terça-feira, 7 de maio de 2013

O amor é lindo...

Ao despedir-me do meu namorado, meu pai abriu a porta da sala que dava para a varanda, ocasionando um susto repentino entre nós. Nos afastamos, temerosos e meu pai disse:
- Boa noite, jovem.
Meu namorado respondeu, apesar de um tanto assustado, com voz firme:
- Boa noite, senhor.
E aproveitando estar afastado, dirigiu-se a mim:
- Tchau, até amanhã!
- Tchau. – respondi, meio triste, pelo modo como ele estava indo e ao mesmo tempo temerosa do meu pai.
Meu pai, sério, mas tão compreensivo quanto, me fitava com um sorriso nos lábios.
- O seu namorado não precisava ir embora tão rápido.
- Ele não é meu namorado, pai. – tentei amenizar uma possível discussão.
- Minha filha, a quem você quer enganar? Acha que não percebi a troca de olhares de vocês dois, o jeito carinhoso de se despedir, mesmo que só com palavras! Claro que é seu namorado...
Fiz uma careta, contrariada. Meu pai tinha dessas coisas. Era muito observador. Nada passava despercebido perto dele.
- Ele é mais novo ou mais velho que você?
- Porque pergunta?
- Ele estuda na mesma escola que você, mas não é da sua sala.
- Paaiiii!! – agora eu estava brava, porque estávamos sem uniforme e eu fiquei desconfiada de como ele sabia disso. – Você andou lendo meus cadernos ou o quê?
- Você é muito ingênua, minha filha. – ele estava rindo – Eu já vi o jovem no portão de sua escola quando fui te buscar tempos atrás. O mesmo olhar carinhoso, te acompanhando enquanto você vinha para o carro.
- E como sabe que ele não é da minha sala?
- Uma vez que já o “conhecia” de vista, das vezes em que fui te buscar, quando você me mostrou a foto da sua turma, procurei o garoto, claro, e ele não estava.
- Ah, pai, não acredito! Por isso você perguntou se tinha algum colega ausente na foto. E a boba aqui, sem suspeitar de nada...
Meu pai estava rindo. Então, ele sabia, e neste tempo todo, não falou nada. Ainda que temerosa de uma reprimenda, se ele sabia e não disse nada é porque talvez aprovasse que eu já estivesse namorando.
- O que mais você investigou dele?
- Nada. Não sei o nome dele e você não me respondeu se ele é mais novo ou mais velho que você. Aparentemente, é um bom rapaz. Vocês devem estar namorando há uns seis meses.
Há oito meses, para ser mais exata, mas eu preferi não me vangloriar. Há oito meses atrás eu ainda tinha quatorze anos. Agora, com quinze, sentia-me muito mais dona do mundo, muito mais forte, mais contestadora e iria batalhar para continuar com meu namorado.
- Ele é um ano mais velho que eu. Está uma série à frente.
- Como eu disse, ele aparenta ser um bom rapaz. Espero que dê tudo certo entre vocês...
- Pai, eu posso ir no...
- Não!
- ... shopping com ele?
O “não” foi dito calmamente, mas com entonação forte. E ficamos, eu e meu pai, nos fitando. Quando eu abri a boca para contestar, ele se antecipou:
- Vamos esperar mais alguns meses, certo? Não esqueça que tenho que conversar com sua mãe, que não sabe de nada, nada, ainda. Vocês vão demonstrar que o namoro é sério, respeitando essa minha decisão. E em pouco tempo, poderá passear com ele no shopping. Confio na sua responsabilidade.
Ah, que droga. Meu pai era um verdadeiro advogado. Negociava muito bem com o “cliente”. Ou concordava, ou perdia tudo. A maré era boa. Melhor contemporizar. Acenei afirmativamente com a cabeça, concordando. E lembrei de minha mãezinha, que era muito mais protetora que meu pai e que dificilmente aceitaria meu namoro sem a intermediação dele. Para ela, os estudos primeiro, namoro, só depois de formada.
- Acredite, minha filha. No momento, é o melhor para todos.
Meu pai passou os braços pelos meus ombros e entramos. Enquanto cruzávamos a porta ele disse:
- E preste atenção numa coisa, minha filha: cegonhas, muitas vezes se tornam aves negras de filmes de terror...

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