terça-feira, 2 de outubro de 2012

Contrapeso

Hoje, no meu ônibus, sentei ao lado de uma loira, jovem, mas gorda. As coxas dela invadiam grande parte do meu lado do assento. Ela tentava se espremer no assento, mas eu estava no lado do corredor e fiz também o possível para transparecer que estava tudo bem. Ainda por cima ela estava lendo um livro, o que atrapalhava mais ainda. Lembrei das gordinhas que eu conhecia, da convivência com elas. Então, a loira do meu lado deixa cair a bolsa. Pelo barulho que eu senti, estava bem pesada. E os gordos não conseguem se curvar à frente para pegar algo que cai aos pés. Ela balançou um pouco o corpo para a frente, inutilmente, claro e como à direita estava a janela do ônibus, o jeito foi se curvar para o meu lado. E de repente todos estão fitando a loira toda debruçada no meu colo, a mão esquerda, que ainda segurava o livro, apoiada na minha coxa.
Eu tive que fazer um enorme esforço para não rir da situação. A loira percebeu os olhares maliciosos dos demais passageiros e disse, toda sem graça, vermelha:
- Desculpe!
- Não, não! Tudo bem!

Lembrando desta loira gordinha, lembrei de uma outra (os nomes de todas as pessoas envolvidas são fictícios, por motivos óbvios):
Trato a todos os colegas com a mesma consideração, não importando cor, beleza, opção sexual. Num dos meus antigos trabalhos como digitador, Fátima gostava muito de conversar comigo. Ela me disse, um dia, que uma coisa que a marcou foi uma conversa nossa, quando ela chegou e disse:
- Ai, meu Deus, estou 4 kg mais gorda!
E eu disse:
- Deve ser para compensar o seu sorriso cativante.
Ela, realmente, tinha um sorriso encantador. Era muito bonita, o corpo cheinho era uma preocupação muito mais em relação à cultura da magreza do que um problema real.
Ela disse que isso a marcou porque eu encontrava encantos onde ela menos esperava.
Fátima me contava muita coisa que elas, as mulheres do setor, conversavam. Elas eram maioria, nove mulheres e somente três homens. Riam muito quando eu dizia que, na verdade, eram somente dois homens, pois o Jeremias, gay, não contava.
- Você sabe que a Marcela é apaixonada por você?
Eu comecei a rir sem parar. Marcela era gorda mesmo, muito acima do peso, simpática, mas muito retraída. Eu, que não escuto, participava muito mais das conversações com o pessoal do setor do que ela. Ela era muito calada, dava respostas monossilábicas e dificilmente emitia alguma opinião. E não eram opiniões pessoais, eram sobre o serviço que fazíamos. Eu brincava um pouco com ela, dizia que ela estava bonitona, quando ela vinha trabalhar com uma roupa pouco usual. Algumas gordinhas, aliás, são mestres em fazer umas combinações legais com as roupas, de forma que não realcem a gordura.
- Deixa de bobagem, Fátima! De onde você tirou essa idéia?
- Ela mesma que falou!
Eu ri mais ainda, incrédulo.
- Ela fala “sim”, “não”, “oi”, “bom dia”, “tchau” e vai ver que falou “Jairo” alguma coisa do serviço e você deduziu que ela é apaixonada por mim.
Fátima estava gargalhando alegremente também.
- Só você mesmo. E sabe que é quase isso mesmo? Deixa eu te contar como foi: um dia, as meninas estavam falando sobre os homens do prédio e a Rita brincou: - Esses homens do trabalho, tudo casados, ah, não. Se uma bomba explodir e matar as esposas deles eu fico com o Horácio. Nós rimos e cada uma foi falando com quem ficaria. Quando chegou na Marcela ela falou: “Jairo” e todo mundo a encarou. Ela ficou vermelhinha, baixou a cabeça. Ninguém esperava que ela fosse falar alguma coisa e ela falou.
Agora era Fátima que ria a não poder mais.
- E ela ficou muito decepcionada quando a Selena, disse que conhecia sua esposa e que sua esposa é magra. A Marcela disse, tristinha (e Fátima imitou a cara triste dela): “ou seja, sem chance, né?”
Nós dois rimos tanto que o Horácio., chefe do setor, pediu para pararmos com a conversa e trabalharmos. Ele era muito legal, tinha o respeito de todos os funcionários, só cobrava mesmo quando o período de levantamento de dados exigia prazos determinados. O setor era bastante amplo e eu e Fátima conversávamos no fundo, em voz baixa, exceto quanto gargalhávamos.
Na festa de fim de ano, que também era minha despedida pois eu ia para outro local, o pessoal fez fila para me abraçar. Marcela chegou com o seu jeito arredio, mas eu a puxei, abracei e beijei sua face, do mesmo modo como fiz com as outras meninas. E disse:
- Vou sentir sua falta, Marcela Foi muito bom trabalhar com você.
Depois, a Fátima se aproxima e ri:
- É capaz dela não lavar o rosto nunca mais!!

Hoje em dia já temos até mesmo o Concurso Miss Brasil Plus Size, que escolhe a gordinha mais bonita do Brasil. Até pouco tempo atrás era impensável um evento deste tipo.

Para saber mais do concurso clique AQUI e AQUI

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