segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Dia das Crianças

Fusca da Polícia
Bate e volta - Estrela
Nos meus tempos de criança nunca comemorei Dia das Crianças algum. No interior, o catolicismo era muito forte e o dia 12 de outubro era tão somente o Dia de Nossa Senhora Aparecida. O que mais recordo desta data era o foguetório ao meio-dia (toda minha infância foi de ouvinte). A única data em que eu ganhava brinquedo era Natal. Nem meu aniversário era comemorado com presentes. Meus brinquedos eram simples e só conhecia carrinhos de pilha de outros. Meu primo tinha um fusca preto, bate e volta, que ligava as luzes e fazia o som da sirene de carro da polícia. Mas, para nós era um brinquedo “de olhar” e, embora eu ficasse admirando a beleza do fusquinha, eu e meu primo pouco brincávamos com este carrinho. O ideal mesmo eram os carrinhos “de Toddy”, miniaturas que acompanhavam as embalagens de Toddy. Com uma centena destes carrinhos, brincávamos no quintal de terra da casa do meu primo, horas a fio, o dia todo, até que começava a escurecer e minha tia avisava que eu tinha que ir para minha casa. O quintal da casa do meu primo hoje é todo de cimento.
Carrinhos Toddy
Também brincávamos muito com os soldadinhos e “indinhos” Toddy. Pelas imagens é perceptível que a qualidade das miniaturas era sofrível, mas não nos importávamos com isso. O importante era brincar.
Também fazíamos nossos próprios brinquedos, como futebol de botão, papagaio, carrinhos de rolimã, arquinho e carrinhos de madeira. Os de madeira eram restos de madeira da Luzitana (a madeireira que ficava na Rua 13 de Maio), pregados um em cima do outro e com rodinhas de carrinhos quebrados. Futebol de botão era feito com lentes de relógios (passávamos na Relojoaria Dilce e perguntávamos se tinha lente velha para dar).
Brinquedo artesanal
Arquinho
Arquinho era um aro de metal que conseguíamos nas oficinas mecânicas e com um arame retorcido na ponta, formando um U, rolávamos o aro e o empurrávamos com o arco. A brincadeira consistia em manobras para subir e descer o passeio sem deixar o aro cair. Em algumas ruas de terra próximas de casa, fazíamos rampas, buracos e obstáculos para brincarmos. Às vezes minha mãe pedia para ir comprar alguma coisa e eu ia e voltava empurrando o aro. Hoje, se uma criança sai com martelo e alicate do pai, tentando retorcer um arame, é um Deus nos acuda. Eu mexia com martelo, pregos, serrinha, faca, entre outros objetos terminantemente afastados das crianças de hoje. E dedos martelados, cortados e com as bolhas de sangue, que depois viravam bolhas pretas, são coisas que as crianças de hoje não conhecem.

Seriado Rin-tin-tin
O garoto Cabo Rusty e seu
cão Rin-tin-tin
As crianças de antigamente eram mais livres, soltas mesmo. Brincávamos longe de casa, vez ou outra ficávamos fora a tarde toda, só aparecendo quando a luz natural do dia ia sumindo. Entrava em casa, tomava um banho, jantava e logo depois já estava dormindo (não tinha televisão na minha casa). Na casa do meu primo tinha televisão e assistíamos Daniel Boone, Durango Kid ou Rin-tin-tin, mas tão logo acabava o seriado já voltávamos para nossos brinquedos. E muitas vezes, a brincadeira com carrinhos, soldadinhos ou o futebol na rua estavam animadas o suficiente para que sequer lembrássemos que era hora do seriado. Era difícil parar uma brincadeira por causa da tv. Na maioria das vezes, assistíamos tv porque estava chovendo, impedindo as brincadeiras de quintal e rua.
A rua, os lotes vagos, o areal do rio, os quintais vizinhos que tinham frutas, tudo era explorado. Comer goiaba, chupar jabuticaba direto da árvore frutífera. Eu já caí de árvores, cortei o pé em caco de vidro (andava descalço), dependurava em traseira de caminhão quando ele passava pela rua. Pique, amarelinha e cantigas de roda também fizeram parte da minha infância.
Soldados e índios Toddy
Hoje, a tecnologia suplantou tudo isso. As crianças estão mais ligadas em tecnologia do que em brincadeiras. Aos 9 ou 10 anos os meninos já recusam os carrinhos e as meninas, as bonecas. Alguns nunca subiram em uma árvore. Jogam mais futebol no videogame do que em um campinho com amigos. Acham muito mais divertido um iPhone do que empurrar um aro com arame retorcido. Mas, quem somos nós para julgar? Cada tempo em seu tempo. As crianças de hoje devem achar a coisa mais sem graça brincar com arquinho e o maior barato um telefone de última geração. Mas, no futuro, as crianças, filhos e filhas das crianças de hoje, considerarão o iPhone artefato de museu. Mas, não será possível ver crianças saindo de casa sem dizer aos pais exatamente aonde vão, retornando na hora do almoço, quando batia a fome, voltando para a rua novamente e só chegando em casa junto com a noite.


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