terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Solidariedade...

Lendo um post interessante do blog do Luis Nassif, sobre a omissão de ajuda a um mendigo. Clique aqui para ir direto ao post. Se tiver paciência de ler os comentários (tem um meu comentário também), uma das comentaristas cita o blog do Marcelo Rubens Paiva  e o relato sobre casos em outros países envolvendo problemas dos cadeirantes (clique aqui para ler o post do Marcelo que, para quem não sabe, é cadeirante). O texto é prá lá de bacana!

A solidariedade do povo mineiro é excelente, principalmente em relação aos deficientes. Mesmo se for um mendigo caído no meio da rua, sempre há boas almas a carregá-lo para o passeio. E se o mesmo estiver ferido, ligação para o SAMU. Os cadeirantes vão de ônibus que tem elevador e nos que não tem elevador também, pois sempre há pessoas com boa vontade para suspender ou descer o cadeirante. É mais fácil auxiliar o cadeirante porque é uma questão de esforço físico e o próprio cadeirante instrui aos samaritanos de plantão, onde segurar corretamente para suspender a cadeira de rodas (sempre o alerta para não segurar na roda). Os cegos enfrentam um probleminha, que é o entuasiasmo da pessoa que presta a ajuda, que quando chega o ônibus, pegam no braço do cego e quase o arrastam para dentro do coletivo. Eu já percebi o constrangimento de alguns, desacostumados que são com passadas tão rápidas. Já percebi alguns cegos explicando, entre sorrisos para descontrair, que ao contrário é melhor, ou seja, ele (o cego) é que segura no braço da gente. Apesar de algumas pessoas as quais o cego pediu ajuda irem embora assim que o ônibus dela surge, muitos aguardam ali ao lado do cego, ignorando seu próprio ônibus. Os surdos enfrentam uma dificuldade maior, devido à barreira da comunicação. Os que não falam, entre mímicas, indicações, escritos, conseguem a informação de onde é uma rua ou onde é o ponto de algum ônibus. Os que falam, como eu, enfrentam o problema da pessoa, ouvindo a voz do surdo, crer que basta gritar que o surdo vai “ouvir”. Muitas vezes, eu já corrigi pessoas, ao perceber que elas estão gritando (fácil, todo mundo passa a nos encarar): “basta falar pausadamente, sem elevar a voz”. O problema é que esta correção, para leigos, sugere que eu estou ouvindo a pessoa gritar.

Uma das coisas que eu não concordo é a utilização de deficientes para pegadinhas na TV. O cadeirante que pede ajuda para atravessar a rua e quando chega do outro lado, levanta-se, agradece e vai embora andando. O surdo e  mudo que está gesticulando, pedindo alguma informação, quando estoura alguma coisa perto, além do susto ao escutar o barulho, fala normalmente: “que susto, caramba!”. E o cego, quando está sendo auxiliado a atravessar a rua, cruza com uma mulher de corpo escultural, suspende o óculos escuro e acompanha a mulher com o olhar. Isto faz com que, em grandes cidades, as pessoas não ajudam o deficiente verdadeiro por receido de estar caindo na pegadinha do deficiente falso.

Quando fui casar no civil, a moça da firma que fez o favor de telefonar para minha namorada, ao invés de dizer para me encontrar no cartório, mandou que  me encontrasse numa praça próxima. Eu saí do serviço e fui para o cartório. O encontro estava marcado para 17:00 h e já passava de 17:20 h. Então, pedi a um caminhoneiro que ligasse para mim. Era uma pessoa humilde, me encarou e perguntou:
- Ligar para você por que?
- È que eu não escuto e não tenho como usar o telefone.
- Prá falar com quem?
- Com minha namorada, que eu estou esperando aqui no cartório. Ela está atrasada.
Às vezes eu falo de uma forma muito natural, as pessoas acabam percebendo que não estou zombando. Ele pegou o número do telefone e discou.
- Com quem eu devo falar e qual é o seu nome?
- Falar com Hilda. Meu nome é Jairo.
Naqueles bons tempos não havia o celular. A comunicação era única e exclusivamente por telefone fixo; na rua, através dos orelhões, com ficha DDD.
- Ela atendeu. O que é para falar?
- Diga para ela que estou aqui na porta do cartório esperando! Pergunta se ela não vai vir mais não!
Eu consegui ler nos lábios do caminhoneiro, que tinha um porte físico avantajado, movimento labial bom e na minha imaginação, uma voz grossa e rouca:
- Dona Hilda, o moço aqui do meu lado, o Jairo, está esperando você aqui... nós estamos aqui na Praça do Cartório. Ele está perguntando porque você está demorando. Já é quase cinco e meia e o cartório fecha às seis. Isto, o moço aqui, o Jairo, que está perguntando... Tá bom.
Ele me fitou e disse:
- Ela falou para você esperar que ela já está vindo!
Me devolveu o papel com o número do telefone. Acrescentou:
- Ela disse que estava te esperando na outra praça; por isso que desencontrou.
- Eu pensei que ela desistiu de casar comigo.
Ele deu uma gargalhada alegre, que eu até parecia “escutar”!
- Ela tá vindo.
Apertei-lhe a mão e agradeci efusivamente.
- Muito obrigado ao senhor. Me ajudou de verdade!
Não perguntei-lhe o nome e no momento em que escrevo isto reclamo da minha falha. Pessoa partícipe do meu viver, apenas uma vaga imagem, uma profissão; nada mais. Mas, é a imagem da solidariedade do povo brasileiro. De pessoas que não se importam de perder um tempinho para ajudar aqueles que não têm todos os sentidos e atributos físicos perfeitos. Minha então namorada chegou, fomos ao cartório, assinamos os papéis e nos casamos. E um caminhoneiro boa praça fez parte deste momento.

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