quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Um amor de meia hora


A garota sentou-se do meu lado no banco da praça:
- Por favor, finja que foi um antigo amor meu. Meu namorado chegará em instantes e ele disse... ele disse.. que é o único homem que me ama e que outro homem me amaria somente por interesses financeiros...
Fitei a garota bem vestida, com os olhos vermelhos, lacrimejando. Ela tinha um leve defeito na face, o lado direito do lábio era repuxado, causando uma estranha impressão de contrariedade. Anéis e pulseiras, colar e roupas de grife. Era uma garota de classe alta, claro. Ainda que eu fosse leigo, sabia que o colar que ela usava não era bijuteria.
- Por favor...
- Tudo bem, garota.
Ela devia ter uns 28 anos. Acredito que no desespero, nem percebeu que eu já era um quarentão. Mas, não havia mais tempo para considerações sobre idade diferenciada, pois percebi logo que o jovem que se aproximava de nós era o namorado dela. Elegante, de terno, carregando uma pasta 007. Provavelmente, advogado.
- Acredite, querida. Se você acha mesmo que é o fim da linha para nós, tudo bem, terei que aceitar numa boa.
- An... an... antes que... quero te a... a... apresentar m... m... meu ex-na... na... namorado.
O jovem arregalou os olhos. Fez uma análise de alto a baixo e pelas minhas roupas percebeu que eu era classe média baixa e foi logo destratando:
- Bom, eu disse que outra pessoa só gostaria de você por interesse financeiro...
- Rapaz, eu... – de imediato ponderei que não sabia o nome da garota – Jonah, amei muito esta garota e não foi por interesses financeiros.
O jeito que eu pronunciei meu nome alertou a garota e ela, muito esperta, sacou que não nos apresentamos.
- Para você ver, Carlos... Eu, a sua querida Janaína, não fico me vangloriando de amores passados.
- Jovem, Janaína foi um amor lindo, mas complicado, devido a diferença de classe. E também a diferença de idade. Mas, mais do que dinheiro, beleza, status social, Janaína demonstrou ser uma pessoa altruísta, inteligente e sensível. Soube apreciar o outro lado da vida, a conviver com pessoas de nível social inferior, a participar comigo de projetos de ajuda aos necessitados. Ela demonstrou que o amor não é somente criar uma redoma em volta de duas pessoas e sim participar dos momentos de um e outro.
Tanto a menina quanto o jovem me fitavam espantados.
- Sendo mais velho, fui muito carinhoso com Janaína, pois a impetuosidade e a correria da juventude muitas vezes mais atrapalham do que ajudam. Ela me amou tanto quanto eu a amei. Enfrentamos o preconceito que você destilou ao chegar; o fato de eu ser pobre e ela rica. Ela abdicou de muita coisa para estar do meu lado.
- Ah, que história!! Estou vendo que você usa aliança. Casou e não foi com ela!!
- Sim, para você ver que não havia interesse financeiro de minha parte.
- E porque não ficou com ela?
Eu ri,ganhando tempo para pensar no que dizer. Raciocinei rápido.
- Por sua culpa! Ela me dispensou assim que soube que estava balançando entre eu e você. Ela foi honesta comigo e me disse a verdade. Em nenhum momento tentou me enganar, me iludir. Nem me deixar na reserva, caso não desse certo entre vocês dois. E por isso a amei mais ainda. Eu a admiro muito por isso. Portanto, jovem, fique esperto. Pessoas como a Janaína são muito difíceis de encontrar.
Nenhum dos dois disse qualquer coisa. Ambos me fitavam estarrecidos. A menina ainda mais que o rapaz.
- É só. Adeus!
Fui me afastando sem olhar para trás.
- Jonah!!
Voltei-me e vi a garota correndo para mim. Ela me abraçou, chorando:
- Jonah, muito obrigada! Sabe... eu gostaria muito que fosse verdade tudo isso que você inventou.
- Na verdade, Janaína, o amor nos envolveu neste momento de uma forma pura e singela. Vá e seja feliz com seu garoto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários não passam por aprovação, mas serão apagados caso contenham termos ofensivos, palavrões, preconceitos, spam. Seja coerente ao comentar.