quinta-feira, 24 de março de 2011

A imagem negativa de um piloto de F1

As pessoas pouco crêem que as crianças podem se abalar com algumas ocorrências esportivas. Mas, elas percebem muito bem o que está ocorrendo e entendem perfeitamente as consequências de alguns atos.
Meu filho mais novo acordava cedo aos domingos para jogar videogame, mas em muitos domingos eu já estava acordado, assistindo a Fórmula 1. Assim ele passou a acompanhar comigo as corridas, a se interessar pelos pilotos e a entender o que era box, pit stop, ultrapassagens. Era 2002, Barrichello estava em sua terceira temporada pela Ferrari, obtendo bons tempos e alimentando as esperanças dos brasileiros. Só que em maio ocorreu o desastre: no Grande Prêmio da Áustria, Barrichello estava em primeiro, com uma vantagem enorme para o segundo colocado, que era o alemão Michael Schumacher. Mas, na última volta ele reduz a velocidade e quase na linha de chegada permite que o alemão o ultrapasse e ganhe a corrida.
Meu filho, que assistia à corrida comigo, indagou:
- Porque ele fez isto?
Eu podia mentir, salvar a cara do piloto, meu filho tinha 11 anos, não era mais inocente, mas ainda não tinha muita malícia. Mas, ali, diante do olhar dele, percebi que se eu mentisse, EU é que ficaria muito mal com meu filho futuramente. Então, eu disse a verdade, tentando amenizar a frustração do garoto:
- Ele... a equipe... precisa... Bom, foi uma ordem da equipe e ele tem que respeitar o contrato. O alemão tem mais influência que ele na equipe, o contrato obriga que ele dê passagem. Ele pode ganhar corridas, desde que o alemão não seja o segundo.
Meu filho nada disse, mas pela expressão, percebi que a frustração diante da atitude do piloto foi enorme. Pensei comigo mesmo: "é novo ainda... isso passa!". Mas, quando chegou outro domingo de Fórmula 1, eu estava assistindo a corrida, (ah, sim, nós adultos gostamos de ser enganados, somos teimosos; mesmo com a marmelada do Grande Prêmio da Áustria lá estava eu de novo, assistindo corrida) meu filho acordou mas não veio assistir comigo. Preferiu ir brincar com seus bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco.
E em nenhum outro domingo ele acordou para assistir as corridas comigo. Não valia a pena assistir uma corrida em que o piloto que você admira e torce para vencer, estando em primeiro lugar, pode ser obrigado a ceder a posição para o segundo, de acordo com uma ordem de equipe.
A atitude de Barrichello dividiu sua torcida; aqueles que o apóiam mesmo após o ocorrido e aqueles que nunca o perdoaram pelo que fez. Os programas de humor, claro, o ridicularizaram demais!
Dois meses depois, assistindo ao Grande Prêmio da Inglaterra, meu filho vem e pergunta:
- Quem está ganhando a corrida, pai?
- Michael Schumacher.
- E o Barrichello?
- É o segundo... - (ah, eu mereço, eu mereço!)
Meu filho riu e foi brincar com o irmão.

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