sexta-feira, 26 de março de 2010

Surdo como uma pedra...

Eu estudava em Belo Horizonte, mas passava férias e todos os feriados em Formiga. Conheci o Lucas e tinha contato com ele somente em Formiga, embora ele residisse em Belo Horizonte. Era primo do meu amigo Tonho. Tinha uma boa afinidade comigo por um motivo simples: ele também era deficiente, tinha um problema na perna, uma maior que a outra. Assim como eu, a deficiência ocorreu na adolescência, quando ele caiu da sacada da casa dele em Belo Horizonte.
Um dia, eu estava dentro do ônibus indo para a escola (em Belo Horizonte) e vi o Lucas caminhando pela Avenida Antônio Carlos. Como quase todo mundo, quando vê um conhecido, enfiei a cabeça pela janela do ônibus e berrei:
- Lucas! Ô, Lucas!
Não sei se era tanto o barulho do tráfego, a distância ou se ele simplesmente ignorou o grito; o certo é que ele não se voltou e meu ônibus continuou seu caminho. Eu tive certeza absoluta que meu grito foi suficientemente alto, porque quando tornei a sentar, todos os passageiros do ônibus me encaravam. Acanhado, cocei a cabeça e disse, em voz alta mesmo:
- Coitado do Lucas! É surdo como uma pedra!

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