Lembrando de coisas dos bons tempos de infância, lembrei também quando fomos numa roça, próxima de Formiga, onde minha irmã mais velha dava aulas.
Fomos eu, meu primo e minha tia. Pegamos carona no caminhão de leite. Era um caminhão Ford F600, cheio de latões de leite. Eu e meu primo entusiasmados com a viagem, principalmente por ir ali, ao lado do motorista, vendo a estrada à frente. Quando saímos da rodovia MG 050 e pegamos uma estrada de terra, havia um outro caminhão à nossa frente. O caminhão à frente levantava uma nuvem de poeira, tornando a visibilidade praticamente nula. Mas, o motorista do F600 não estava nem aí; acelerava, acompanhando a nuvem de poeira. Minha tia, preocupada, chegou a pedir ao motorista:
- Vai mais devagar, moço. Com essa poeirada não dá para ver a estrada.
- Calma, dona Madalena. Eu conheço esta estrada como a palma da minha mão. Pego esta estrada todos os dias.
- Mesmo assim. Não dá para ver nada!
O motorista riu e continuou seguindo a poeira.
Chegamos sãos e salvos na escola. Uma área arrumada para a festa. Os alunos de minha irmã fizeram apresentações, cantando, vestidos a caráter. Pais e mães admirados que os filhos estivessem participando, ativos, como "meninos da cidade". Cantaram, uma aluna e um aluno:
- "Côco de Mim, onde tu vais, olê Martim..."
E cantando, o garoto diz que vai comprar chapéu e pergunta quanto custa e a garota responde que custa um réis; o garoto reclama que está muito caro e a garota termina com um "então vai tomar banho, olê Martim". Isto arranca risos dos pais.
Depois, as três empregadinhas, que cantam sobre o trabalho, a lavadeira, a cozinheira e a passadeira. São todas atrapalhadas, deixando a água entornar, a comida queimar e o ferro estourar. Lembro que meu primo, por muitos dias, ficou a alugar esta cantilena, devido ao linguajar das alunas:
- "Somos as treis impregadinhas, gostamo muito de trabaiá..." - cantava meu primo, imitando a voz fina das alunas. Nós ríamos a não poder mais.
Ali também vimos o apreço e o respeito que os pais tinham pela minha irmã.
- Dona "Parecida", trouxe aqui um queijo para a senhora.
- Aqui tem umas broas que eu mesma fiz pra senhora.
Esta demonstração de apreço, de respeito, são os bons exemplos que levamos para toda vida. Mais do que sermões, blábláblas, a visão daqueles fazendeiros rudes, suas esposas humildes, todos tratando minha irmã com tanta deferência, foi um ensinamento perfeito. São imagens assim que moldam o caráter das crianças, pois mostram o quão valioso é ser correto na vida.