quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um outro silêncio

Abro o e-mail e minha irmã informa que um amigo faleceu na madrugada.
Um amigo de Formiga. Amigo de infância.
Sinto-me totalmente impotente diante da morte, da distância e da impossibilidade de mudar o curso da vida. Lágrimas correm pelo meu rosto.
Ele era mais novo que eu, mas enfrentava alguns problemas de saúde. De imediato surgem as lembranças de quando éramos apenas crianças, brincando na rua 13 de maio, jogando bolinha de gude. Eu, ele, minha irmã mais nova, a caçula à época. Quando a vida não trazia preocupações, só diversão, brincadeira. A inocência de que tudo, por mais difícil que fosse, era superável. Algumas coisas não são.
Crescemos ali no mesmo bairro, jogando bola no campinho, soltando papagaio. Mesmo depois que eu fiquei surdo ele continuou amigo. Trabalhamos juntos informalmente, garotos ainda, num mercadinho ali na rua 13 de maio. Depois, quando eu já era maior de idade, vim para Belo Horizonte trabalhar e nos distanciamos. Casei, o curso da vida muda e não tem como; era muito difícil eu encontrá-lo.
Anos depois, estava visitando minha mãe e ele apareceu. Conversamos amenidades; rimos muito porque ele perguntou se eu pintava o cabelo. Eu disse que não e perguntei porque? Era porque ele já tinha os cabelos brancos, embora fosse mais novo que eu e os meus tinham poucos fios brancos. Ele se foi, já não morava mais ali no bairro. Minha mãe observou, corretamente, que ele tinha uma boa afinidade comigo. Essas coisas tão simples, tão banais, é que nos deixam assim, angustiados, diante do fato de pessoas que fizeram parte do nosso viver, um dia se vão. Embora a convivência não fosse marcante, só o pensamento de que ele estava lá, em Formiga, que mais dia ou menos dia a gente se encontraria novamente, preenchia o vazio que agora se faz presente.
Faz-se silêncio também em minhas lembranças...
Que descanse em paz, meu amigo, Josué.

Um comentário:

  1. A amizade verdadeira não vai com a morte. As lembranças existirão para confirmar que de fato temos ou fomos amigos de verdade. Valeu...Elizete

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