sábado, 10 de julho de 2010

O sol é para todos

Vim estudar em escola especializada para surdos (Instituto Santa Inês), aqui em Belo Horizonte, um ano após ter perdido a audição. As manhãs eram preenchidas pelo tempo escolar que, diga-se de passagem, eram muito bons. As tardes, porém, eu ficava sozinho em casa, pois minhas irmãs iam trabalhar e só retornavam à noite. Estas tardes solitárias fizeram com que eu lesse tudo, praticamente tudo, que caísse em minhas mãos. Lia as revistas de fotonovelas das minhas irmãs, os livros que elas liam, jornais velhos, revistas velhas, além das revistinhas em quadrinhos que eu comprava e que minhas irmãs também compravam aos montes para mim. Desenhava e escrevia muito também. Eu devorava até livros entediantes, que tempos depois, ri de mim mesmo ao lembrar que li alguns livros sobre educação infantil, ensino de educação física e esportes, regras de basquete, volei, handbol, pois uma de minhas irmãs formou-se em Educação Física. Li o livro A Carne, de Júlio Ribeiro, com partes censuradas (pontilhados nas passagens mais eróticas). Na visão atual o livro não tem nada de mais, retrata a sexualidade humana e suas passagens outrora censuradas passam a soldo nas novelas das oito.
Mas, esta leitura tão diversificada auxiliou em toda minha formação cultural, no meu conhecimento das coisas, da vida.
Adolescente, eu gostava muito de ler e de me emocionar com as histórias que envolviam adolescentes como eu. E eu lia um mesmo livro mais de duas ou três vezes. A mesma coisa em relação a filmes. É outro hábito que tenho até hoje. Releio e revejo livros e filmes que gostei.
Uma de minhas irmãs trabalhou como secretária de uma paróquia e o pároco responsável permitia que ela trouxesse muitos livros para eu ler. Ela trazia os compêndios de livros, publicados pela revista Seleções do Readers Digest. Eu devorava os três ou quatro livros que faziam parte do compêndio. Anos depois, com meu próprio dinheiro, pude comprar alguns daqueles livros. Comprei  O Sol é Para Todos, que conta a história do julgamento de um negro, acusado de estuprar uma branca, nos anos 30, quando o racismo ainda era muito forte nos EUA. A história é contada a partir da visão da menina, Scout (Jean Louise). As crianças da história, Scout, seu irmão Jem, o amigo Dill, retratam uma atmosfera que eu também vivi, de brincadeiras, superstições, casas assombradas (a casa de Boo Radley), ruas escuras.
Recentemente adquiri também o DVD, com o filme. Quando mais novo eu soube que havia um filme inspirado no livro. Porém, nunca tive a possibilidade de assistir este filme. Aliás, eu assisti, mas em uma tv horrível, com uma imagem pior ainda e sem legendas. Como o filme é preto e branco, com muitas cenas escuras, e eu ainda tinha o problema de não ouvir os diálogos, o filme para mim era uma porcaria. Agora, com o DVD, imagens excelentes, o filme é realmente muito bom, pois se mantém fiel à essência do livro. 
 

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