segunda-feira, 26 de março de 2012

Meus tempos trabalhando em gráfica - I

Três vias de uma notinha numerada,
pronta para intercalação
Trabalhei mais de 8 anos em uma grande gráfica, com mais de 300 funcionários. Era auxiliar no setor de acabamento. Quando cheguei, o chefe do setor duvidou de minha capacidade (que novidade!!), mas o fato de eu saber datilografia já era uma vantagem. Datilógrafo já foi profissão também... mas hoje é só lembrança de que antes de um computador e do Word, usávamos máquina de escrever e papel. Eu datilografava os rótulos das embalagens, usando carbono para fazer umas 4 ou 5 cópias por vez. Quando eram poucos rótulos ele pedia uma das moças para datilografar, mas quando eram muitos, mais de 50 por exemplo, ele me chamava no outro setor. Eu datilografava rápido, usando os dez dedos e todos se espantavam justamente por isso. A moça que digitava rótulos em pouca quantidade usava os dedos indicadores. A demonstração de que eu tinha conhecimento da máquina de escrever era a mesma coisa de um jovem que chega numa firma hoje em dia e demonstra conhecer o computador. O teclado dos computadores seguiu o padrão dos teclados das máquinas de escrever. Então o chefe do setor resolveu que eu trabalharia ali com ele, cuidando do serviço de acabamento junto às 20 moças. A minha facilidade de aprender ajudou (sempre ajudou!) bastante. 
Ser inteligente e observador deixou o chefe satisfeito com meu trabalho e durante os anos que trabalhei com ele eu era considerado seu braço direito. O auxiliar era o Branco (Nilton), que às vezes não conseguia resolver coisas simples. Uma vez o Josué (o chefe) explicou para o Branco:
- Divide o serviço para três moças. Presta atenção que as vias são numeradas até 100. Blocos de dez.
Eram mais de 5 vias, ocasionando muito trabalho de intercalação (o trabalho de unir as vias). Só que uns dez minutos depois o Branco ainda não tinha colocado o serviço para as três moças. Chegamos perto, eu e Josué e ele estava tentando dividir 100 por 3. Eu disse:
- Nilton, não pode ser 33 para cada uma porque as vias são numeradas e os blocos tem que ter 10 vias. Põe de 001 a 040 para a Conceição, que é a mais rápida; de 041 a 070 para a Marta e de 071 a 100 para a Penha.
O Josué ainda aluga o rapazinho:
- Você aprenda com ele senão você não fica aqui não.

Eu era muito atencioso com o serviço e verificava tudo antes de mandar as brochuristas começarem a intercalar. O chefe também revisava tudo, mas mesmo assim vez ou outra aconteciam erros. Um dia verifico o trabalho da brochurista Gleide e percebo que ela está intercalando um bloco com a face das vias voltadas para baixo. Curioso, pergunto:
- Porque você está intercalando desse jeito?
- O Josué que mandou! – essa era uma forma das brochuristas se eximirem de responsabilidades. Também era uma forma de dizer que “estava tudo certo”, principalmente quando eu ia questionar alguma coisa. – São vias numeradas, já estavam intercaladas, mas faltou o carbono.
- Tudo bem que o Josué mandou... mas está errado! Entendi que está virado por causa da numeração. Mas o carbono também tinha que estar virado.
Claro, chama o chefe. Ele vem ver qual é a polêmica. Digo que se as vias estão com a face para baixo, o carbono também deveria estar, senão ao invés da copia sair na segunda via, sairia nas costas da primeira via.
O chefe verifica as vias já intercaladas e confirma que estou certo. Manda a brochurista desfazer todo o serviço (separar as vias intercaladas). Nos afastamos rindo da brochurista reclamando com um:
- Ah, não, Josué...

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