólo, nem camiseta rosa, NEM CAMISA DE CLUBE rosa. Porque não é a questão da cor rosa associada à roupa e sim a cor rosa associada ao Atlético Mineiro! É isso que o pessoal não quer entender. Os atleticanos que se posicionaram contra a camisa estão reclamando justamente disso: não é a questão da cor rosa em camisas masculinas, que hoje em dia isto é normal. O que eles querem saber é o que a cor rosa tem a ver com o Atlético? A crítica, as gozações, ironia, está relacionada ao futebol. E em relação ao futebol, as brincadeiras de ironizar a masculinidade dos adversários, NO FUTEBOL, o Atlético superou todos!!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Haja paciência

Estava assistindo TV e o Jornal da Band passou a exibir  cenas antigas de Zélia Cardoso de Mello, quando da implantação do Plano Collor. O Jornal da Band, infelizmente, não tem mais closed caption e eu estava "boiando". Minha esposa surge no quarto, comentando sobre outras coisas, eu interrompo e pergunto:
- O que estão falando da Zélia?
Minha esposa tenta ouvir, mas a Zélia está explicando o Plano Collor e eu:
- Você sabe quem é ela?
Minha esposa não lembra de imediato, não consegue ouvir direito o som da tv e eu não calo a boca:
- Ela era a Ministra do Collor. O que estão falando?
- Ahá, ela morreu!
E saiu do quarto.
Fiquei espantado, mas todo mundo morre um dia, única certeza que temos na vida. Porém, liguei o computador e procurei notícias sobre o falecimento da Zélia Cardoso. E dou de cara com as notícias: 20 anos do Plano Collor. E o blábláblá sobre este que foi um dos piores momentos para quem tinha dinheiro no banco. Claro, no mesmo instante associei as imagens da tv Bandeirantes com a data de implantação do Plano Collor.
Falei com minha esposa:
- Você preferiu matar a mulher a tentar entender a notícia? Aquelas imagens da Zélia era porque foi em março que o Collor implantou o Plano Collor e o fato mais lembrado da época: o confisco da poupança.
- Eu tentando ouvir o que o jornalista dizia e você falando, falando, não deixa a gente escutar nada.
- E você vai e mata a Zélia? Eu pensei que ela morreu mesmo!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Reserva de vagas para deficientes (2).

- continuando.
Com o tempo, as empresas foram aprendendo (na marra) e atualmente estão avaliando melhor os surdos que contratam. Empresas de grande porte, como a Fiat, por exemplo, contrataram mais de 50 surdos recentemente. Mas, a própria empresa deu um "curso profissionalizante" para os surdos. Os que se saíram bem foram contratados.
O meu trabalho atual veio através da reserva de vagas em concurso públcio. A reserva de vagas para deficientes em concurso também não leva em conta os surdos que têm a Libras como língua-mãe. Eles não sabem português e poucos são os que conseguem interpretar um texto. Apesar de ser possível solicitar um intérprete de Libras, o mesmo não pode traduzir a prova. E muitas vezes acontece o mesmo que relatei acima. O surdo consegue a vaga, mas não conseguirá executar o serviço. Muitas vezes são transferidos para funções menos exigentes (serviços de boy, xerox, ajudante), ou simplesmente ficam em suas mesas, a maior parte do tempo sem fazer nada.
Por isso acredito que as cotas para negros também serão importantes. Que o debate é importante.
Eu trabalho com licitações e contratos. Minha condição privilegiada (surdo oralizado, bilingue (português(1) e Libras(2)), conhecimento básico de leis, entre outros), permite que eu execute meu trabalho independente de outrens.
Tenho colegas surdos trabalhando em bancos, hospitais e grandes empresas. São surdos com excelente nível de conhecimento. São muitos deste tipo. Mas também são muitos os que trabalham com digitação de dados (copiar dados para o computador), área de produção, auxiliarese em geral. Porque a diversidade do surdo é enorme, e a sociedade ainda não está preparada para compreendê-la em sua imensidão. Mas, aos poucos ela vai mudando, não somente o surdo se adapta à realidade das empresas, mas também a empresa se adapta à realidade dos surdos.
E é justamente neste sentido, a diversidade, que as cotas para negros deve ser avaliada positivamente. Há diversidade de negros também, principalmente no nível social. E os que estão no nível social mais baixo são os que têm mais dificuldade para conseguir uma vaga em universidade. Eu torço para que aprovem e que com o tempo tornem melhor este benefício.

Reserva de vagas para deficientes (1).

Há um grande debate em torno das cotas para negros em universidades. Pois envolve também a questão de racismo. É complicado, pois alguns negros acreditam que conseguirão as vagas sem necessidade das cotas (e eu não duvido disso). Mas há aqueles que não tiveram oportunidade de fazer cursinho, frequentar escolas gabaritadas e que concordam com as cotas.
Lembrei-me, então, da reserva de vagas para deficientes (em diversos setores sociais). Que também tem suas contradições, seus apoiadores e os contra. Veio com a Constituição de 1988, que assegurou amplos direitos aos deficientes em geral.
No início da década de 90 as leis foram aprimoradas, os decretos baixados e as reservas de vagas instituídas para valer. Reserva de vagas em concursos públicos, em universidades e em empresas com mais de 100 funcionários.
A reserva de vagas em empresa só começou mesmo em 2003 (pelo menos aqui em BH foi nesse ano), com a fiscalização rigorosa do Ministério Público e a aplicação de multas. As empresas então passaram a correr atrás dos deficientes. Vimos aqui em Belo Horizonte uma arregimentação inusitada de surdos, pois é o deficiente que menos parece deficiente. Como consequencia, muitos surdos foram contratados para serviços que não estavam capacitados a executar. Porque as empresas tinham uma visão errônea do surdo. Como elas viam somente os surdos oralizados e bilingues em suas entrevistas, acreditaram que todos eram iguais. Infelizmente a realidade é outra! Conheço surdos com ensino médio que não conseguem interpretar textos. Mas, as empresas olhavam o nível escolar, contratavam e pronto. Lembro de um colega surdo nestas condições que foi trabalhar em uma empresa de transporte. Trabalho anterior: digitação. Tinha conhecimentos de informática, mas digitava dados (ou seja, copiava os dados do papel, sem necessidade de tomar nenhuma iniciativa). No transportadora, os colegas tentaram se comunicar escrevendo, inclusive passando o que ele deveria fazer: abrir o e-mail da empresa todo dia, verificar se havia carga proveniente de São Paulo, a quantidade de caixas, tamanho, etc e tal, para reservar o espaço no galpão da empresa. Lembro desta história com pesar, pois este meu colega ficou na transportadora somente os 3 meses de experiência. Ele mal sabia escrever uma linha em bom português. A língua mãe dele é a Libras, e portanto ele escrevia em Libras, tipo "eu casa fui" (eu fui para casa); "saber não conheço difícil trabalho" (não sei, não conheço este tipo de trabalho. Muito difícil.). Imagine uma pessoa com este tipo de linguagem tendo que abrir e-mails, verificar carga, caixas, etc. Lembro que ele me contou, triste, que ficou só alguns dias trabalhando no computador e que depois foi mandado para o setor de cargas (ajudante de caminhão). Apesar de aparentar um bom físico, ele também tinha problemas de saúde, não aguentando o trabalho pesado.
Este é só um caso. Conheço muitos outros.
- continua

sábado, 6 de março de 2010

Os textos corajosos não são tão corajosos assim.

Na área política, para você conseguir uma boa repercursão do que escreve, basta criticar ferozmente o governo atual (Lula). Logo, diversos sites, blogs e correntes de e-mail serão criadas com seu texto. Com título de impacto tipo TEXTO CORAJOSO de fulano de tal. Ou ainda, TEXTO CENSURADO pelo governo.
Já chegaram em minhas mãos, aliás, e-mails, diversos textos com estes títulos e, devido ao título, leio para ver a coragem do autor, ou o que foi censurado pelo governo. Leio, leio tudo. Mas, logo no início de alguns textos já percebo que a coragem ou a censura é balela. Porque repetem, não mais que isso, palavras já ditas, acusações já propaladas e insultos característicos de um só lado. A linha segue praticamente a mesma; nestes textos nunca faltam estas acusações:
- o governo mais corrupto de todos os tempos.
- o aparelhamento do estado.
- o bolsa-família é eleitoreiro, nunca se deve - ai, esta explicação já li trocentas vezes - dar o peixe e sim, ensinar a pescar.
- o governo está tentando amordaçar a imprensa.
- o governo é autoritário.
- o governo anterior fez o serviço e o atual aproveitou a bonança herdada.
- o governo é mentiroso.
- os que apoiam, votam ou concordam com o governo atual são fanáticos de carteirinha.
E por aí vai.
O que se percebe nestes textos é que o governo atual não tem nenhuma boa característica. Nunca fez nada, mas nada mesmo, para merecer algum elogio. E quando dizem que ele acertou em alguma coisa, pimba, lá vem o "MAS..."
Minha falecida mãe já dizia, repetindo a sabedoria dos antigos, que política não se deve discutir, pois não vão entrar num acordo. Por isso mesmo eu escrevo muito pouco sobre política, da mesma forma, sobre o futebol mineiro (mas eu já disse que sou cruzeirense). Tenho amigos de diversas opções partidárias. Tenho amigos que torcem para o Atlético. Porque é preciso respeitar todas as opiniões. Mas, opiniões coerentes, não opiniões que pendem para um lado só. O governo atual pode ter errado em muitas coisas, mas os críticos verdadeiros e realistas sabem muito bem que muita coisa boa este governo fez. Independente do partido, a visão maior é sobre o país. E o país melhorou. Infelizmente, para a maior parte da imprensa, o governo não fez nada, não vale nada e todos seus feitos deverão ser maculados. Por isso, encontramos tanta gente que prefere buscar as notícias e as informações em blogs e não nos jornais ou tvs. Porque os jornais e tvs não estão coerentes com o que informam. Não utilizam as mesmas técnicas para acusações. Basta ver o caso do governador de Brasília que, ao contrário das outras vezes em que acusações de mensalão foram feitas, as redes de tv criaram gráficos informando as ligações do acusado. Você viu algum gráfico do governador de Brasília e suas ligações partidárias? Este é só um exemplo da tal "imparcialidade" das tvs. E a revista semanal de maior tiragem do país, que não publicou em sua capa que o governador foi preso. Ah, desculpe, publicou sim, junto à matéria de capa, sobre gordura e efeito sanfona, no cantinho tem uma nota, utilizando o mesmo subterfúgio que utilizo para não citar nomes, "Governador do DF é o primeiro governador preso". Nem o ex-partido é citado. Nem mesmo que este era o vice pretendido pela oposição. Nem que este governador foi um dos mais elogiados pela própria revista. E que deu entrevista em suas páginas amarelas.
Por esta e por outras é que não vejo nenhuma coragem nestes textos que enaltecem críticos ferozes do governo. Quando criticarem com coerência, ressaltando o que de positivo há e apontando erros e sugerindo possíveis soluções, aí sim, os que hoje apontam a blogosfera como o canal mais confiável voltarão a acreditar que poderão ler/ver uma reportagem sem manipulação.
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