domingo, 9 de agosto de 2009

O dia em que meu mundo ficou em silêncio...


No dia 11 de abril de 1973 entrei no Hospital Santa Marta, Formiga, MG, com quadro gravíssimo de meningite meningocócita. Dor de cabeça fortíssima, que me fazia chorar, vômitos continuados e febre, que em poucos instantes chegava a quase 40°. Neste hospital, deitado em uma maca, aguardando atendimento, 12 anos e meio, assustado, perguntei para minha madrinha:
- Cadê minha mãe?
- Ela está na outra sala! Você sabe como ela é nervosa, ela não quis ficar aqui não.
Eu apaguei. Entrei em coma. Foram as últimas palavras que penetraram em meus ouvidos.
E infelizmente, fui tratado como doente de difteria. Anos depois soube que minhas irmãs lutaram para que eu fosse transferido para Belo Horizonte, que perceberam que havia alguma coisa muito errada comigo. Fui transferido, ainda em coma, e só acordei uma semana depois, aqui em Belo Horizonte, no Centro Geral de Pediatria, atualmente Hospital Infantil João Paulo II, ali atrás do Parque Municipal. Quando acordei, meu mundo já era outro. Os sons estavam completamente mortos para mim. Um silêncio surreal dominava meu viver. Meu mundo estava em silêncio. Silêncio total.
A seqüela deixada pela meningite: surdez bilateral profunda (anacusia bilateral).
Falo normal, tenho boa dicção, leio razoavelmente bem os lábios. Mas os sons, estes morreram naquele longínquo domingo de abril de 1973. Sinto vibrações, explosões; sons bem acima dos decibéis normais. Sim, perdi a capacidade de ouvir os sons, todos os sons, mas não perdi a alegria de viver, de sorrir, de cantar, de contar histórias, de conversar fiado, de escrever, mesmo de forma amadora.
(A imagem é parte de minha última audiometria. Ambos os ouvidos com perda total.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários não passam por aprovação, mas serão apagados caso contenham termos ofensivos, palavrões, preconceitos, spam. Seja coerente ao comentar.