Não são considerados como parte de uma Identidade Surda, mas são um grupo de surdos específicos. São os surdos que têm problemas graves de visão, os surdos-cegos e os acometidos da Síndrome de Usher. Esta síndrome é de origem genética, com graus variáveis e associada à surdez. Presente no nascimento, a perda gradual da visão se inicia na infância ou na adolescência. A cegueira, parcial ou total, é causada pela retinose pigmentar. Uma característica marcante desta síndrome é a perda da visão periférica, das laterais, com somente a visão central permanecendo por mais tempo. Porém, como a perda é gradual, muitas vezes o surdo acaba cego e totalmente dependente de terceiros.
Somos dependentes da audição ou da visão para nos comunicarmos. Com a perda de ambos os sentidos, torna-se extremamente difícil a comunicação. Surdos que perdem a visão após aprenderem a Libras têm condições de se comunicar através do tato. Mas, o aprendizado inicial de surdos-cegos de nascença é muito complicado e não é o que vou abordar aqui.
Conheci, no meu trabalho junto aos surdos, seis surdos que tinham a síndrome. Porém, não havia um entendimento geral sobre o problema que os afetava, porque existem quatro tipos de Síndrome de Usher. Como estes seis apresentavam características diferentes, não associávamos a todos o mesmo problema. Quando um dos nossos colegas passou a ter dificuldades para trabalhar, devido a perda total periférica, procurei me informar melhor sobre o que estava ocorrendo com ele. Foi nesse momento que eu pesquisei e tomei conhecimento desta síndrome. Com auxílio do intérprete que trabalhava conosco, encaminhamos o colega para especialistas. A doença foi confirmada. Nosso colega tinha muita dificuldade de trabalhar, com digitação de dados (já não enxergava muito bem os dados no papel e consequentemente errava muito). Insistimos e o mesmo se aposentou por invalidez.
Com os demais colegas, não havendo a perda da qualidade do trabalho, só informamos que eles tinham um problema sério e que deveriam cuidar o quanto antes. Infelizmente, alguns consideraram que o problema não era a síndrome e sim problema visual. Eu explicava que não era a mesma coisa que miopia ou hipermetropia, que possibilita a correção com lentes. Um dos colegas não aceitou que tivesse esta síndrome (que ele nunca tinha “visto” falar). Mas, uma vez que já estávamos entendendo a doença, bastava sair do campo de visão central dele e perceber que ele não “encontrava” a gente, pois a visão periférica já estava comprometida.
Com o encerramento do trabalho junto aos surdos, não foi mais possível acompanhar estes colegas e a progressão da doença.
Estes são os nossos amigos surdos que enfrentam uma dificuldade ainda maior do que a simples surdez. Alguns insistem em caminhar sozinhos pela cidade, pegar ônibus, ir em associações. Porém, recusam o uso da bengala, que poderia ajudá-los bastante. Entre todos os diferentes tipos de surdez, identidades surdas e graus de deficiência, os surdos com Síndrome de Usher, são os que mais dificuldades enfrentam para continuarem sua convivência social.
Olá boa noite!!!
ResponderExcluirMeu filho é recém diagnosticado com essa doença, ainda n falei nada pra ele, mas ele já perdeu boa parte da visão periférica.
A dificuldade no dia a dia é grande. Mas, com muito amor e carinho, conseguimos nos adaptar às deficiências.
ExcluirMinha adaptação à surdez bilateral profunda só foi possível com o amor e apoio familiar. Abraço para você e seu filho.