segunda-feira, 8 de março de 2010

Reserva de vagas para deficientes (1).

Há um grande debate em torno das cotas para negros em universidades. Pois envolve também a questão de racismo. É complicado, pois alguns negros acreditam que conseguirão as vagas sem necessidade das cotas (e eu não duvido disso). Mas há aqueles que não tiveram oportunidade de fazer cursinho, frequentar escolas gabaritadas e que concordam com as cotas.
Lembrei-me, então, da reserva de vagas para deficientes (em diversos setores sociais). Que também tem suas contradições, seus apoiadores e os contra. Veio com a Constituição de 1988, que assegurou amplos direitos aos deficientes em geral.
No início da década de 90 as leis foram aprimoradas, os decretos baixados e as reservas de vagas instituídas para valer. Reserva de vagas em concursos públicos, em universidades e em empresas com mais de 100 funcionários.
A reserva de vagas em empresa só começou mesmo em 2003 (pelo menos aqui em BH foi nesse ano), com a fiscalização rigorosa do Ministério Público e a aplicação de multas. As empresas então passaram a correr atrás dos deficientes. Vimos aqui em Belo Horizonte uma arregimentação inusitada de surdos, pois é o deficiente que menos parece deficiente. Como consequencia, muitos surdos foram contratados para serviços que não estavam capacitados a executar. Porque as empresas tinham uma visão errônea do surdo. Como elas viam somente os surdos oralizados e bilingues em suas entrevistas, acreditaram que todos eram iguais. Infelizmente a realidade é outra! Conheço surdos com ensino médio que não conseguem interpretar textos. Mas, as empresas olhavam o nível escolar, contratavam e pronto. Lembro de um colega surdo nestas condições que foi trabalhar em uma empresa de transporte. Trabalho anterior: digitação. Tinha conhecimentos de informática, mas digitava dados (ou seja, copiava os dados do papel, sem necessidade de tomar nenhuma iniciativa). No transportadora, os colegas tentaram se comunicar escrevendo, inclusive passando o que ele deveria fazer: abrir o e-mail da empresa todo dia, verificar se havia carga proveniente de São Paulo, a quantidade de caixas, tamanho, etc e tal, para reservar o espaço no galpão da empresa. Lembro desta história com pesar, pois este meu colega ficou na transportadora somente os 3 meses de experiência. Ele mal sabia escrever uma linha em bom português. A língua mãe dele é a Libras, e portanto ele escrevia em Libras, tipo "eu casa fui" (eu fui para casa); "saber não conheço difícil trabalho" (não sei, não conheço este tipo de trabalho. Muito difícil.). Imagine uma pessoa com este tipo de linguagem tendo que abrir e-mails, verificar carga, caixas, etc. Lembro que ele me contou, triste, que ficou só alguns dias trabalhando no computador e que depois foi mandado para o setor de cargas (ajudante de caminhão). Apesar de aparentar um bom físico, ele também tinha problemas de saúde, não aguentando o trabalho pesado.
Este é só um caso. Conheço muitos outros.
- continua

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