domingo, 22 de agosto de 2010

Os bons companheiros

Sempre agradeci a Deus por ter bons amigos do meu lado, nos momentos de minha vida. Quando fiquei surdo, perdi quase todos os amigos. Nenhum deles sabia como lidar com uma pessoa que ontem estava ouvindo normalmente e hoje não entendia patavina do que diziam. O distanciamento foi grande e isto me causou uma grande amargura. Naqueles primeiros anos de minha surdez, em Formiga, o Tonho passou de conhecido a amigo. Ele aprendeu o alfabeto dos surdos e alguns sinais. Foi uma pessoa importante para que os "normais" me aceitassem junto a eles, jogando bola, brincando, passeando e voltando a ter uma vida social quase normal. Quando já estava trabalhando aqui em Belo Horizonte, na gráfica, tive a felicidade de ter bons amigos que sempre me auxiliaram quando necessário. O Wander (Ceguinho) e o Sebastião Borges (Tiãozinho), foram os que possibilitaram a minha boa convivência com 90% dos funcionários da gráfica (eram mais de 400 funcionários). Eles aprenderam o alfabeto e sempre procuravam me inteirar de todos os assuntos. Isto, no principio. Com o  tempo e graças a eles, o pessoal percebeu que eu era legal, humorado e uma boa companhia. Assim, eu sempre tinha companhia para a roda de cerveja nas sextas-feiras, festas nos fins de semana, futebol, entre outros.
Mas, há sempre aqueles que continuavam vendo O Surdo, como apenas um surdo. Uma vez eu e o Wander subíamos em direção à nossa área de trabalho (a gráfica era realmente grande), conversando amenidades, após o almoço. Percebi que ele fez uma careta, mas não deu para entender o que era. Olhei para os lados, mas os demais colegas não nos davam atenção. Até que ele me parou e mandou eu olhar para trás. Um outro colega, o Bira, ao longe fez o sinal de positivo e eu perguntei o que que foi. Ele fez o sinal de positivo de novo e foi para o refeitório. Então o Wander me contou:
- Ele estava berrando: ô, Surdo, ô Surdo. Mas, eu não dei bola e quando ele percebeu que eu não ia te chamar mesmo ele mudou e gritou: ô, Ceguinho, chama o Surdo aí. Aí eu te mandei olhar para ele.
- È cada uma, né, Wander! Ainda bem que eu não ligo para estas coisas mais não. Mas, você foi legal, não dando atenção a ele, que era o que ele queria.
- Quer fazer papel de bobo, que faça sozinho.

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