No mês de maio publiquei diversos posts
sobre mães em homenagem ao Dia das Mães.
Agora é junho, posts de amores homenageando o Dia dos Namorados.
Esse conto (fatos reais) foi publicado
originalmente em 04/11/2011.
- William, porque você terminou com a Patrícia?
- Não dava mesmo para continuar...
- Mas, ela foi a única menina que eu
percebi que você realmente amou. Não foi um daqueles seus casos interesseiros,
de paquerar, ganhar a menina e depois largar.
- Porque você diz isso?
- Somos amigos há anos, William. Sei muito
bem quando você trata uma menina de forma diferente. Ainda mais a Patrícia, que
era presbiteriana, séria pra caramba.
- Confesso que realmente, dela, eu gostei
muito e esperava muito mais...
- Eu sei e até achava engraçado, você indo
namorar todo arrumadinho, com roupa social.
- E você nem imagina, Jairo, que ela
queria porque queria, me ensinar a comer com estilo.
- Estilo?
- Ela queria que eu usasse garfo e faca,
colher, guardanapo. Uma vez eu até procurei aprender, mas você sabe, eu detesto
este negócio de comer com estilo.
- Que estilo, meu amigo? Etiqueta.
- Que seja. Já bastava eu ter que ir
namorar de roupa social. E nem pensar em tomar uma cervejinha. A única coisa
boa é que de vez em quando ela servia um vinho dos bons.
- Essa é boa. E o que aconteceu para você
se decepcionar com ela?
- Vou te contar... foi uma coisa muito
estranha, porque foi na Igreja dela.
- O que a igreja tem a ver com isso,
William.
- Ela conhecia o pastor da Igreja do
bairro e sempre passava lá à tarde, para trocar umas ideias com o pastor. Ela “ajudava
ele” nos cultos. Para você entender melhor, lembra que eu já te falei de um tal
de Olavo?
- Sim, o ex-dela. Ex-noivo, se não me
engano. Você me contou que um dia, quando foi buscá-la na faculdade, ela estava
te esperando no carro dele. Dentro do carro dele. Você ficou uma fera, reclamou
muito, mas ela disse que eram só amigos e que ele a ajudava com trabalhos da
faculdade.
- Isso mesmo. Então, você vai entender...
Quando chegamos na igreja, à tardinha, ela me mostrou as coisas da igreja e
também uma urna. Eu perguntei para ela se a urna era para dar esmola. Ela
reclamou, dizendo que não era esmola que falava e sim dízimo. E que aquela urna
não era para isso, era para os pedidos de oração. Pegou um envelope, me mostrou
e disse. Escreva o seu pedido de oração e coloque na urna. Eu disse que não
tinha nada para pedir. Falei para ela escrever sem problemas, eu não tinha nada
para pedir mesmo e nem sabia como escrever pedido de oração. Ela me explicou
como era, pedia oração sem colocar o nome de ninguém, o que valia era o pedido.
Ela insistiu para eu escrever. Ela escreveu alguma coisa rapidamente, colocou
no envelope, depois na urna e ficou esperando que eu escrevesse algo. Enquanto
eu estava pensando no que escrever, o pastor chamou a Patrícia. Eles sumiram lá
para o interior da igreja e eu fiquei olhando o envelope dela na urna. Era uma
urna transparente e eu percebi que a tampa era só de pressão.
- Meu amigo!!! Não me diga que você...
- Ah, Jairo, eu fiquei curioso de saber o
que ela escreveu e a tampa da urna era fácil de levantar... abri a urna, peguei
o envelope dela, joguei o meu lá dentro e tampei a urna de novo. Se a Patrícia
voltasse era só jogar o envelope dela na urna, como se fosse o meu.
- Bom, o mal já estava feito... o que ela
escreveu?
- Você não vai acreditar... ela pedia
orações para os pais. E pedia que o ex-noivo voltasse, que eles reatassem o
noivado, casassem e fossem felizes.
- PQP! Você tá de brincadeira!
- Eu não podia ficar com o papel, porque
ela estava voltando junto com o pastor e eu coloquei o envelope de volta na
urna. Mas, a decepção que eu senti ao ler aquilo, Jairo! Fiquei com vontade de
xingar a Patrícia, mandar ela para... mas o pastor veio junto, me cumprimentou
educadamente, desejou que eu comparecesse no culto daquela noite.
- Você tá falando sério, William? Ela
escreveu isso mesmo? Não era o envelope de outra pessoa?
- Jairo, não tem como eu esquecer o que eu
li. E não tem como ser de outra pessoa... eu te disse que a urna era
transparente... peguei o envelope DELA, com a letra DELA.
- Por essa eu não esperava... não mesmo!
- Daí em diante, quando ela me ligava eu
dizia que estava ocupado. E uma semana depois, após eu recusar encontrá-la mais
de cinco vezes, terminamos tudo por telefone mesmo.
- Tenho que concordar com você... foi a
melhor coisa a fazer mesmo. Mas, eu não esperava isso da Patrícia! Parecia ser
uma garota cem por cento! E eu sei o quanto você foi apaixonado por ela.
- E o quanto me magoei com isso. Tanto que
não quis saber de namorar sério mais. Ela estava me usando para fazer ciúmes no
ex-noivo. O tempo todo.
- Você já se encontrou com ela depois
disso?
- Não. Se encontrar, vou perguntar: Deus
já te ajudou a casar com o seu ex?
Nós dois rimos e fomos tomar uma cerveja.
"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já..." Pablo Neruda
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já..." Pablo Neruda
Os nomes foram alterados por motivos óbvios.
Meu amigo “William” casou-se anos depois e, atualmente, é gerente
de banco aqui em BH.
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