- Verificar se não tem ratazanas ou gambás dentro da casa.
Eu avacalho:
- Imagina, dormimos juntos com os gambás. Voltar para casa
“cheirosinhos”....
- Você já viu gambá bravo? – perguntou o Ivan – Porque eles
têm dentes afiados, quase igual de gato.
- Eu já vi, sim. E lembro de um amigo me contando que um
gambá estava no muro e ele passou a mão no bicho, falando “tadinho do
gatinho...”, quando o gambá virou e mostrou os dentes para ele.
- Já matamos gambá até na Praça São Vicente Férrer. – disse
o Walter e me fitou, preocupado, lembrando da minha defesa dos passarinhos –
Ali naquelas árvores da praça tinha até gambá, mas com o tempo, eles sumiram.
- Quem pensa que o gambá é bonitinho igual aqueles pretos
com uma faixa branca está enganado. O bicho parece muito mais um rato gigante.
Parecem gatos, quando estão de costas e devido ao pêlo cinza.
Chegamos na casa da roça, o Edson e Amarildo na porta, já
com duas lamparinas, que eles tentavam acender.
- Vocês demoraram! – o Amarildo diz, nos alugando.
Rimos, ainda mais do Ivan soltando um “vai à merda!”.
A escuridão era demais. Acendíamos os isqueiros de um e
outro, mas nada das lamparinas acenderem. O Walter que virou uma das
lamparinas, molhou bastante o pavio no querosene e ela acendeu. Para mim, não
tem nada pior que escuridão excessiva. É quando eu fico “surdo” mesmo, pois não
tem como ver o que o pessoal está falando.
Arrumamos as coisas mais ou menos dentro da casa e começamos a preparar desde já a refeição. Arroz e frango. A coitada da
galinha, que veio dependurada no guidom da bicicleta nem imaginava o fim que
teria. O Edson me pergunta:
- Você sabe matar galinha?
- Saber eu sei, raspa o pescoço, dá um corte profundo, para
ela perder todo o sangue. O problema, meu amigo, é que eu detesto matar o que
quer que seja e não vou fazer isso não.
Eles debatem e eu digo:
- Ali tem um machado que facilita tudo. Pega e corta o
pescoço num golpe só. Não pode é errar.
O Ivan e o Amarildo declinaram do serviço. O Walter então
pegou o machado, levou a galinha para o quintal e cortou o pescoço dela com uma
machadada só. Nenhum de nós quis assistir ao “espetáculo”. Começamos a rir
disso. O Walter, claro, aproveitou para zoar conosco:
- Uns homões destes que não conseguem nem matar uma galinha.
– riu, enquanto exibia o “troféu” degolado.
A água já estava fervendo no fogão de lenha, para colocar a
galinha e depená-la com facilidade. Cinco homens em volta do fogão, cada um
dando um palpite, na maioria das vezes, um palpite pior que o outro. Ao limpar
a galinha, nem sabíamos se alguma coisa era ou não comestível. Toda hora o Edson,
que limpava a galinha, perguntava:
- Isto come?
Sim, não, sim, não, algumas partes ninguém sabia mesmo.
Outras, era o coração, fígado, facilmente identificáveis e comestíveis.
- Isto come? – pergunta o Edson de novo.
- Argh, isto são as tripas, cara.
Todos riem. O Walter diz:
- Mas, tem gente que come as tripas, a moela, o baço, chamam
de miúdos.
- Beleza, Walter, mas eu não vou comer isso não! – eu disse
entre risos.
Cortam corretamente as asas, as coxas, o peito, os pés. O
Amarildo fala, na maldade:
- Bom, comerei o que eu conheço especificamente das
galinhas, o peito e as coxas.
- Gosto da asa. – diz o Ivan.
- Do fígado! – diz o Edson.
- Gosto do pescoço. – diz o Walter.
Eu declamo:
- Companheiros, mesmo sendo uma galinha, devemos saborear a
parte mais importante, que é o coração!
Rimos todos.
- E você já ganhou um coração de galinha?
- Não deixa de ser um coração. Já ganhei sim.
Começam a falar de galinhas no mau sentido da palavra. Citam
nomes de garotas, algumas que eu conheço. Entre risos e gargalhadas. Uma é do
Grupo Jovem:
- Essa não acredito! – eu contesto – Ela é muito religiosa.
O pessoal ri a não poder mais.
- Ela reza para ganhar os homens! – diz o Amarildo, que não
perdoa mesmo. – Como ela reza muito, homem nunca faltou para ela...
Entre os risos do pessoal, eu também não perdôo:
- No seu caso, Amarildo, você que está sempre listando mais
uma garota na sua já enorme lista, você não seria um “galinho”?
O Amarildo leva numa boa e responde:
- Pois é, Jairo! Mas, como homem, não tenho problemas com
isso. Aliás, em alguns, até causo inveja.
O arroz, devido aos conhecimentos culinários de cada um dos
colegas, e também ao efeito etílico das bebidas, não ficou bom. Ficou parecendo
arroz de hospital, excessivamente macio, devido a água que não paravam de
colocar, mais e mais.
- Está mais parecendo pasta de arroz do que arroz – reclamou
o Ivan.
- Deixa no fogo mais um tempo, vai fazer “rapa” (queimar) no
fundo, mas vai ficar um pouco mais consistente.
A galinha ainda estava cozinhando na panela de pressão, há
um bom tempo.
- A galinha já tá boa... – disse o Amarildo.
- Negativo. – respondi – Uma galinha leva horas para
cozinhar, ainda mais em fogão de lenha. Tenha paciência.
(Relato em 4 capítulos. Continua AQUI)
(Relato em 4 capítulos. Continua AQUI)
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