segunda-feira, 26 de julho de 2010

Armados e perigosos...

Chicão era dono de uma pequena oficina mecânica. Tinha um bom porte físico, andava quase sempre com a barba por fazer, usava a vestimenta comum aos mecânicos, macacão sujo de graxa. Com a greve dos professores, as férias do caçula de 7 anos foram empurradas para o fim do mês, causando um problema para a família, pois a filha mais velha, de 16 anos, já estava no interior junto com a avó e a empregada também estava de férias. A esposa de Chicão não viu outra saída e decretou que ele levasse o garoto para a oficina, pois ela não poderia levá-lo para a repartição da Receita Federal. O garoto adorou passar os dias com o pai na oficina. Não dava trabalho. Levava os brinquedos e brincava sossegadamente, aproveitando os momentos de folga do pai para brincar perto dele. Chicão, que apesar de carrancudo, era uma pessoa calma e tranqüila, ficava admirando o guri. O garoto puxou o pai no quesito organização. Levava os brinquedos por tipo, para cada dia da semana. Na segunda levou os bonecos de super-heróis, na terça, os carrinhos e assim por diante. Na sexta, levou armas que, mesmo sendo pacifista, Chicão acreditava que o garoto devia ter contato. Afinal, quando criança Chicão brincou de polícia e bandido e sabia muito bem diferenciar uma coisa da outra. Cedo, ainda não tinha nenhum cliente na oficina, ele estava só com o filho, pois o colega que trabalhava com ele estava testando um carro junto com um cliente. O filho o convidou para brincar e lhe entregou uma pistola. Era uma réplica perfeita de uma arma verdadeira. Chicão ficou admirando a arma. Percebeu que o filho estava mexendo na torneira nos fundos e entendeu que ele estava enchendo a metralhadora de água. Nesse momento uma madame para o carro em frente à oficina e Chicão fez cara feia, pois o passeio era rebaixado, não permitindo que estacionassem ali. Aguardou que a madame saísse do carro, pois poderia ser uma cliente, mas ao vê-la se dirigindo para a loja ao lado, gritou:
- Ei, dona!
A reação da madame foi um grito histérico. Chicão não percebeu que havia chamado a madame apontando a pistola para ela. O grito atraiu outras pessoas. A maioria sequer se aproximou ao perceber que Chicão estava “armado”.
- Socorro! – berrou a madame. – Ele está armado.
Pedro, colega da loja ao lado olhou para o amigo Chicão, percebeu a arma e falou, usando tom de voz de padre celebrando missa:
- Chicão, o que você está fazendo com essa arma, amigo?
Quase no mesmo instante o guri sai em desabalada carreira da oficina, aproxima-se do pai e “atira”:
- Páápápápápá – esguichando água da metralhadora e assustando todos os que observavam a cena. – Ih, pai, cê não sabe brincar! Você já tá morto!
Chicão respondeu apenas:
- É melhor a gente parar com essa brincadeira, antes que eu acabe morto de verdade!

De noite, a esposa não conseguia parar de rir.
- Ai, meu Deus, eu queria estar lá para ter visto a cena!
- Você precisava ver o Pedro, perguntando com voz toda melosa, o que eu estava fazendo com a arma. E o gerente da padaria do outro lado da rua ainda chegou a chamar a polícia. Mas ao ver que era tudo brinquedo, ligou de novo informando que era engano e pedindo desculpas.
Ainda rindo muito, a esposa lembrou-se:
- E a madame?
- Ah, essa eu tenho certeza que nunca mais estaciona diante de passeio rebaixado de uma oficina.

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