quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Santo Antônio das Roças Grandes...

Um dia eu estava indo com minha mãe pela cidade e vi um ônibus com destino a Santo Antônio das Roças Grandes. Eu perguntei minha mãe:
- Tem este Santo Antônio também?
- Tem e é perto daqui. Fica em Sabará.
Sabará faz parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
- Temos que ir lá um dia. - disse minha mãe, meio pensativa.
- Porque?
- Por que quando você ficou surdo e estava no hospital, rezei muito para Santo Antônio das Roças Grandes. Para você melhorar. A Olímpia também.
Olímpia era minha madrinha.
Estou lembrando disto porque assisto alguns capítulos da novela Viver a Vida. Por causa da moça (Luciana) que fica tetraplégica. É interessante acompanhar a história de deficientes, embora seja uma deficiência completamente diversa da minha.
Quando a moça sofreu o acidente e estava imobilizada na cama do hospital, conversou com a mãe. E lembro que uma parte dos diálogos era o pedido da moça à mãe:
- Vai dar tudo certo, minha filha.
- Mãe, você promete que eu vou ficar boa?
- Sim, minha filha. Eu prometo.
E imaginei o quanto minha mãe rezou pela minha recuperação. O quanto ela prometeu, o quanto sofreu, enquanto eu estava em coma no hospital. Minha mãe mesmo havia me contado que passou uma semana sem se alimentar direito, a semana em que fiquei em coma. E quando ela me contou que tinha rezado tanto, imaginei o que ela passou. São coisas que a gente só vem a entender depois que temos os nossos próprios filhos. As dores que sentem, doem muito mais em nós. O que sofrem, são sofrimentos nossos também. A ligação que temos com os filhos é muito forte. Mas, enquanto filhos, não temos noção desta ligação. Depois que tive meus filhos foi que imaginei minha mãe rezando, pedindo, implorando, para que o filho sobrevivesse. Eu saí do hospital surdo, mas, estava em perfeitas condições físicas e mentais. Podia caminhar com minhas próprias pernas, podia fazer as coisas independentemente... só não podia mais ouvir. Meu mundo ficou em silêncio, mas lembro do apoio familiar, da preocupação de minha mãe comigo, o receio que eu ficasse revoltado, que eu tentasse alguma coisa errada. Mas, eu era otimista desde pequenininho. Com o apoio familiar, com a benção de minha mãe, continuei tocando a vida, vivendo a vida, mesmo que os sons já não fizessem mais parte dela.
:) 

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