sábado, 30 de outubro de 2010

Uma escola na roça

Lembrando de coisas dos bons tempos de infância, lembrei também quando fomos numa roça, próxima de Formiga, onde minha irmã mais velha dava aulas.
Fomos eu, meu primo e minha tia. Pegamos carona no caminhão de leite. Era um caminhão Ford F600, cheio de latões de leite. Eu e meu primo entusiasmados com a viagem, principalmente por ir ali, ao lado do motorista, vendo a estrada à frente. Quando saímos da rodovia MG 050 e pegamos uma estrada de terra, havia um outro caminhão à nossa frente. O caminhão à frente levantava uma nuvem de poeira, tornando a visibilidade praticamente nula. Mas, o motorista do F600 não estava nem aí; acelerava, acompanhando a nuvem de poeira. Minha tia, preocupada, chegou a pedir ao motorista:
- Vai mais devagar, moço. Com essa poeirada não dá para ver a estrada.
- Calma, dona Madalena. Eu conheço esta estrada como a palma da minha mão. Pego esta estrada todos os dias.
- Mesmo assim. Não dá para ver nada!
O motorista riu e continuou seguindo a poeira.
Chegamos sãos e salvos na escola. Uma área arrumada para a festa. Os alunos de minha irmã fizeram apresentações, cantando, vestidos a caráter. Pais e mães admirados que os filhos estivessem participando, ativos, como "meninos da cidade". Cantaram, uma aluna e um aluno:
- "Côco de Mim, onde tu vais, olê Martim..."
E cantando, o garoto diz que vai comprar chapéu e pergunta quanto custa e a garota responde que custa um réis; o garoto reclama que está muito caro e a garota termina com um "então vai tomar banho, olê Martim". Isto arranca risos dos pais.
Depois, as três empregadinhas, que cantam sobre o trabalho, a lavadeira, a cozinheira e a passadeira. São todas atrapalhadas, deixando a água entornar, a comida queimar e o ferro estourar. Lembro que meu primo, por muitos dias, ficou a alugar esta cantilena, devido ao linguajar das alunas:
- "Somos as treis impregadinhas, gostamo muito de trabaiá..." - cantava meu primo, imitando a voz fina das alunas. Nós ríamos a não poder mais.
Ali também vimos o apreço e o respeito que os pais tinham pela minha irmã.
- Dona "Parecida", trouxe aqui um queijo para a senhora.
- Aqui tem umas broas que eu mesma fiz pra senhora.
Esta demonstração de apreço, de respeito, são os bons exemplos que levamos para toda vida. Mais do que sermões, blábláblas, a visão daqueles fazendeiros rudes, suas esposas humildes, todos tratando minha irmã com tanta deferência, foi um ensinamento perfeito. São imagens assim que moldam o caráter das crianças, pois mostram o quão valioso é ser correto na vida.

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