sábado, 1 de maio de 2010

Te conheço?

O jovem veio em minha direção, sorridente e com a mão estendida:
- Como vai, Jairo? Tudo bem?
Eu fitei o jovem longamente, mas não consegui resgatar a imagem no mais profundo da minha memória. A memória só possibilitou uma leve lembrança da pessoa, mas eu não sabia de onde, quando e porque!
- Tudo bem, e você? - perguntei também, completamente sem graça. Este tipo de situação me deixa meio perdido; não sei se digo logo que não lembro de onde nos conhecemos ou se aguardo a memória trazer uma luz. Quando a conversa se prolonga eu acabo confessando não me lembrar da pessoa, desistindo de tentar lembrar de onde nos conhecemos.
- Trabalhando muito, como sempre. E voce ainda continua com o trabalho junto aos surdos?
Ah, ele me conhecia do meu antigo trabalho. E também sabia conversar comigo, falando pausadamente, sem exagerar.
- Não, o trabalho com os surdos encerrou-se definitivamente ano passado. Atualmente eu sou funcionário público.
- Que bom! Mas, olha, Jairo, estou com pressa danada. Vou indo. Uma outra vez a gente conversa direito, certo?
- Certo!
Apertamos-nos as mãos e ele se vai. E eu fico remoendo a memória tentando lembrar onde nos conhecemos. Mas, não consigo. É muito chato conversar com uma pessoa que sabe quem você é e você não tem idéia de quem é ela. Mas, colegas já me disseram que quando trabalhei com os surdos fiquei exposto e é claro que as pessoas me conheceram mais do que conheci as pessoas.
É igual quando uma pessoa passa de carro e grita seu nome. Você se volta, não reconhece o carro e não tem condições de visualizar a pessoa. E se esta pessoa não se encontrar com você recentemente e dizer que te viu naquele lugar, você nunca saberá quem foi que gritou seu nome.

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