sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal!

O texto é muito legal e eu reproduzo aqui.
O orginal está em Paróquia de Santo Afonso, o autor é Frei Betto.

A VOLTA DE JESUS

Sem chamar a atenção, Jesus voltou à Terra em dezembro de 2010. Veio na pessoa de um catador de material reciclável, morador de rua. Comia prato feito preparado por vendedores ambulantes ou sobras que, pelas portas do fundo, os restaurantes lhe ofereciam.
Andava sempre com uma pomba pousada no ombro direito. Na porta de um teatro, estranhou o modo como as pessoas bem vestidas o encaravam. Lembrou que, na Palestina do século 1, sua presença suscitava curiosidade em alguns e aversão em outros, como fariseus e saduceus.
Agora predominava a indiferença. Sentia-se, na cidade grande, um Ninguém. Um ser invisível.
Ao revirar latas de lixo à porta de uma faculdade, nenhum estudante ou professor o fitou. "Fosse eu um rato a remexer no lixo, as pessoas demonstrariam asco,” pensou. Agora, nada. Nem o percebiam. Ou consideravam absolutamente normal um homem andrajoso remexer o lixo.
Graças a seu olhar sobrenatural, capaz de apreender alma e mente das pessoas, Jesus sabia que eram, quase todas, cristãs...
Roubaram um carro defronte da faculdade. A vítima, uma estudante cirurgicamente embelezada, apontou-o como suspeito de cúmplice dos ladrões. A polícia, sem pistas dos criminosos, decidiu prendê-lo para aplacar a ira da moça, filha de um empresário.
O delegado inquiriu-o:
- Nome?
- Jesus.
- Jesus de quê?
- Do Pai e do Espírito Santo.
O delegado ditou ao escrivão:
- Jesus da Paz, natural do Espírito Santo.
A polícia conhece a diferença entre bandidos e moradores de rua. Tão logo a moça e seus pais deixaram a delegacia, Jesus foi liberado.
Saiu pela avenida, de olho nas vitrines das lojas. Todas repletas de enfeites de Natal. Tentou avistar um presépio, os reis magos, uma imagem do Menino Jesus... Viu apenas um velho de barba branca, gordo, com a cabeça coberta por um gorro tão vermelho quanto a roupa que vestia. O menino nascido em Belém havia sido substituído por Papai Noel. A festa religiosa cedera lugar ao consumismo compulsivo e à entrega compulsória de presentes.
Impressionou-se com os rápidos flashes coloridos dos televisores expostos nas lojas. A profusão de anúncios. Comentou com o Espírito Santo:
- Houvesse TV naquela época, teriam transmitido o Sermão da Montanha como um discurso subversivo e exibido no Fantástico a multiplicação dos pães. Se eu facilitasse, uma marca qualquer de cerveja iria querer me patrocinar...
Em busca de material reciclável, Jesus se surpreendeu com a quantidade e a variedade de lixo. Quanta coisa ele não conhecia! Como as pessoas consomem supérfluos! Quanta devastação da natureza!
Dormiu num banco de praça. Ao acordar, deu-se conta de que desaparecera seu saco repleto de latinhas e papéis. Possivelmente outro catador o levara. Pobre roubando pobre. Resignado, passou o dia revirando lixo para ganhar uns trocados e poder garantir a janta.
Tarde da noite, viu defronte de uma igreja. Decidiu entrar. Os fiéis, ao vê-lo tão maltrapilho, torceram o nariz. Jesus preferiu ficar de pé no fundo do templo. A Missa do Galo se iniciava. Achou o padre com cara triste, como se celebrasse um ritual mecânico. O sermão soou-lhe moralista. Não sentiu que houvesse, ali, a alegria da comemoração do nascimento de Deus feito homem. Os fiéis se mostravam apressados, ansiosos por retornarem às suas casas e se fartarem com a ceia natalina.
Terminada a missa, Jesus perambulou pela cidade. Pelas calçadas, sacos de lixo estufados de embalagens para presentes, caixas de papelão, ossos de frango e peru, cascas de ovos... Observou os moradores de um prédio reunidos no salão do andar térreo. Comiam vorazmente, estouravam garrafas de espumantes, trocavam presentes, abraços e beijos. Nada ali, nenhum símbolo, que lembrasse o significado originário daquela festa.
Passou diante de uma padaria que fechava as portas. O padeiro, ao ver o catador, pediu que esperasse. Retornou lá de dentro com uma sacola de pães, fatias de salame e um refrigerante.
- É pra você comemorar o Natal – disse o homem.
Jesus chegou a uma praça semiescura. Havia ali uma mulher excessivamente maquiada. Buscou um banco e ali se instalou para poder comer. A mulher se aproximou:
- Ei, cara, tem o que aí?
- Pão, salame e refrigerante.
- Não comi nada hoje. E a noite tá fraca. Faz duas horas que estou aqui e nada de freguês. Acho que em noite de Natal os caras ficam com culpa de pegar mulher na rua.
Jesus preparou o sanduíche e estendeu-o à mulher.
- Se não importa de beber no mesmo gargalo...
- Tenho lá nojo de alguma coisa? – murmurou a mulher.
- Se tivesse, não estaria rodando a bolsinha na rua.- Você não tem família?
- Tenho, lá na roça. Larguei aquela miséria pra tentar uma vida melhor aqui na cidade. Como não fui pra escola, o jeito é alugar meu corpo.
- Esta noite de Natal não significa nada pra você?
- Cara, você não imagina o que já chorei hoje lá na pensão. A gente era pobre, mas toda noite de Natal minha mãe matava um frango e, antes de comer, a família rezava um terço e cantava Noite feliz. Aquilo me deixava muito feliz. Não posso relembrar que as lágrimas logo inundam os olhos – disse ela, puxando o lenço de dentro da bolsa.
A mulher fez uma pausa para enxugar as lágrimas e indagou:
- Acha que, se Jesus voltasse hoje, esse mundo iria melhorar?
- Não sei... O que você acha?
- Acho que ninguém ia dar importância a ele. Essa gente só quer saber de festa, e não de fé. Mas bem que ele podia voltar. Quem sabe esse mundo arrevesado tomava jeito.
- Eu não gostaria que ele voltasse. Não adiantaria nada. Há dois mil anos ele veio e deixou seus ensinamentos. Uns seguem, outros não. Se o mundo está desse jeito, a ponto de eu ter que catar lixo e você alugar o corpo, a culpa é nossa, que não damos importância ao que ele ensinou. Veja, hoje é noite de Natal. Jesus renasce para quem?
- No meu coração, ele renasce todos os dias. Gosto muito de orar, não faço mal a ninguém, ajudo a quem posso. Mas, sabe de uma coisa? Eu gostaria de poder falar com Jesus, assim como nós dois estamos conversando aqui.
- E o que diria a ele?
- Bem, eu perguntaria se ser prostituta é pecado. Já vi um padre dizer que sim, e ouvi outro falar que não. O que você acha?
- Acho que Deus é mais mãe do que pai. E lembro que Jesus disse um dia aos fariseus que as prostitutas iriam entrar no céu primeiro que eles.


Frei BettoEstudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Frade dominicano e escritor, ganhou em 1982 o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Soletrando do Huck de novo...

Na verdade, soletrar as palavras em português não é muito difícil, porque praticamente escrevemos como falamos. Difícil de soletrar é o inglês (a pronúncia das palavras é muito diferente da escrita). A palavra que Luciano Huck erra nem é tão difícil assim de pronunciar.



Não considero que o quadro seja uma farsa. Quem montou o vídeo é que colocou o título.

domingo, 4 de dezembro de 2011

E meu time, o Cruzeiro, se manteve na 1ª Divisão

O Cruzeiro se livrou da 2ª Divisão, mas o campeão brasileiro é o Corínthians. Não tenho nada para comemorar O Corínthians foi campeão em 1998 em cima do meu Cruzeiro. Os atleticanos fizeram a maior festa. Nunca se vendeu tanta camisa do Corínthians aqui em BH como naquele ano. Em 1999, adivinha quem estava na final, contra o mesmo Corínthians? O Atlético. Perdeu também. Os cruzeirenses comemoraram, mas a venda de camisas corinthianas se manteve na faixa de sempre (os cruzeirenses não compram camisas de times que ganham campeonatos em cima do rival). Uma pena que estes dois títulos não vieram parar em Minas. Agora o Corínthians acumula cinco conquistas. Isto, só o Corínthians, heim? Mais que o dobro de títulos dos rivais mineiros juntos. A briga nas minasgerais torna o futebol mineiro ridículo em comparação com os outros estados. Hoje, MG tem 3 títulos porque a Taça Brasil de 1966 foi considerada o Campeonato Brasileiro da época e dá 2 títulos para o Cruzeiro e 1 para o Atlético. MG está em quarto lugar, atrás de RS, que tem 5 títulos. SP tem 28 títulos, RJ, 14, RS, 5, MG, 3, BA, PR, 2 e PE, 1. Levaremos no mínimo 2 anos para nos igualar ao RS, desde que eles não ganhem e claro, desde que um dos mineiros seja campeão em 2012 e 2013. Torci muito para o América se manter na 1ª Divisão, mas não foi possível. Torci muito para o BOA na Série B. E para o Tupi, de Juiz de Fora, que foi campeão da Série D e está na Série C do ano que vem.
Torço para que os times mineiros cresçam e conquistem o máximo possível de títulos. Claro que não torço para o Atlético ganhar títulos, mas ficar em evidência nos campeonatos, sim, pois valoriza as conquistas cruzeirenses  Mas, não torço de véspera. Sempre, desde que acompanho futebol, aprendi que torcer e comemorar é durante e depois do jogo. Também aprendi que gozações aos adversários devem ser depois dos jogos. Me perguntavam qual seria o resultado do jogo hoje, eu respondia, clássico é clássico, qualquer resultado será possível. Mas, uma goleada de 6x1 nem o mais otimista dos cruzeirenses acreditava. E analiso as coisas com prudência, sem fanatismo. Eu disse ao meu colega Geraldo, atleticano, semanas atrás, quando os dois times ainda corriam o risco de cair:
- Geraldo, muitos cruzeirenses estão comemorando a derrota do Atlético, que precisa só de um ponto para escapar. Pois eu acho que, se os dois chegarem no último jogo precisando se salvar, vai ser pior ainda para o meu Cruzeiro. Se o Atlético se  livrar antes do rebaixamento e o Cruzeiro depender de vitória no último jogo, melhor para nós. O Cruzeiro entra no último jogo dando o sangue pela vitória e o Atlético, livre do rebaixamento, joga tranquilo, tentando derrubar o Cruzeiro, mas, tranquilão, porque já escapou da Série B.

Pois é, o Mãe Dinah aqui acertou. O Atlético se livrou do rebaixamento domingo passado e o Cruzeiro não. Hoje, era um jogo de vida e morte para o Cruzeiro, mas para o Atlético não! Poucos se dão conta deste fato. Os atleticanos, então, preferem dizer que o jogo foi vendido. Essa é a desculpa mais utilizada pelos atleticanos quando perdem jogos ou campeonatos. Em 1977 (eu era um rapazinho ainda), após a conquista do Campeonato Mineiro, os atleticanos disseram que o goleiro uruguaio Ortiz tinha se vendido e levado os 3 gols na final. Agora dizem a mesma coisa. O Atlético se vendeu de novo? Puxa vida, que time sem vergonha, heim? Deve ser o mais vendido da história!

Em 2012 vamos ver como se sairão os mineiros. Que os dois times tomem vergonha e façam mais, muito mais, do que lutar contra rebaixamento.