quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O TDD (telefone para surdos)


O TDD é um aparelho telefônico para surdos, com um teclado aclopado, para digitação das mensagens. TDD é a sigla em inglês para Telephone Device for Deaf (aparelho de telefone para surdos). Poucos sabem que é uma invenção de um cientista surdo: Robert Weitbrecht. Mas, a tecnologia para redução dos aparelhos (eram enormes) demorou muito. A invenção acabou suplantada pelos celulares, que permitem o envio de mensagens de texto, muito mais práticos. Ainda existem TDD's pelo Brasil afora. Nunca havia utilizado o TDD, devido justamente ao celular, até...
Semana passada, na hora do almoço, fui ao banco depositar um dinheiro para meu filho. Já estava no interior do banco quando percebi que esqueci de trazer o papel com o número da agência e o da conta. Estava sem meu celular há dias, pois o mesmo estragou. Não tinha certeza se meu filho precisava do valor depositado naquele dia. Se estivesse no meu local de trabalho, claro que pediria a um colega para ligar para mim, mas como eu faço somente uma hora de almoço, não tinha como voltar e pedir alguém para ligar. Lembrei dos TDD's e fui para a companhia telefônica na Rua Tamoios. É a Oi a responsável pelos telefones públicos de BH. Comprei um cartão de créditos e fui até o aparelhinho. Li as instruções, apertei botões, coloquei o cartão, mas nada do telefone funcionar. Fui ao balcão e solicitei:
- Preciso de ajuda para utilizar o telefone para surdos.
A moça me fitou espantada e apontou para uma outra pessoa:
- Fala com ela lá.
Fui até a outra moça, aliás, uma senhora, pois aparentava ter minha idade.
- Você poderia me ajudar a usar o telefone ali. - apontei para o TDD.
Como quase todas as pessoas que não me conhecem ou que têm um primeiro contato, ela considerou que eu fosse um caipirão:
- Este telefone aí é para os surdos. Use aquele lá - apontou para um telefone comum.
- Não, eu preciso usar este telefone. Eu sou deficiente auditivo! - eu tenho muita paciência, sei que as pessoas ainda estão engatinhando no aprendizado de como tratar os deficientes.
A senhora me fita espantada. Surdo, falando normal, dicção perfeita... ainda assim considera que eu estou errado, que não entendo nada do aparelho:
- Não tem jeito, a outra pessoa também tem que ter um aparelho igual este.
EU ensino para a senhora sobre o TDD:
- Somente se a outra pessoa for surda. Quando um surdo liga para uma pessoa ouvinte, há uma intermediária que transmite as mensagens por voz, para o receptor. Eu preciso somente utilizar este aparelho, com o intermediário, porque minha esposa não é surda.
Ela mexe daqui, mexe de lá, aperta a tecla para ligar o teclado (isto eu também fiz), insere o cartão, mas nada do telefone chamar. Liga para o número da ajuda, que está no aparelho, não resolve nada, aliás, piora:
- Você tem que fazer ligação sem cartão.
"Que eu saiba, o serviço não é gratuito!", eu ia falar, mas apenas disse:
- Então faça a ligação, por favor.
Ela aperta mais alguns botões, disca o número 142 (ih, este eu não prestei atenção. Tinha que ligar para este número, que é a central intermediária).
Não adianta, não consegue fazer a ligação.
Viramos atração das atendentes; a moça do balcão fica rindo disfarçadamente; as da venda de cartões chegam até a portinhola para nos olhar. O jovem segurança também chega, pergunta porque a atendente estava tentando usar aquele telefone, crendo que sou ouvinte e que poderia usar um telefone comum. Ele aponta as instruções (ah, como se eu não tivesse lido!!), manda apertar outros botões. Nada de nada.
Cansei!
- Senhora, não adianta. A senhora poderia fazer a ligação para mim? È só ligar para minha esposa e perguntar se precisa depositar o dinheiro do meu filho hoje, porque eu esqueci o número da conta.
Ela disse ok, perguntou qual era o número. Ligou. Alguém atendeu e ela já estava falando:
- É o rapaz aqui que quer saber o número da conta...
- Rapaz, não. Jairo. Quem está falando?
- Sua esposa mesmo. O que você quer saber mesmo?
Precisava do número da conta e agência. Ela perguntou e o segurança pegou papel e anotou.
Desligou e me entregou o papel.
Agradeci, reclamando:
- Obrigado, mas é um absurdo que ninguém sabe como utilizar o aparelho.
- Não, a gente sabe, mas, mas... um problema...
- Na hora que eu mais precisei, não foi possível utilizar! De qualquer forma, obrigado.


Tenho que lembrar de reclamar com a Oi, que os atendentes não estão capacitados para ajudar quem precisa utilizar o telefone para surdos.


4 comentários:

  1. Olá Jairo, estou realmente perplexa com toda sua história, que li atentamente e vou fazer um comunicado para a Oi para um treinamento aos funcionários. Sou responsável pela comunicação na empresa Koller, que é a fabricante dos telefones públicos para surdos no Brasil, por isso acho muito importante matérias como esta, pois nos alertam onde estão as dificuldades na hora de usar o TDD, que é um aparelho muito útil.
    Obrigada

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    1. Oi me chamo Leda ,faço um trabalho com libras aqui em minha cidade Taubaté e desconheço a existência desse aparelho aqui ,tenho contatos frequentes com surdos e ficaria feliz por eles, obrigada meu email ledainterpretedelibras@gmail.com

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    2. Leda, eu fiz um post mais atual, falando somente de tecnologia para os surdos, com links para as empresas:
      http://jafeol.blogspot.com.br/2013/04/tecnologia-para-surdos.html

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  2. As empresas pelo menos de médio e grande porte deveriam ter um profissional habilitado para poder ajudar e orientar melhor os surdos no Brasil.
    Ou melhor qualificar alguns profissionais da própria empresa fazendo assim um link direto entre as empresas e o público surdo.

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