Vale acrescentar que nem todo
deficiente é triste e melancólico. Reclamamos de piadinhas de desconhecidos por
isso mesmo, são pessoas desconhecidas. Não conhecem o nosso dia a dia e não
sabem as agruras que passamos. Mas, em sua maioria, os deficientes riem de suas
próprias deficiências, entre os seus iguais e amigos. Os deficientes físicos
dizem “correr”, brincam com esta palavra, mesmo que caminhar seja uma dificuldade
enorme, isso quando sequer caminham. Os cegos dizem “não vi”, ou “nunca vi nada
disso”, porque não são as palavras e as ironias da vida que magoam e sim quem
as diz e a forma como são ditas. Eu rio muito quando digo um “nunca ouvi isto”,
ou quando uma porta bate no meu setor de serviço, eu me assusto tanto quanto os
demais (com a vibração) e brinco dizendo que a pessoa que deixou a porta bater “pensa
que todo mundo é surdo!”. Na festa de final de ano do pessoal do serviço,
quando cheguei o responsável pelo som brincou:
- Se o som estiver muito alto é
só você falar, ta?
- Para mim está baixo... pode
aumentar o som.
Isto não incomoda. A pessoa em
questão me conhece, sabe das minhas dificuldades, está brincando com
conhecimento de causa, não zombando.
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