sábado, 7 de janeiro de 2012

Observando: ônibus.

Sou observador por natureza. Sequer fico entediado no ponto de ônibus, porque fico observando tudo em derredor.
Todo dia vou e volto do trabalho de ônibus. Observo os passageiros que sempre pegam o mesmo ônibus que eu, praticamente no mesmo horário. Nos dois horários que costumo pegar o ônibus, alguns passageiros estão sempre presentes.
A moça da ótica, o cara da Telemont, o vendedor da Honda, a atendente do laboratório. Estes pegam o ônibus já uniformizados, assim como o policial militar, a enfermeira e o bombeiro militar.
Acompanhando estas pessoas no dia a dia, a moça que aparenta gravidez em seu estágio inicial, mês a mês vai se transformando, até não poder mais passar pela roleta devido ao barrigão. Depois de nove meses ela some; está em licença maternidade. Quando ressurge, é um espanto. Não tem mais aquela barriga enorme, o físico volta a ser o mesmo de antes. Algumas vezes até aparecem pegando o coletivo com o neném.
Uma loira alta sempre cumprimentava o trocador e eu percebia a expressão sincera e feliz. Eu leio muito as expressões faciais. A surdez acaba por nos tornar experts em expressões faciais. Ela era casada, sorridente, tranquila. Há pouco mais de seis meses eu percebi que o bom dia que ela desejava ao trocador já não era mais acompanhado da expressão sincera. Uma sombra de tristeza pairava sobre os olhos dela. E observando e observando, percebi que o dedo anular da mão esquerda só tinha a marca da aliança. Ela se separou e não transmitia mais a alegria de antes. Até hoje eu a vejo no ônibus, mas a expressão sincera e feliz de antes nunca mais retornou. O dedo da mão esquerda já não permite mais saber que ali havia uma aliança de casamento. Alguns amores são capazes, realmente, de transformar as pessoas.
Não converso com os passageiros. É muito complicado conversar com estranhos no ônibus, sendo surdo. Na maioria das vezes que respondi a algum início de conversação com um "desculpe, eu não escuto", encerrei toda animosidade para conversar. É triste, mas as pessoas ainda não sabem como lidar com os surdos, não sabem como entabular uma conversação.
Os estudantes do Colégio Estadual voltam para casa neste ônibus, fazendo algazarra nos bancos traseiros.
Alguns inconvenientes são os passageiros que sentam abrindo as pernas, como se o ônibus fosse exclusividade deles. Eu reclamo, abro as pernas também, já disse uma centena de vezes "por favor, poderia respeitar o espaço do meu assento?". Fico penalizado com algumas mulheres, que viajam ao lado destas pessoas e vão encolhidas, algumas totalmente viradas para o corredor do ônibus. É uma situação muito chata mesmo. As únicas pessoas que ocupam o espaço do meu assento e eu não reclamo, são os gordos. Muitos gordos se encolhem para não incomodar o passageiro do lado, mas os assentos dos ônibus não comportam o biotipo deles. Se eles sentarem normalmente acabam incomodando o passageiro do lado.
Na maioria das vezes os ônibus reunem pessoas que se respeitam, se ajudam e procuram dividir em paz este espaço público.

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